Pular para o conteúdo principal

Björk e a paixão pelo canto de Elis Regina: "Ela cobre todo um espectro de emoções"

"É difícil explicar. Existem várias outras cantoras, como Ella Fitzgerald, Billie Holiday, Edith Piaf, mas há alguma coisa em Elis Regina com a qual eu me identifico. Então escrevi uma canção, Isobel, sobre ela. Na verdade, é mais uma fantasia, porque sei pouco a respeito dela". 

Quando perguntada se já viu algum vídeo com imagens de Elis, Björk respondeu: 

"Somente um. É um concerto gravado no Brasil, em um circo, com uma grande orquestra. Apesar de não conhecê-la, trabalhei com (Eumir) Deodato e ele me contou várias histórias sobre ela. Acho que tem algo a ver com a energia com a qual ela canta. Ela também tem uma claridade no tom da voz, que é cheia de espírito. 

O que eu gosto em Elis é que ela cobre todo um espectro de emoções. Em um momento, ela está muito feliz, parece estar no céu. Em outro, pode estar muito triste e se transforma em uma suicida". 

A entrevista foi publicada na Folha de São Paulo, em setembro de 1996. Na ocasião, Björk divulgava o show da Post Tour, que aconteceu no mês seguinte no Brasil no Free Jazz Festival. Segundo o jornalista brasileiro Carlos Calado, que conversou com a islandesa, quando ela descreve Elis, "parece estar falando de uma atriz". Questionada se sente interpretando personagens quando canta, a artista respondeu: 

"Sim e não, mas prefiro dizer não. Sou uma pessoa muito emocional e descrevo tudo nesses termos. Para mim, a música expressa emoções, mas eu não confundiria isso com representar". 

No ano de 2000, Björk explicou para Vogue Germany: "O canto de Elis cobre todo o espectro de sentimentos, desde gritos de alegria altíssima, até dor mortal. Admiro as pessoas que têm coragem para isso". 

Em Dezembro de 1995, para o Estadão, a islandesa disse que Elis Regina foi a primeira artista brasileira com a qual sentiu grande identificação: "Eu dei uma entrevista para um jornalista, que me deu de presente um vídeo de um show dela. É brilhante. Eu não sabia que ela existia até esse ano". 

Na mesma entrevista, ela descreveu uma de suas diversas inspirações para Isobel

"Essa música é sobre uma pessoa nascida em uma floresta do Brasil. Ela não foi concebida por um pai ou por uma mãe, mas sim por uma faísca, uma centelha que brotou do chão da floresta. 

Quando ela cresce e se torna uma mulher, percebe que todos os seixos do solo da floresta são, na verdade, arranha-céus, que crescem vertiginosamente, até dominarem a floresta. Essa mulher agora descobre que é movida pela intuição. Quer saber o final?", ela perguntou ao jornalista Marcelo Bernardes, que respondeu que sim. 

"Bem, ela se encontra com esses arranha-céus, que são muito inteligentes. A partir daí, começa a se relacionar com pessoas erradas, o que a leva a se isolar. É por isso que a música se chama Isobel e não Isabel. Mesmo isolada, ela sabe que pode comandar suas ações a partir de sua intuição. 

O que ela faz é mandar um monte de mariposas irem de encontro às janelas dos arranha-céus, que estão usando muito a inteligência. E aí esses arranha-céus inteligentes, começam a gritar "na na na na na, na na na na na", que é parte da música. Então, as pessoas falam: "Vamos deixar de ser tão espertas". 

Tudo isso pode parecer um pouco estranho, mas essa foi a viagem que fiz para chegar à letra da canção". 

Fotos: Reprodução/Divulgação. 

Postagens mais visitadas deste blog

Debut, o primeiro álbum da carreira solo de Björk, completa 30 anos

Há 30 anos , era lançado "Debut", o primeiro álbum da carreira solo de Björk : "Esse disco tem memórias e melodias da minha infância e adolescência. No minuto em que decidi seguir sozinha, tive problemas com a autoindulgência disso. Era a história da garota que deixou a Islândia, que queria lançar sua própria música para o resto do mundo. Comecei a escrever como uma estrutura livre na natureza, por conta própria, na introversão". Foi assim que a islandesa refletiu sobre "Debut" em 2022, durante entrevista ao podcast Sonic Symbolism: "Eu só poderia fazer isso com algum tipo de senso de humor, transformando-o em algo como uma história de mitologia. O álbum tem melodias e coisas que eu escrevi durante anos, então trouxe muitas memórias desse período. Eu funcionava muito pelo impulso e instinto". Foto: Jean-Baptiste Mondino. Para Björk, as palavras que descrevem "Debut" são: Tímido, iniciante, o mensageiro, humildade, prata, mohair (ou ango

Nos 20 anos de Vespertine, conheça as histórias de todas as canções do álbum lendário de Björk

Vespertine está completando 20 anos ! Para celebrar essa ocasião tão especial, preparamos uma super matéria . Confira detalhes de todas as canções e vídeos de um dos álbuns mais impressionantes da carreira de Björk ! Coloque o disco para tocar em sua plataforma digital favorita, e embarque conosco nessa viagem.  Foto: Inez & Vinoodh.  Premissa:  "Muitas pessoas têm medo de serem abandonadas, têm medo da solidão, entram em depressão, parecem se sentir fortes apenas quando estão inseridas em grupos, mas comigo não funciona assim. A felicidade pode estar em todas as situações, a solidão pode me fazer feliz. Esse álbum é uma maneira de mostrar isso. "Hibernação" foi uma palavra que me ajudou muito durante a criação. Relacionei isso com aquela sensação de algo interno e o som dos cristais no inverno. Eu queria que o álbum soasse dessa maneira. Depois de ficar obcecada com a realidade e a escuridão da vida, de repente parei para pensar que inventar uma espécie de paraí

Saiba tudo sobre as visitas de Björk ao Brasil

Relembre todas as passagens de Björk por terras brasileiras! Preparamos uma matéria detalhada e cheia de curiosidades: Foto: Reprodução (1987) Antes de vir nos visitar em turnê, a cantora foi capa de algumas revistas brasileiras sobre música, incluindo a extinta  Bizz,  edição de Dezembro de 1989 . A divulgação do trabalho dela por aqui, começou antes mesmo do grande sucesso e reconhecimento em carreira solo, ainda com o  Sugarcubes . 1996 - Post Tour: Arquivo: João Paulo Corrêa SETLIST:  Army of Me One Day The Modern Things Venus as a Boy You've Been Flirting Again Isobel Possibly Maybe I Go Humble Big Time Sensuality Hyperballad Human Behaviour The Anchor Song I Miss You Crying Violently Happy It's Oh So Quiet.  Em outubro de 1996, Björk finalmente desembarcou no Brasil , com shows marcados em São Paulo (12/10/96) e no Rio de Janeiro (13/10/96) , como parte do Free Jazz Festival . Fotos:  André Gardenberg, Folhapres

A história do vestido de cisne da Björk

20 anos! Em 25 de março de 2001 , Björk esteve no Shrine Auditorium , em Los Angeles, para a 73º edição do Oscar . Na ocasião, ela concorria ao prêmio de "Melhor Canção Original" por I've Seen It All , do filme Dancer in the Dark , lançado no ano anterior.  No tapete vermelho e durante a performance incrível da faixa, a islandesa apareceu com seu famoso "vestido de cisne". Questionada sobre o autor da peça, uma criação do  fashion   designer macedônio  Marjan Pejoski , disse: "Meu amigo fez para mim".    Mais tarde, ela repetiu o look na capa de Vespertine . Variações também foram usadas muitas vezes na turnê do disco, bem como em uma apresentação no Top of the Pops .  "Estou acostumada a ser mal interpretada. Não é importante para mim ser entendida. Acho que é bastante arrogante esperar que as pessoas nos compreendam. Talvez, tenha um lado meu que meus amigos saibam que outros desconhecidos não veem, na verdade sou uma pessoa bastante sensata.