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As histórias das canções escolhidas para o show Björk Orkestral

Dando início a nova turnê da islandesa, a ideia desse espetáculo é apoiar o abrigo que acolhe mulheres em Reykjavík, celebrar os músicos locais que colaboraram com a artista ao longo dos anos e reconhecer os arranjos incríveis que ela criou em todas as fases da carreira. 

A residência foi acompanhada pelo projeto Digital Score Month, que inclui obras dela e de vários músicos de sua terra natal: "Pedi a amigos e compositores islandeses talentosos que compartilhassem suas partituras conosco. A maioria delas, na verdade, de senhoras islandesas, mas todos os gêneros são bem-vindos. Mais artistas estão se justando a cada dia. Eu só queria chamar a atenção para a música islandesa em todos os estilos, e que às vezes esse material é difícil de encontrar em um só lugar. Por isso, reunimos 117 partituras da Islândia em uma plataforma digital para você imprimir e tocar no conforto da sua casa!!! Estou ansiosa para ouvir sua interpretação delas", explicou Björk". 

Nos dias que antecederam as apresentações, Björk compartilhou nas redes sociais curiosidades sobre o repertório do show. Foi a volta dela aos palcos após 22 meses devido à situação da pandemia. Em entrevista, definiu o 1º concerto como "uma hora de doçura", o 2º como "sentimental", o 3º como "esotérico" e o 4º como "pura tragédia". 

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Total: 46 músicas.

Debut: 4
Post: 3
Homogenic: 6
Selmasongs: 2
Vespertine: 7
Medúlla: 7
Volta: 2
Biophilia: 2
Vulnicura: 7
Utopia: 6

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1. Stonemilker: "Compus em uma praia ao lado da região de Grótta em 2012, que fica bem perto do Harpa Music Hall, local em que iremos nos apresentar. Para mim, essa música é cíclica, uma espécie de "mini-fuga", então perguntei ao diretor Andy Huang, que fez o clipe comigo, se eu poderia andar em volta da câmera em círculos, incluindo no vídeo o panorama da paisagem que nos cercava. Há uma tentativa emocional de ser inclusivo, com um movimento circular, unindo tudo entre duas pessoas". 

2. Aurora: "Escrevi essa no Sibelius, um software que adquiri e me apaixonei em 1999. Tenho usado desde então. Estou animada por ter no show o arranjo original com harpa, que será tocado tanto em uma harpa quanto por 32 músicos em cordas em Pizzicato. É uma forma de "exagerar" as geadas "mágicas" que me entusiasmaram quando escrevi. Criei a seção do meio em uma cabana que fiquei durante o inverno, em Borgarfjörður. Lembro que a sombra da montanha cobriu todo o vale, e tentei adorar o formato dela. Desde então, quando canto essa parte, sempre me lembro daquele lugar e da humildade que tanto desejava naquele momento". 

3. I've Seen It All: "Eu me lembro da melodia dessa música girando na minha cabeça por um ou dois anos, com partes do arranjo de cordas. Lembro de uma noite de alegria e não tão sóbria em Londres, na qual cantei com força total debaixo de uma ponte em uma reverberação maravilhosa. Quero fazer uma confissão. Naquela época, eu ouvia sem parar a obra Pavane Pour Infante Defunte de Ravel. Fiquei profundamente inspirada pelo clima daquilo, aquela enorme, majestosa e maravilhosa humildade. Depois de expressar o lado muscular de Homogenic, foi um prazer estabelecer uma busca pelos sinais que estão dentro de uma imensa doçura... ou pelo menos tentar". 

4. Sun In My Mouth: "Foi escrita em um dia de improvisações no estúdio com Guy Sigsworth. Eu tinha selecionado livros de poesia e poemas de amigos. Harm of Will e Mother Heroic surgiram no mesmo dia. Quando ouço essas faixas, escuto a conexão entre eu e Guy naquele instante, junto ao lado sublime das palavras de E. E. Cummings. Mas também lembro de um momento, quando saí de um certo estúdio de cinema e recuperei os direitos da minha música. Foi o momento em que assumi o poder para me manifestar. O relógio do Me Too dentro de mim foi ajustado, para ser ativado 18 anos depois". 

5. You've Been Flirting Again: "Esse arranjo veio até mim depois de trabalhar com Eumir Deodato em Isobel e Hyperballad. Canções que eu costumava tocar e cantar para ele as linhas dos arranjos de cordas que criei, e então ele as orquestrava. Mas mesmo que o arranjo de cordas em You've Been Flirting Again seja simples, foi um grande passo para que eu pudesse encontrar a minha própria voz no que diz respeito a arranjos de cordas, e nesse sentido foi o início daqueles que escrevi para Jóga, 5 Years e Sod Off de Homogenic, que achei mais "islandeses"... ou seria mais "eu"?". 

6. Isobel: "Eu me lembro que enquanto escrevia a melodia em Reykjavík, ao lado da janela da minha casa em Tryggvagata, não estava apenas tentando fazer algo apaixonado, mas também uma coisa que tinha que conter alguma piada estranha e graciosa, sabe? Tentei explicar por horas e horas para (o poeta e amigo) Sjón quem era essa criatura Isobel, e como esse humor era essencial. Em retrospecto, sinto que foi minha maneira de lidar com a criatura mítica que me tornei para a mídia, meio que escrevendo uma canção irônica sobre uma persona de realidade mágica. E talvez me permitindo ser a autora dela, poderia possuí-la e desviar da minha posição de vitima. Da mesma forma, Isobel era 8% do álbum, então de alguma forma eu estava revelando quanto de mim iria assumir essa persona no futuro. Para os outros 92% restantes, eu queria ser várias outras personagens, e a maioria delas estavam escondidas. Mas talvez todas as coisas irônicas tenham um fundo de verdade, e com certeza a história de uma garota que deixa a Islândia de forma impulsiva e instintiva, para seguir até uma cidade fria e calculista, não estava totalmente distante, né?". 

7. Hyperballad: "Tive a ideia para essa letra no meu diário por algum tempo. Lembro de estar no estúdio de Nellee Hooper um dia, e encaixá-la como uma luva em uma nova melodia. Recentemente, li livros junguianos sobre o conceito de Sombra. Me parece que combina muito bem com essa ideia. Definitivamente, eu não estava ciente dessas teorias quando a compus. Eu acho que fala sobre como em um relacionamento, a gente isola a nossa sombra, como lidamos com isso por conta própria, ainda se nosso parceiro ou nós mesmos não permitirmos que entre (em nossas vidas). Ou a encaramos com firmeza em uma "rotina inocente" como proposto na letra? Acho que é uma tentativa de criar um limite e, portanto, é possível realmente voltarmos e sermos generosos". 

8. Harm of Will: "Depois de compor a letra no improviso, passei meses escrevendo o arranjo de cordas. Pessoalmente, foi um momento importante para mim como arranjadora de cordas. Eu não estava buscando a grandiosidade, como as melodias das cordas dos refrões de Jóga ou Isobel. Optei por uma abordagem menos abstrata para a melodia. Eu queria que houvesse nuvens de exaltação, com uma energia erótica indo e vindo, mas sem comprometer ou restringir a nada sólido". 

9. Bachelorette: "É a terceira parte de uma série de 3 músicas. Human Behaviour é a infância. Isobel fala sobre a história de uma garota, que deixa a natureza pela cidade grande. Ela é movida por impulso, incompreendida na lógica urbana. É o instinto versus o lado lógico. Ela fica esgotada daquilo, e então volta para o campo para se curar e se isolar, mas treina mariposas para voltar até a cidade e voar na frente dos rostos das pessoas que estão presas a ideia de sempre fazer muito sentido. Ela diz a eles: "na na na na", até que saiam dessa. Bachelorette é sobre seguir as mariposas, voltar novamente à cidade, mas com a ferida cicatrizada. Alguém que está mais sábia para confrontar a frieza com amor. Portanto, eu queria que os arranjos fossem românticos, tão épicos quanto possível, o drama mais grandioso de todos, mas ainda com amor". 

10. Unison: "Com essa canção, eu estava muito ansiosa para tentar capturar uma caminhada mágica, como se a gente estivesse andando em uma floresta exaltados, uma das poucas vezes em que as forças da harmonia e do equilíbrio estão realmente vindo em nossa direção. A linha de baixo do arranjo foi uma tentativa de representar esse tipo de caminhada em um transe lento. Na época, foi uma emoção contrária a uma grande luta que eu tinha acabado de enfrentar. O "derretimento" após um conflito de longo prazo ou a tentativa de um. Às vezes, quando queremos muito algo, apenas precisamos fazer um "modelo musical" e depois seguir em direção a isso". 

11. Show Me Forgiveness: "Acho que essa é autoexplicativa. Hmm... a letra meio que diz tudo. Desde o início, sinto que eu sabia muito bem que não deveria ter arranjos ou instrumentos, então não tenho nenhuma história sobre partituras dela, exceto por uma parte da estrutura interna, na qual a inferior corresponde com a interior. 

Eu queria que a melodia fosse como uma bola que sobe e desce, para que houvesse uma extensão na primeira nota, daí em seguida seria como se a gravidade a puxasse para baixo, fazendo com que se enrolasse novamente. Talvez algo semelhante à melodia de Utopia e várias outras canções minhas". 

12. Pleasure Is All Mine: "14 meses depois da última vez que dei à luz, resolvi me presentear, uma viagem para um estúdio em La Gomera, uma floresta úmida que fica em uma ilha no Atlântico. Essa faixa é sobre a generosidade das mulheres. Se você ajustasse o desapego e a generosidade em até um milhão, o que seria essa experiência? Como o solo de guitarra de uma anfitriã! Essa música fala do ego do altruísmo nas mulheres (eu incluída), se isso faz qualquer sentido. 

Eu queria que o arranjo do coro parecesse quase "assombrado" pela feminilidade, "possuído" como em Wuthering Heights (O Morro dos Ventos Uivantes). Lembro de estar na ilha, bebendo meu café da manhã, depois de nadar bastante no oceano e de amamentar. Fiquei na frente do microfone, abrindo minha boca, inclinando levemente a cabeça para trás, tentando fazer sons que se conectassem com o meu interior, deixando o ar correr por mim. Quem dá mais?".  

13. Hidden Place: "Foi escrita do ponto de vista de se apaixonar secretamente por alguém, e não ser capaz de expressar isso. Então eu queria fazer do arranjo uma corrente grossa, que está suprimida debaixo da terra. Como um tabu, um amor não exposto, uma cobra muscular fossorial escondida". 

14. Cosmogony: "Quando terminei de escrever Biophilia, percebi que precisava de um tema universal, uma música tema para os aplicativos, como se estivesse em um filme, e esta é a faixa para isso. Eu inventei uma teoria caseira de que para os egípcios, judeus, as primeiras nações de pessoas, todas as tribos; os seus mitos de criação eram a sua ciência. E que o Big Bang foi simplesmente o mito da criação da nossa civilização e daqui alguns séculos, as pessoas nos achariam ingênuos. 

Mencionei isso para Sjón, que então escreveu a letra. Eu queria que a introdução e o final do coro fossem como planetas em órbita, deslizando em curvas. E para os metais, imaginei um hino nacional para a galáxia, se é que existe tal coisa". 

15. Sonnets/Unrealities XI: "No quarto de hotel, escrevi toda a melodia usando o meu ditafone/gravador em um único take, apenas seguindo o poema de E. E Cummings. Sinto que de todas as minhas melodias, essa é provavelmente a mais jazz? Penso que tive a fantasia de ouvir um dia essas palavras nesse estilo.  

É uma coisa tão estranha cantar uma letra sobre algo do pior cenário possível, quando o que está acontecendo na sua vida é o total oposto e a verdade. Quando se está completamente segura em um relacionamento, e então imaginamos o horror de aquilo acabar. A síndrome de estar sempre "carregando um vaso precioso pela rua". Isso 10 anos antes de realmente acontecer em Vulnicura". 

16. Unravel: "É uma letra que eu já tinha no meu diário há algum tempo. É obviamente sobre relacionamentos de longa distância. Eu e Guy Sigsworth queríamos que o arranjo soasse como se algo estivesse se desenrolando, um eixo eletrônico. Iremos tocar essa canção em um acordeão, que com seu ótimo acesso ao oxigênio será capaz de representar isso muito bem". 

17. Vertebrae By Vertebrae: "Em retrospecto, é provavelmente sobre Kundalini Yoga, que comecei a praticar naquela época e ainda faço. Fala do milagre de levantar a coluna e respirar excessivamente, as sensações que surgem a partir disso são milagrosas! Então, nos meus arranjos, eu estava buscando o máximo de energia possível. "Kundalini" significa a cobra na espinha, e o acesso a isso recarrega nossos quadris imensamente". 

18. Oceania: "Compus para as Olimpíadas, então meu estranho senso de humor foi direto para Tom e Jerry competindo entre 2 pianos, como se fosse um esporte. Aqueles espaços extremos entre as minhas frases, eram primeiramente essas "corridas de piano". Só depois, quando o foco da canção se voltou para (os jogos na) Grécia, decidi transformá-los em ninfas, em sirenes voando e se lamentando no céu. 

Pedi a Sjón para escrever a letra, e como não sou do tipo ligada a esportes, solicitei que ele fizesse isso do ponto de vista da figura do Oceano, que envolve e une todos os países. Ainda tenho aquela sensação de "exuberância" ao cantar o trecho: "Seu suor é salgado. Eu sou o porquê!". Isso na posição do Oceano falando com todos os humanos. Aquelas longas notas de fermata eram eu indo ao Mediterrâneo (Eu sou Fenícia... mas há 2.000 anos, então isso é um pouco forçado)". 

19. Who Is It: "É sobre a celebração de quando encontramos o amor e sentimos que isso nos completa, que nos faz voltar ao que deveríamos ser. Portanto, "devolveu a minha coroa". No arranjo, eu queria grandeza. Tentei torná-lo grande, mas simples para combinar com o "humor" dessa faixa". 

20. Mouth's Cradle: "Essa música é sobre amamentação. Um "feto fantasma", que chegou com a "energia prangsta" que os bebês têm. Um tipo de humor super forte, mas extremamente gentil. Eu queria que o arranjo soasse divertido. Estava tentando fazer com que o caráter irregular das frases, representasse um recém-nascido. Um espírito na forma líquida, ainda sem ter coagulado, então eu quis captar aquele sentimento totalmente novo. E o mais importante: é um hino sobre nutrir. Celebrar a boca e os dentes, que são como uma "escada" até isso. E por último, mas não menos importante: A nutrição que estamos recebendo, bem como os provedores que somos". 

21. Where Is The Line: "Existe um padrão nas minhas melodias que revelam um DNA islandês. Esse modelo e irregularidade se parece com uma "cobra", que eu e o coral de metal iremos cantar. Isso me lembra os talhos na madeira nas colunas das camas no Museu Nacional daqui. Nas canções folclóricas da Islândia, é bastante comum que se tenha compassos em um tempo irregular (5/4, 4/4, 3/4 e assim em diante, para frente e para trás). 

Essa faixa é também um tipo estranho de "piada musical" misturando death metal, techno e a tradição do coral da minha terra natal. Para mim, a letra é sobre o absurdo de se repreender alguém (quando nós mesmos não somos nenhum anjo). E eu acredito que esse estranho humor na fusão de gêneros musicais, era supostamente para representar isso. Além de tudo, a pessoa que estou repreendendo nessa história é meio metaleira". 

22. Human Behaviour: "Eu escrevi a melodia dessa música quando ainda estava nos Sugarcubes. Eu a chamava de Marsinn Minn, e meio que nunca havia terminado. Apesar disso, guardei por um tempo. Poucos anos depois, quando compus a letra, senti que havia encontrado a combinação para aquilo. As palavras que cantei são sobre os seres humanos, principalmente os adultos, analisados do ponto de vista de uma criança. Foi por isso que pedi a Michel Gondry para fazer um vídeo do ponto de vista dos animais. Todos molhados e peludos". 

23. New World: "Essa é uma melodia que estava girando na minha cabeça por um longo tempo. Tentei ter alguma clareza sobre isso. Então, apenas observei de modo simples o círculo de quintas, para ver através dos acordes. Como quando encostamos em uma superfície de vidro e podemos ouvir aquele "som claro", sem nenhuma bagagem. Um novo começo". 

24. Utopia: "É  uma oferta de ficção científica para um novo mundo. É sobre mulheres e crianças chegando a uma ilha começando um novo ambiente sem agressão e violência. Um manifesto pós-apocalíptico otimista: Pássaros que podem ter sofrido uma fusão com as flores. Humanos que se tornaram mutantes de flauta. Mas é um lugar harmonioso e esperançoso. Eu queria o arranjo de flauta para representar esse tipo de tecelagem". 

25. Tabula Rasa: "A tábula rasa (no sentido de uma "folha em branco") é algo que acontece na Utopia. É uma canção que escrevi para a minha filha. Fala de assumir traumas geracionais e esclarecê-los, na esperança de dar às meninas o mínimo de bagagem possível para o futuro delas. Tentei fazer com que o oxigênio das flautas tecesse um acorde de cura, quase como se pudesse nos hiperventilar em direção a isso".

26. The Gate: "É sobre o fluxo de amor no peito entre dois amantes. Vulnicura, o álbum anterior, falava sobre a cura de uma ferida no peito por causa do coração partido, e The Gate trata da energia dela se revertendo e se tornando em uma espécie de "portão", no qual o amor pode ser dado e recebido. 
Eu queria que o arranjo projetasse prismas, como quando estamos em um vazio e a chegada do primeiro feixe de luz irrompe a escuridão e forma esse prisma ao nosso redor, que se espalha com generosidade. O arranjo das flautas funciona da mesma maneira". 

27. Courtship: "Quando eu teci todos os arranjos de flauta, fiquei super obcecada por padrões e texturas, e depois gravei. Quando ouvi tudo consecutivamente, descobri que os beats tinham que ser o oposto daquele lado fofinho. Que precisavam ter o dobro da velocidade, um estilo 'techno italiano', afiado e desagradável. Eu expliquei isso para Arca e foi extremamente satisfatório quando ela obviamente acertou em cheio...em apenas um único dia! Naquele dia, estávamos dançando loucamente por toda parte". 

28. Sue Me: "Eu estava animada em tentar uma rave de flautas, como Quicksand no Vulnicura foi para as cordas. Para provar de alguma forma que as flautas podem ser techno, e que são muito dinâmicas e diversas. Em todos os diferentes arranjos, tentei cobrir o lado romântico, o humor, a balada, o agressivo e o vibrato. Todos com um som moderno, extremamente apaixonado. Em Sue Me, eu estava indo para um 'raio de luz' mais de confronto". 

29. Generous Palmstroke: "É sobre adorarmos a pessoa que amamos, e como isso inclui cair de joelhos diante dela. Além disso, de uma forma bem-humorada, aponta que é algo que se torna uma religião. Então, eu queria que a música fosse como um "salmo folclórico", uma canção do trovadorismo medieval, que alguém tocaria em um alaúde ou algo assim. Daí escrevi e fiz os arranjos, com acordes simples, e Zeena Parkins levou para o próximo nível, como ela sempre faz". 

30. Aeroplane: "Eu tenho escrito arranjos de sopro já há alguns anos na Islândia. The Anchor Song, Aeroplane... Primeiramente, ensaiei com meus arranjos simples com músicos islandeses, por volta de 1989 ou algo assim. 

Acabei pedindo a Oliver Lake, do quarteto de saxofones, que pegasse os meus arranjos e elaborasse em cima disso. E ele tocou no álbum. Então pode-se dizer que esses arranjos de sopro foram meus primeiros passos no mundo dos arranjos". 
 
31. Wanderlust: "Essa foi escrita quando comprei um barco e morei nele por um tempo, navegando entre ilhas e cidades. Vivi perto de alguns portos, em uma época em que era fácil se apaixonar pela sinfonia das buzinas/apitos das embarcações. 

Reuni samples daquele som, coloquei em um pequeno kit de bateria eletrônica e fiquei brincando com isso. E então me tornei obcecada pelos padrões de código morse. Chamei as garotas maravilhosas do grupo Wonderbrass para tocar na faixa. Eu recomendo fazer isso no código morse em Staccato, em instrumentos de sopro se você estiver ansioso por algo exuberante".

32. Pagan Poetry: "É sobre encontrar alguém pela primeira vez, se apaixonar e pegar sua energia subconsciente. O ritmo, os passos, a graça, o lado gentil e o obscuro, e descobrir que o subconsciente de alguém pode facilmente corresponder a isso. Eu queria que o arranjo de harpa fosse sobre esse "bordado de amor", quando duas pessoas começam a "tecer" seu núcleo juntas. Passei um tempão nisso. Pode ter sido meu primeiro sonho molhado no software Sibelius".  

33. Losss: "É uma espécie de blues. De certa forma, é um encerramento para Pagan Poetry, como um gêmeo binário obscuro, o luto de um amor. E provavelmente, passei a mesma quantidade de tempo (na produção) que nas harpas de Pagan Poetry. Agora eu estava tecendo flautas em laços de tristeza". 

34. Mutual Core: "É sobre as placas tectônicas de um lago na Islândia, chamado Þingvallavatn. Elas realmente se separam, na mesma velocidade que uma unha cresce. Uma representa a Europa e a outra a América do Norte. Tentei retratá-las na batida, como se a energia magnética se dissolvesse. Os deslizes nos metais do refrão da canção são também sobre essa separação". 

35. The Anchor Song: "Escrevi quando me mudei para minha casa perto do porto. Eu estava em êxtase! Tive um sonho sobre mergulhar no oceano à noite e lançar a âncora lá. Então, essa canção fala sobre a satisfação de criar raízes, encontrar um lar e pertencer a esse lugar. Certa vez, eu disse para minha avó, que foi uma pintora amadora, que essa música é também baseada nas cores e composições de seus quadros. Ela simplesmente olhou para mim e disse: "eu sei"". 

36. Jóga: "Foi escrita para a minha melhor amiga, Jóga. No meio do inverno, fui sozinha para uma cabana, local em que fiquei por uma semana. Meu pai me deixou lá. Lembro especialmente de uma noite épica. Eu estava caminhando na neve. As luzes vindo ao norte acima da montanha Ingölfsfjall, com nuvens ao redor e a cidade refletindo nela no fundo do horizonte. Era a minha mais corajosa (composição de arranjo) até então. 

Naquele momento, eu tinha feito um acorde, tocando as melodias da primeira parte do violino e das violas com dedos "desajeitados" no piano. Provavelmente, demorei um ano até encontrar as palavras certas para o refrão: "Estado de Emergência". Eu estava descendo uma colina no sul da Espanha por volta da meia-noite, cantando o refrão repetidamente, tentando descobrir o que corresponderia a essas vogais e à intenção emocional que Jóga merecia". 

37. Come to Me: "Escrevi para dois amigos meus que eu sentia que queria proteger. Minha intenção era que a música fosse como um "cobertor de veludo" enrolado ao redor deles. Talvin Singh levou essa canção e Venus As A Boy para Mumbai, e foi o diretor musical em uma gravação de arranjo de cordas por Sureh Sathe

Estávamos fazendo tudo com um orçamento muito baixo, então não podíamos nos dar ao luxo de irmos nós mesmos até lá. Talvin voltou com uma Fita Cassete DAT e explodiu completamente as nossas mentes (com o resultado)!". 

38. Hunter: "Compus essa quando escapei dos paparazzi de Londres e me mudei para um estúdio no sul da Espanha. Estava "marchando" para cima e para baixo nas praias vazias no inverno, reivindicando território, acredito eu. Fala sobre a energia que a maioria dos músicos que fazem turnês, reconhecem depois de se apresentarem por um longo tempo. 

A gente volta a escrever e temos de ir à caça de melodias, para que possamos prover algo para a nossa equipe. Voltei para o estúdio com a melodia dessa faixa marcial. Mark Bell tocou bolero de Ravel... Ele pegou seu instrumento TR-909 e escreveu o ritmo em um único take. Os fanáticos por 909 ainda elogiam isso para mim". 

39. Lionsong: "Eu tinha alugado uma cabana fora de Reykjavík, em Heiðmörk. Fui caminhar sob a proteção das árvores, "abrindo" a minha garganta e inclinando a cabeça para trás pensando: "Eu queria que o ar fluísse ao máximo através do meu corpo e sem obstáculos para fora da minha boca". 

Passei eras no arranjo de cordas, que é baseado em improvisações vocais. Queria dar um passo adiante com meus arranjos, baseá-los mais na forma narrativa da minha voz do que nos acordes de fundo. O arranjo é, provavelmente, também influenciado pela floresta de Bétulas pela qual eu tinha passado. Minha primeira música em "árvores de escala humana" depois da escala galáctica de Biophillia". 

40. History of Touches: "É um poema sobre a primeira vez que um relacionamento, o qual você reuniu essência para durar cinco vidas, está prestes a acabar. No lugar de ir na direção do futuro, você chega até o ponto final e então olha para trás. Daí o cérebro faz uma coisa engraçada de auto sobrevivência, passando por todas as suas memórias como um diário, restaurando-as para que pudesse ver todas as vezes em que fizeram amor, uma espécie de flash na sua frente. Continuei ouvindo esse som, como dedos virando as páginas desse diário, e tentamos basear os arranjos nisso. O cérebro meio "acelerado" pelo trauma". 

41. Black Lake: "Lembro de escrever essa música em um SPA no Japão em uma primavera quente. Isso foi como o lado mais "fundo" do meu coração partido, junto ao Jetlag. Não vinha conseguindo dormir por uma semana ou até mais. Daí à noite, andava pela área desse espaço geotérmico, e então adicionava verso após verso. Foi uma redenção absoluta. Eu queria ter as cordas no começo, e que o final fosse quase como uma pintura antiga, na qual a tela se desfizesse e pudéssemos ver através dela. 

Ainda hoje, quando peço aos músicos para tocarem essa faixa, solicito que façam isso com a mão esquerda ou como se suas mãos estivessem quebradas... Então tem os "congelamentos", acordes longos em que estamos tão paralisados com a tristeza, que é quase como se não pudéssemos nos mover. E aí no meio da música, reunimos a coragem para nos expressarmos apaixonadamente. Mas mesmo assim, espero que essa música seja um pouco como uma pintura antiga vista através de uma tela do Século XXI". 

42. Mouth Mantra: "No Vulnicura, a orquestra era incomum, pois tinha 5 violoncelos, 5 violas e 5 violinos. E a maioria delas tem cerca de 30 violinos, 12 violas e 6 violoncelos. Isso era porque eu queria um "som escuro e turvo", para combinar com o peso da tristeza em um álbum sobre desgosto. Mouth Mantra não é sobre um coração partido. Essa é uma canção que escrevi um tempo antes, sobre como é ter que passar por uma cirurgia de nódulo vocal. 

A letra fala de todos os momentos que cantei e todas as notas altas. Minha garganta me permitiu cantar e eu tenho gratidão por isso, aprecio todo o ar que passou por ela. Então nessa música, decidi adicionar o timbre do álbum como um todo. E é aqui que eu faria essas cordas profundas, "lamacentas" e as mais densas possíveis. Levei meses para torná-las mais rítmicas, adicionando atrito e acordes "grossos", como são os nódulos".  

43. Quicksand: "É sobre minha mãe e a relação mãe e filha. Quando a mãe é a pessimista e a filha a otimista. Eu queria que o arranjo fosse um feixe de luz, que quase cegasse com tanto brilho, e então exagerando no encorajamento no meio da música, que resultaria em uma terceira sessão da faixa. Mas também queria ser honesta sobre as falhas dos otimistas: "Quando estamos quebrados, estamos inteiros. E quando estamos inteiros, estamos quebrados". (A sombra do otimista? Ou o sol do niilista?). Agora quem é que está completo? Às vezes, todos nós desempenhamos papéis tão estranhos". 

44. 5 Years: "O arranjo de cordas dessa foi feito quando eu estava bem imersa no Homogenic e queria levá-lo ainda mais a dimensão geométrica, criando quadrados e formas triangulares no som. É como um sintetizador com diferentes osciladores. Essa música é sobre alguém que não teve coragem de amar, então eu acho que a narradora está meio que repreendendo essa pessoa. Eu queria que fosse fria e distante. Assim, o arranjo deveria ser o oposto de Jóga e Bachelorette, que eram muito apaixonadas e abertas. Portanto, 5 Years é mais como um affair robótico e não vibrato". 

45. Pluto: "Quando escrevi essa música, eu já tinha acabado o Homogenic. Sentia que precisava de uma canção explosiva e cheia de catarse no final. Eu havia recentemente comprado meu primeiro Nord Lead, e em um dia ensolarado na Espanha montanhosa, coloquei o sintetizador na varanda e fiquei na sacada curtindo a vista até a África.  

Depois gravei os diferentes riffs de sintetizador de arpejo que reuni, escrevi a melodia e a letra, trouxe para o estúdio e Mark Bell ajustou e colocou uma batida por baixo disso. Eumir Deodato então escreveu o arranjo de cordas, com base nas notas dos meus vocais de apoio. Aproveitando, também gostaria de agradecer a preparação das partituras de Matt Robertson. Ele fez um trabalho maravilhoso com meus acordes do sintetizador ao orquestrá-los para o show. Enfim, acho que o arranjo de Pluto é uma fusão dos meus vocais de apoio e meus riffs de sintetizador que criei no Nord Lead, se é que isso faz algum sentido". 

46. Notget: "É a sexta e última música da saga do coração partido narrada em Vulnicura. Eu queria que fosse o manifesto de alguém que acredita no amor. Que se nos unirmos no amor, então experimentaremos o tal "para sempre", mas se você é alguém que não ama, você teme a morte. (Um tipo de canção "albino gótica", eu acho). 

Essa faixa foi a minha primeira colaboração com a Arca que dividimos as funções 50/50. Eu editei uma música dela que já estava pronta, juntei com a minha e então o arranjo de cordas foi inspirado por momentos de ambas nessa coordenada, na qual a Venezuela e a Islândia se encontram". 

Foto: Santiago Felipe.

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Há 30 anos , era lançado "Debut", o primeiro álbum da carreira solo de Björk : "Esse disco tem memórias e melodias da minha infância e adolescência. No minuto em que decidi seguir sozinha, tive problemas com a autoindulgência disso. Era a história da garota que deixou a Islândia, que queria lançar sua própria música para o resto do mundo. Comecei a escrever como uma estrutura livre na natureza, por conta própria, na introversão". Foi assim que a islandesa refletiu sobre "Debut" em 2022, durante entrevista ao podcast Sonic Symbolism: "Eu só poderia fazer isso com algum tipo de senso de humor, transformando-o em algo como uma história de mitologia. O álbum tem melodias e coisas que eu escrevi durante anos, então trouxe muitas memórias desse período. Eu funcionava muito pelo impulso e instinto". Foto: Jean-Baptiste Mondino. Para Björk, as palavras que descrevem "Debut" são: Tímido, iniciante, o mensageiro, humildade, prata, mohair (ou ango

A história do vestido de cisne da Björk

20 anos! Em 25 de março de 2001 , Björk esteve no Shrine Auditorium , em Los Angeles, para a 73º edição do Oscar . Na ocasião, ela concorria ao prêmio de "Melhor Canção Original" por I've Seen It All , do filme Dancer in the Dark , lançado no ano anterior.  No tapete vermelho e durante a performance incrível da faixa, a islandesa apareceu com seu famoso "vestido de cisne". Questionada sobre o autor da peça, uma criação do  fashion   designer macedônio  Marjan Pejoski , disse: "Meu amigo fez para mim".    Mais tarde, ela repetiu o look na capa de Vespertine . Variações também foram usadas muitas vezes na turnê do disco, bem como em uma apresentação no Top of the Pops .  "Estou acostumada a ser mal interpretada. Não é importante para mim ser entendida. Acho que é bastante arrogante esperar que as pessoas nos compreendam. Talvez, tenha um lado meu que meus amigos saibam que outros desconhecidos não veem, na verdade sou uma pessoa bastante sensata. 

Björk nega história envolvendo o músico argentino Charly Garcia: "Não sei quem é"

O livro "100 veces Charly" compila histórias que ocorreram na vida de Charly Garcia . Um desses relatos foi muito comentado ao longo dos anos. Após uma apresentação da "Volta Tour" na Argentina, o cantor e compositor teria tentado chamar a atenção de Björk em um jantar. Foi relatado que o músico era um grande fã e queria algum tipo de colaboração musical. Estava animado em conhecê-la, e junto de sua equipe descobriu o lugar que ela estaria e foi até lá para tentar tocar com ela e outros músicos argentinos. Pedro Aznar, Gaby Álvarez, Gustavo Cerati e Alan Faena. No entanto, Björk não apareceu de imediato e ficou em seu camarim no Teatro Gran Rex. Algumas horas depois, ela quis sair para comer. Assim, uma longa mesa foi montada para ela, sua equipe e banda. E então os músicos argentinos se juntaram a eles. Apesar das tentativas de Charly de iniciar uma conversa, Björk o teria ignorado completamente, conversando apenas com a amiga islandesa ao lado dela. A história fo

Björk responde pergunta enviada por Mitski

Em 2017, Björk respondeu perguntas de alguns artistas para DAZED , incluindo uma enviada por Mitski : M: Quanta confiança você deposita no seu público e o quanto eles importam para você quando está se apresentando ao vivo? Às vezes, quando performo e é óbvio que a plateia está lá apenas para festejar, sinto que existe um muro entre mim e eles, e acabo tendo crises existenciais sobre isso. Eu sei que muito disso tem a ver com o ego, mas quando você pegou um avião para ir até lá e não tem dormido bem há dias, e então faz um show onde nada parece se conectar, é fácil imaginar o que e para quem exatamente você está se apresentando. B: Hmm... Eu acho que é por isso que sempre pedi para tocar cedo! Muitas das minhas músicas são lentas, então mesmo quando estou sendo a headliner de um festival, pergunto se posso me apresentar ao anoitecer. Eu verifico com antecedência a que horas o sol vai se pôr e tento começar meu set ao anoitecer, daí começa a ficar escuro no meio do caminho, então peg