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Foto: Divulgação |
"Parte da harmonia dessa canção surgiu apenas de um sample do som do cuspe e da separação dos lábios de Björk, e eu pude pegar isso e transformar no que eu quisesse para que se tornasse algo incrivelmente próximo e íntimo". (Drew Daniel do Matmos).
"Vespertine é uma palavra que define o entardecer, mas também faz
alusão à véspera, a oração da noite. Eu não sou uma pessoa religiosa, mas se
eu tivesse que rezar, faria isso com esse álbum. Procuro encontrar paz
interior. A religião é o meu maior tabu porque representa autoridade. E a
Islândia é pagã, não é um país religioso. E se eu fosse dizer que tenho uma
religião, diria que é a natureza. Quando voltei para a Islândia depois de
filmar Dançando no Escuro, fiquei imaginando onde minha igreja poderia
estar e quais seriam meus rituais. Então, subi no topo de uma geleira, fiquei
de joelhos e coloquei neve na minha boca, deixei derreter. Foi como a minha
primeira comunhão, como se tivesse me tornando parte da aurora boreal,
principalmente depois que compus Aurora. Tentei imaginar a forma do meu
Deus, e a sombra da montanha na neve poderia representar isso. Existe algo
meio sagrado neste disco. É como quando estamos sozinhos em casa, e sentimos
vontade de nos ajoelhar e rezar humildemente.
"Vespertine deve ajudar as pessoas ansiosas e preocupadas. É um
ambiente muito calmo, interno, solitário, como uma canção de ninar, uma
pequena oração antes de ir para a cama. E no dia seguinte elas acordam para
começar tudo de novo. Eu queria que ele soasse como músicas que parecem nunca
parar em um lugar, sem começo nem fim. Frosti e Aurora se
complementam. Antes eu não queria fazer isso. Mas aí, percebi que isso é como
uma reflexão do que acontece dentro de mim. É como se cada canção fosse um
personagem que aparece me dizendo: "Olá, eu sou assim". Em Homogenic, o
processo foi meio esse, elas buscavam atenção, tipo: "Me escute quando eu
estiver falando!". Muitas pessoas têm medo de serem abandonadas, têm medo da
solidão, entram em depressão, parecem se sentir fortes apenas quando estão
inseridas em grupos, mas comigo não funciona assim. A felicidade pode estar em
todas as situações, a solidão pode me fazer feliz. Este álbum é uma maneira de
mostrar isso".
Fonte: Rolandus, Les Inrockuptibles;