- Devido às duas apresentações acústicas de Björk no La Seine Musicale, gostaríamos de saber mais sobre a Pasdeloup. Como foi composta para essa versão do show "Orkestral"?
Marianne Rivière: São mais de 30 instrumentos de cordas, exclusivamente violinos, violas, violoncelos e baixos. É toda a originalidade de Björk junto a grande tradição da obra "Divertimento" de Bartok, peças de Britten e Tchaikovsky.
- A Orquestra Pasdeloup está acostumada a tocar grandes repertórios clássicos, acompanhamentos de solistas líricos ou variados, peças para balé, musicais e em muitos outros números. Como foi a relação com o maestro Bjarni Frímann Bjarnason? Para você, foi um desafio em particular, ter que se adaptar tão rapidamente?
Arnaud Nuvolone: Nosso trabalho com Bjarni Frímann Bjarnason ocorreu em um clima de confiança mútua e trocas artísticas. Trabalho facilitado pela qualidade das partituras e composições, e pela flexibilidade musical da Orquestra Pasdeloup.
Benoît Marin: O sucesso do projeto está em grande parte no profissionalismo do maestro que sabe transmitir suas instruções de forma eficaz. A partitura, composta com inegável maestria, é escrita exclusivamente para um grande conjunto de cordas, o que só pode nos deliciar!
Marianne Rivière: Com as nossas madeiras, metais e percussão, estávamos preparados para este desafio, o resultado é magnífico. Nossos solistas e o maestro Bjarni Frímann Bjarnason trabalharam maravilhosamente bem com essa composição original de Björk. Entre a doçura encantadora aos sons mais intensos, fomos todos imediatamente arrebatados por essa atmosfera única.
- Como foi a colaboração com Björk? É a primeira vez que você colabora com uma artista que está no cruzamento entre o pop e a música clássica?
Marianne Rivière: A colaboração foi bastante natural, a orquestra sempre esteve na encruzilhada da excelência e da novidade, de "Carmen" com Bizet em 1875 a Björk e Barry White.
Benoît Marin: Faz parte da nossa missão atender solicitações de todos os repertórios, com eventos de estilos semelhantes no passado.
- Com quais outros artistas você já colaborou?
Arnaud Nuvolone: Na minha vida de músico, tive a chance de trabalhar no estúdio e/ou no palco com grandes artistas como Joni Mitchell, Eurythmics, Sammy Davis Jr, Lisa Ekdahl e no mundo do jazz: Jacques Loussier. Participei de muitas sessões de gravação para grandes artistas franceses (pop e de vários estilos), e música para trilhas de cinema com Michel Legrand, Georges Delerue, Alexandre Desplats e Gabriel Yared.
Marianne Rivière: A Orquestra Pasdeloup compartilha o palco ao vivo de onde quer que venha o convite, seja qual for, desde que sua profundidade musical nos emocione e, portanto, atraia o público conosco.
- No ano passado, a Pasdeloup celebrou seu 160º aniversário e tocou com muita frequência na Philharmonie de Paris e no La Seine Musicale. O programa de 2022-2023 é rico e muito variado. Entre outras coisas, inclui muitos musicais e trilhas sonoras de filmes.
Marianne Rivière: Paralelamente à música contemporânea e às obras-primas da herança clássica, muitas vezes apresentamos comédias musicais e música de filmes. Isso vai tanto de "L'homme du Large" (redescoberto pela Pasdeloup) quanto a "The Sound of Music", "My fair Lady" ou até mesmo "The Umbrellas of Cherbourg" de Michel Legrand com Nathalie Dessay.
- Em 1996, Björk cantou "It's Oh So Quiet" no programa de TV Taratata com a grande orquestra de Michel Legrand. Foi uma ocasião que nos marcou. Na sua opinião, é possível fazer conexões entre o repertório de Björk e a composição da música cinematográfica?
Benoît Marin: Claro que encontramos todos os ingredientes que os compositores de cinema gostam de usar: ritmo, repetição de fórmulas, camadas sonoras, mas nas canções dela com grande originalidade no uso do "Portamento" e um tipo de ritmo muito inventivo. As composições dela trazem uma personalidade única.
Arnaud Nuvolone: Os arranjos de Björk não fazem concessões que facilitam. Da minha parte, encontrei certas analogias na proposta musical com títulos do álbum "Travelogue" de Joni Mitchell.
- Vocês podem nos contar mais sobre como foi interpretar o repertório de Björk? Vocês tem um ou mais títulos que gostam de tocar?
Arnaud Nuvolone: O repertório de Björk é inusitado e nos leva por caminhos raramente percorridos, entre sonhos, fantasmagorias, lendas nórdicas, pop exigente. Mas a produção e interpretação não oferecem surpresas para músicos clássicos de mente aberta. Sempre me divirto muito interpretando "Bachelorette", uma faixa que já ouvi dezenas de vezes!
Benoît Marin: As músicas de Björk foram uma descoberta para mim.
Marianne Rivière: Como sempre, com uma profunda compreensão da intenção e sensibilidade da autora, compositora e intérprete. Cada faixa tem sua personalidade, sua história, suas emoções compartilhadas nas quais mergulhamos. É isso que cria o poder musical que Björk incorpora.
- A Orquestra Pasdeloup parece ter muito em seu coração o propósito de dar visibilidade para as artistas mulheres. Seja através da escolha de obras de compositoras ou da igualdade na presença delas no palco como musicistas e maestrinas. Vocês acham que isso pode ter motivado na escolha de Björk e sua equipe? Este é um tema que foi discutido?
Benoît Marin: Esse projeto está perfeitamente alinhado com a linha de programação da orquestra, e podemos supor que a escolha de Björk partiu, sobretudo, na competência de uma orquestra parisiense que mostrou saber abordar todos os repertórios e se adaptar a todas as situações.
Marianne Rivière: Sou presidente da Orquestra Pasdeloup há mais de 20 anos e, entre as mulheres muitas vezes negligenciadas pela crítica musical estreita, sabemos e experimentamos que o sublime não tem gênero. Nosso encontro com Björk imediatamente instalou a realização artística muito além de qualquer outra consideração. Quando a arte conta por si só, naturalmente as artistas mulheres se encontram lá.
- Obrigado por todas as suas respostas ricas e detalhadas. Desejamos a vocês um maravilhoso segundo concerto com Björk e Bjarni Frímann Bjarnason na sexta-feira à noite, e estamos ansiosos para conferir sua interpretação!
- Arnaud Nuvolone (violino solo), Benoît Marin (violista solista) e Marianne Rivière (violinista e presidente da Orquestra Pasdeloup) em entrevista ao site bjork.fr, junho de 2022.
Fotos: Santiago Felipe.