"O Land Rover de Björk desce a estrada em uma encosta rochosa até chegarmos ao que ela chama de sua "cabana", que na verdade é uma vasta pousada de 2 andares onde ela passa férias, caminha, escreve álbuns, ensaia sextetos de clarinete e recebe festas de casamento.
Depois de estacionar, ela caminha por um lado do jardim que é cheio de plantas herbáceas perenes e bétulas. Ela então me apresenta a um trecho particular de uma praia em tom cinza. A tal cabana tem vista para um imenso lago, que surgiu há 9.000 anos na brecha entre as placas tectônicas da América do Norte e da Eurásia.
Björk lidera o caminho que leva ate uma câmara octangular coberta por camadas de telhas de madeira distribuídas de forma não regular. Esta cabana isolada, bem em frente a uma plantação de batatas, é feita sob medida para produzir sons com uma reverberação sobrenaturalmente doce. Do lado de fora, parece uma capela particular para a divindade de sua voz. Entre no lugar e os limites daquelas paredes e o piso espelhado desconcertante, pode te fazer se sentir como um astronauta treinando para viver no espaço. Em momentos agitados, esse centro sobrenatural é onde ela se esconde para cantar.
A cabine oferece um ambiente sem a necessidade de amplificação de som de palco tradicional e processamento de áudio. Foi projetada pela empresa Arup e pelo Irma Studio para a turnê "Cornucopia". A pedido de Björk, o Irma construiu e projetou uma nova versão na Islândia.
Lã densa e cores que lembram doces revestem os corredores da cabana do chão ao teto, como tufos de arco-íris e a textura do cabelo dos bonecos Troll. Metade da cabana é folclórica e rústica; o resto tem a sensação de uma casa de diversões psicodélica e fofinha.
No andar de cima fica o quarto arejado e com paredes vermelhas onde Björk começou a escrever "Fossora". É difícil acreditar que esse espaço humilde abrigava uma atividade tão sagrada – que Björk se escondeu aqui para interrogar sua alma, construir beats loucos e uma sequência de acordes usando uma biblioteca de samples construída com sua própria voz".
- Relato publicado na entrevista de Björk para Pitchfork, 2022.