Hoje, acontece a estreia da exposição Björk Digital em São Paulo, que inclui o novo videoclipe Tabula Rasa! E nossa islandesa aproveitou a ocasião para conceder novas entrevistas ao Brasil.
Em conversa por telefone e via e-mail com o jornal O Estado de São Paulo e o UOL, ela declarou: "Amo montanhas e escaladas, mas mando mensagens via celular para os meus amigos. Adoro praia, mas assisto à Netflix. Minha vida é 50% natureza e 50% tecnologia. Não prefiro uma coisa a outra".
Sobre a escolha dos trabalhos que compõem a mostra, ela diz que faz as coisas por instinto: "Porém, depois os motivos se tornam mais óbvios", afirma. "Vulnicura é um álbum emocionalmente alienante, isolador. É como quando algo terrível acontece com a gente e ligamos para um amigo para contar um segredo. Esse disco é uma ópera do coração partido de uma pessoa só. É muito difícil explorar a emoção dele. Nunca cantei nada desse disco em programas de TV por causa disso. Mas quando uma pessoa coloca os óculos de realidade virtual e os fones de ouvido, é como se eu estivesse interpretando somente para ela. De alguém para outro alguém".
Para Björk, a inserção da tecnologia na arte é uma questão de honestidade: "Está presente em tudo, é mais sincero se a incluirmos em tudo o que fazemos. Há milhares de anos, havia uma polarização entre o bem e o mal, representados pela luz e pelas sombras. Hoje, esse conflito talvez se dê entre a natureza e a tecnologia". Para sobreviver, nós precisamos criar pontes entre as duas".
Björk foi perguntada se virá ao Brasil para a exposição, que ficará em cartaz por dois meses no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo: "Eu gostaria. Nós estamos nos organizando para que isso aconteça"
Atualmente em turnê com o show Cornucopia, ela fala dos ingredientes que formam o espetáculo e garante: "Eu adoraria voltar ao Brasil. Também estamos tentando. Eu adoraria compartilhar o Cornucopia com vocês. Meus shows estão mais físicos e teatrais do que nunca. O oposto da exposição. Reuni o mais importante das minhas experiências com realidade virtual e incorporei nele. Mas, se alguém quiser nos convidar, é só mandar uma mensagem!".
O impedimento para essa volta para nossas terras seria a situação econômica do país.
São Paulo é a 5º cidade que mais ouve Björk no Spotify |
Falando sobre os 26 anos de carreira solo, seria possível que Björk escolhesse apenas um de seus trabalhos como um favorito? Ela afirma que não:
"Todos são memórias, e cada pessoa recebe cada álbum de uma forma. É impossível saber qual disco é 'o melhor'."
Influência da tecnologia:
"Sempre me diverti com o fato de que a palavra "techno" em grego significa simplesmente "artesanato". Então, através dos séculos, fizemos nossa música com nossa voz e flautas, tambores, outros instrumentos e, eventualmente, computadores. É tudo a mesma coisa: um objeto que usamos para fazer música, com artesanato! E cabe a nós colocar alma nisso. A ferramenta não vai. Acho que por eu ser uma vocalista, eu tenho o instrumento mais clássico de todos. Então, eu sempre gosto de contrastar a variação e o progresso da tecnologia. Novos brinquedos para brincar. Às vezes, com a responsabilidade de adicionar alguma expressão. Você pode estar certo de que o exército e a indústria pornô vão usar todas as novas tecnologias! Então, os músicos deveriam moldar sua música também".
Música criada por algoritmos:
"Algoritmos são feitos de padrões biológicos que temos na natureza. Luzes, ondas do oceano, e por aí vai. Você pode argumentar que eles são "naturais" e que muitas músicas foram feitas de maneira muito frias e isso é quase "não natural". E não se esqueça que os humanos fazem os algoritmos, então alguém os programa. Eu sinto que é da natureza humana desejar música e precisar de coisas com o máximo de emoção. Nossa alma sempre desejará isso. Também confio em nós. Toda vez que na história algo opressivo aconteceu, nós encontramos uma maneira de contornar isso. Pense na Revolução Francesa ou no fato de que, 120 anos depois da proibição de escravos nos Estados Unidos, um negro se tornou presidente. Às vezes pode demorar muito e às vezes não. Mas nunca nós nos deixamos ficar presos por muito tempo".
Futuro:
"Eu acho que todas as coisas que já existiram antes, vão continuar existindo. Pessoas vão continuar cantando cantigas de ninar para as crianças, desenhando, dançando. Mas outras coisas serão adicionadas. Diversidade é fundamental no cenário global".
Quando perguntada se acha que o mundo será bom ou ruim; alegre ou sombrio, respondeu: "Acredito que um pouco de cada. Penso que não se pode ter uma coisa sem ser a outra".
Quando perguntada se acha que o mundo será bom ou ruim; alegre ou sombrio, respondeu: "Acredito que um pouco de cada. Penso que não se pode ter uma coisa sem ser a outra".
Será que algum dia a realidade virtual vai acabar com a forma como conhecemos os museus? Björk acha que não, pois ela acredita que a tecnologia vem para somar: "A fotografia não acabou com a pintura. A Netflix não fechou os cinemas. Todos podem coexistir. Algumas coisas são melhores em realidade virtual do que no cinema. Outras coisas são melhores no cinema. Pessoalmente, eu sinto que a minha ópera dramática e solitária, Vulnicura, é perfeita para a realidade virtual. Não é um álbum teatral e comemorativo como o Utopia".
--
Curiosidade: Na pré-estreia do projeto para convidados em SP, artistas como Bárbara Paz, Fernanda Takai, Maria Paula e Marjorie Estiano estiverem presentes.
Para quem visitar a exposição, o MIS distribuirá um folder especial (sujeito a disponibilidade), que se transforma em um pôster, com textos da Björk, do Zeca Camargo (jornalista, apresentador e fã da cantora desde 1992) e Cleber Papa (diretor cultural do MIS).
“Sempre acostumados a nos admirar com cada evolução musical e artística que Björk nos apresenta – que são, de fato, pequenas grandes revoluções –, não nos damos conta de que ela, na mesma medida em que nos traz todas essas novidades, também oferece uma questão ligeiramente perturbadora: para onde vai o futuro?”– Zeca Camargo 💗#BjörkNoMis #BjörkDigital.