Em fevereiro, durante entrevista ao Frettabladid, Björk disse que estava assumindo um certo risco financeiro ao levar sua turnê mais extensa até hoje, "Cornucopia", para a Islândia. No entanto, explicou que é importante para ela se apresentar em seu país com essa experiência musical.
A artista planejava aproveitar a oportunidade para filmar os concertos na tradicional casa de shows Laugardalshöll. Era esperado também a presença de fãs de todo o mundo nos dias 7, 10 e 13 de junho de 2023, mas infelizmente os shows foram cancelados.
"Normalmente, não se deve falar de dinheiro", disse Björk na entrevista de fevereiro ao pedir desculpas antes de apontar que ainda não havia sido realmente possível levar esse show para a Islândia. Ela tem viajado o mundo com esse espetáculo desde 2019, com um período de pausa por causa da pandemia.
Björk ressaltou na ocasião que, hoje, os custos para uma turnê desse tipo não são nada baratos. Com relação ao frete aéreo, por exemplo, tudo quadruplicou:
"Existem todos os tipos de grandes bandas por aí cancelando shows, porque custa quatro vezes mais caro levar todos os equipamentos entre os países".
E, claro, não existe uma bagagem pequena seguindo a performance de Björk: "São principalmente todos esses aparelhos e tal, então é muito caro, mas eu consigo. Pode ser um pouco complicado agora, mas vamos tentar".
Em "Cornucopia", o público é cercado por 24 telas interativas, com cortinas de LED em todo o palco enquanto Björk executa canções com um coral, flautas, clarinete, percussão e uma série de instrumentos feitos sob medida. Na Islândia, ela estaria acompanhada do Hamrahlid Choir.
Ao longo dos anos, Björk trabalhou em estreita colaboração com os principais desenvolvedores e recrutou grandes empresas no mundo digital, para unir forças na criação da tecnologia que ela usa para dar vida às suas ideias incríveis.
Ela insiste naquilo que acredita, ainda que não ganhe tanto dinheiro ou venda muitos ingressos:
"Também recebo frequentemente boa vontade extra [das empresas], porque não estou tentando vender milhões de cópias. Às vezes, não ser Beyoncé também é uma força [no sentido de não ter o mesmo orçamento e retorno financeiro]. As pessoas sabem que não estou tentando ganhar dinheiro. Estou nisso exatamente pelos motivos opostos.
Não estou falando nada negativo sobre a Beyoncé. Quero dizer que as pessoas querem colaborar comigo porque sabem que estou fazendo isso apenas para desenvolver uma determinada tecnologia. E no final, todos disseram sim [para financiar o projeto]. Então não são necessariamente os empresários que querem dinheiro. E muitas vezes, é na fase seguinte que isso cheira mal".
Björk disse na entrevista que sua filosofia por trás da fusão entre a música e o visual não surgiu em um único dia e, embora se possa supor que criar e compor canções dê muito trabalho, ela também sempre trabalhou de perto com outros especialistas do lado técnico. Questionada por que está imersa em todo o trabalho de programação, respondeu:
"Existem várias razões para isso, e talvez uma delas seja apenas a curiosidade. Também é por motivos um pouco egoístas, porque acho muito divertido conviver com nerds legais", disse ela lembrando que é algo que também faz parte de não morrer de tédio em uma longa carreira, que já ultrapassa quatro décadas.
Para o El País, Björk explicou:
"É um show muito caro! Então, estamos sempre perdidos. As turnês "Orkestral" e "Cornucopia" são complementares, uma paga a outra.
E artisticamente, também funcionam juntas! Como cantora é mais difícil fazer os shows com orquestra, porque sou eu cantando o tempo todo.
"Cornucopia" é mais teatral. Uso muitas roupas, ando pelo palco, me escondo um pouco. São dois papéis bem diferentes. Os dois concertos realmente se alimentam um do outro".
Com o cancelamento dos shows na Islândia, foi divulgada uma nota oficial.
A equipe da cantora pediu desculpas lembrando do quanto essa decisão chateou os fãs, que gastaram dinheiro com ingressos, passagens e hospedagens.
Citando "problemas inesperados de produção que não puderam ser resolvidos a tempo", a equipe garantiu que espera realizar as apresentações em Reykjavík no ano que vem. Os valores dos ingressos serão reembolsados.
"Eu sempre tento filmar cada show meu, e há várias razões pelas quais eu realmente quero gravar isso na Islândia", disse Björk ao Frettabladid em fevereiro.
Segundo a matéria, ela escolheu a cineasta Ísold Uggadóttir para dirigir, e Sara Nassim para produzir a gravação.
"Naturalmente, acredito que este é um projeto muito islandês, mesmo que seja em inglês, e eu só quero ter um pouco de ambiente islandês e um público islandês. Então, quando eu estiver velhinha sentada em uma cadeira de balanço assistindo ao filme, irei perceber que foi incrível ter filmado isso na Islândia".
A turnê continua ao longo de 2023, com 13 shows marcados entre setembro e dezembro em diversas cidades da Europa.
Que tal reconsiderar essa ideia e gravar em algumas dessas outras ocasiões, hein, Björk?
Aliás, oportunidade não faltou em 2019 e 2022. 👀
Foto: Santiago Felipe.