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Black Lake

Foto: Reprodução

"Eu estava realmente envergonhada por essa música e o que está no Vulnicura. Ainda quase não consigo ouvir. É tão cheia de autopiedade. Eu estava me sentindo muito triste e cheia de covardia quando escrevi tudo aquilo, mas alguns meses se passaram, e agora estou melhorando. Eu mal podia suportar tocá-la para meus amigos!

Compus três meses depois do divórcio. Eu voei para o Japão e não conseguia me ajustar à diferença de fuso horário, sabe. Me hospedei em um lugar maravilhoso. Eu estava operando no horário islandês, dormindo durante o dia, passando minhas noites em claro. Escrevi essa música imersa no jetlag, e tive que trabalhar com esse sentimento.

É como quando se tenta expressar algo e nada sai. Podendo dizer cinco palavras e, em seguida, ficar preso naquela dor. Os acordes intermediários dessa canção meio que representam isso, e na verdade, são mais longos que os versos. Era difícil, mas também a única maneira de escapar de tudo aquilo, apenas voltando em outra tentativa para criar outra parte da música, que também traz um método que usei há muito tempo, em Possibly Maybe com cada verso representando um mês diferente. É claro que não é tão dramático assim, mas compartilha com Black Lake uma certa temporalidade, a música progredindo através do tempo. Como no último verso, onde algo mudou, tudo já era diferente".

Videoclipe: "A ideia inicial era filmá-lo para ser exibido numa cúpula em 360° em uma sala especial no MoMa. Isso não foi possível por razões técnicas, então acabamos fazendo tudo em duas telas, o que foi realmente perfeito: Eu encontrei uma razão poética nisso, porque a canção foi escrita em um buraco de uma rocha no meio da noite, no Japão, foi assim que surgiu a sensação claustrofóbica de estar em um lugar como o do vídeo, que também passeia por várias paisagens diferentes. A história da música meio que é contada através desses espaços".

O espaço no qual Black Lake foi exibido no MoMa era formado por paredes com cones de feltro preto costurados à mão, que apresentados em vários tamanhos, respondiam às ondas sonoras da canção.

"Andrew Huang, o diretor, veio para a Islândia e estávamos procurando por uma determinada cena, como se representasse a ferida sendo curada. Queríamos encontrar um penhasco que tivesse a forma de uma ferida, para que eu pudesse estar dentro dela. O vestido que estou usando foi feito por Iris Van Herpen. Ele é algo que dá a impressão de ser como a lava".

Após longas conversas e instruções de Björk, a estilista criou uma peça que deveria não ser muito lisa, pois deveria parecer algo cru, que se encaixasse perfeitamente com as rochas e a paisagem da Islândia.

Diferenças entre o trailer para a exposição no MoMa e a versão lançada oficialmente: "Nós acabamos querendo que a música e o vídeo soassem o mais cru e sem efeitos especiais possível. Eu meio que insisti em fazer longas tomadas neste trabalho, já que a canção é tão esquisita e ainda um mistério para mim, com necessidades muito precisas (...)

Estava muito frio lá no local da filmagem e eu cantei ao vivo, andando descalça na lava. Tudo foi meio que em condições extremas, mas perfeitas para a música. Esta é provavelmente uma das minhas canções mais tristes e viscerais. Era essencial ir até aquele lugar".

Segundo Andrew Thomas Huang, outra ideia do vídeo é a de que quando Björk anda pela paisagem, está tecendo sua música no chão através de seus passos, em uma jornada onde tudo começa com a canção sendo interpretada dentro de uma caverna e depois em uma ravina. A parte mais intensa segue quando ela sai dali e caminha pela noite islandesa, uma espécie de palco para essa ópera pessoal. Logo após isso, a cantora ressurge em um novo amanhecer para recomeçar sua vida como uma nova pessoa. Segundo o diretor, eles fizeram apenas um ensaio para o vídeo. Ele classificou a filmagem da ocasião como fenomenal porque mesmo em estúdio, e sem estar restrita pela paisagem que pretendiam, Björk tinha plena noção do que tudo aquilo se tornaria. Ela não estava apenas interpretando a história de um videoclipe, mas sim se libertando e acessando algo verdadeiramente pessoal na frente de toda a equipe.

Fontes: The Guardian, The Creative Independent, Pitchfork, Reykjavík Grapevine, Style, Time, Milkmade, Dazed & Confused, The Creators Project, i-D Magazine, Red Bull Music Academy. 

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