"Quando minha mãe se divorciou do meu pai, eu tinha um ano de idade. Nos mudamos para fora de Reykjavík, para um subúrbio onde viviam artistas, pessoas que não se encaixavam nas regras e pessoas com pouco dinheiro. Morávamos em uma casinha. Se chovia muito, tínhamos que levantar à noite para esvaziar o balde cheio d'água, mas quando crianças parecia emocionante, era uma época muito feliz.
A natureza do relacionamento entre pais e filhos é interessante: a percepção muda com o tempo. Agora que estou mais velha, entendo que ela rompeu com o patriarcado e se mudou para lá porque, embora fôssemos pobres, éramos livres.
Ela havia encontrado um trabalho muito "físico" na frente de casa, onde aprendeu a ser carpinteira. Construiu nossas camas, fez a ligação da energia, costurou nossas roupas e cozinhou.
No meu tempo de criança na Islândia comíamos mal, muito salgado, com muitos molhos e conservas, o que é normal para uma população que vive há mil anos no frio. Em vez disso, ela era tipo: "Ok, sem açúcar, apenas comida fresca. Vegetais, alimentos naturais". Na época me rebelei contra os princípios dela, mas hoje sou muito grata a ela por minha relação equilibrada com o que como.
O mais musical de todos era o meu padrasto: à noite, ele se sentava comigo e aprendíamos novas canções. Minha mãe se dedicava à filosofia e à espiritualidade, ela se interessava mais pelo meio ambiente. Na nossa casa cada pessoa era importante, não havia hierarquias, as crianças eram tão relevantes quanto os adultos e os "grandes" tinham vinte e poucos anos. Meu padrasto é apenas 17 anos mais velho que eu".
- Björk em entrevista para Vanity Fair, março de 2023.