Björk compôs essa canção em uma praia na
Islândia. A inspiração veio da tristeza e angústia da aproximação do fim de um
longo relacionamento.
"É sobre alguém que está tentando tirar todas essas emoções de uma outra
pessoa. A música toda é emocionalmente relacionada a querer clareza, querer
simplicidade ao conversar com alguém que quer que as coisas sejam realmente
complexas, nebulosas e pouco claras. Eu estava meio que andando de um lado
para o outro em uma praia na Islândia, e a letra simplesmente veio até mim sem
que eu realmente precisasse editá-la. A força deste álbum é realmente a
simplicidade e o pensamento em voz alta. E eu não deveria ser inteligente
demais. Essa é provavelmente a letra mais óbvia que já escrevi. Algo em mim me
dizia: "Não, não toque nela. É preciso que ela seja quase que ingênua e
desajeitada". Esse é o tipo de força e a fraqueza que encontramos ao mesmo
tempo nessa música".
Compor para Médulla muitos anos antes, ajudou Björk a refinar sua
técnica de criação para os trabalhos seguintes: "Eu fiz os arranjos vocais
totalmente sozinha. Talvez tenha sido mais fácil para mim, porque agora
conheço esse 'instrumento' de forma muito melhor. Quando eu sentia que já
estavam finalmente prontos, começava a trabalhá-los com violinos e
violoncelos. Eu passei vários dias gravando os arranjos de cordas. Eu tinha 30
pessoas para tocarem isso para mim, e então eu gravava dois arranjos de cada.
Em teoria, existem basicamente 60 porque eu precisava desse tipo de sentimento
meio que panorâmico para criar algo tão suave como creme. Eu acho que
Stonemilker parte de uma grande questão. Você está fazendo uma pergunta
a alguém, mas não quer forçar muito, sabe. Está tentando isso da maneira mais
harmoniosa possível. Permanecer emocionalmente aberto é uma escolha. Eu acho
que é igualmente difícil para todos nós, e estamos fazendo sempre o nosso
melhor, mas também há uma escolha: Querer tentar, e talvez falhar, ou escolher
o caminho sem nem ao menos tentar".
O farol que aparece na filmagem do videoclipe foi justamente onde ela escreveu
e gravou grande parte do Vulnicura. A emocionante vista panorâmica
dessa linda obra audiovisual é resultado de um "duelo" entre a câmera e a
artista. Segundo o diretor do vídeo, Andrew Thomas Huang, tudo foi
feito em apenas 2 horas devido à maré, e toda a equipe teve que se esconder
atrás de pedras, deixando ela sozinha, sem saber o que seria o resultado
final. Foi uma experiência muito particular, e ela adorou. A espontaneidade a
traz de forma bem íntima ao telespectador, como se ela estivesse a poucos
centímetros de seu rosto.
O vídeo, filmado em julho de 2014, apresenta uma mixagem exclusiva da música:
"Fizemos isso para criar um "círculo íntimo" em torno do ouvinte. Então, os
fones de ouvido dos óculos em realidade virtual o farão sentir como se
estivesse naquela praia". Sobre inovações no futuro, Björk diz estar sempre
aprendendo e conhecendo novas ferramentas para aprimorar seu ofício: "Para ser
honesta, quando faço essas coisas tecnológicas, ou mesmo com 'cordas
acústicas', basicamente estou tentando ser funcional, e tentando ser sincera
com a vida que levamos agora. Não estou tentando me distanciar. Estamos em
nossos telefones - compartilhando arquivos e ideias, fazendo vídeos, fotos e
músicas. Eu acho que é importante, em qualquer momento, reavaliar essas
criações e ver o que pode ser relevante ou não para o mundo em que vivemos".
Andrew Thomas Huang: "A mulher que encontramos naquele dia era bem diferente
da filmagem de "Black Lake". Sua casa estava enfeitada com velas de cor lilás,
(...) e havia uma sensação de cura provocada por todas aquelas texturas macias
e translúcidas espalhadas por toda parte. Essa foi a nova Björk que capturamos
em Stonemilker. Foi muito espontâneo. Eu entendi que a mágica com ela
realmente acontece quando se usa da improvisação, quando as coisas se mantém
frescas e autênticas. Vulnicura é um álbum nu, não tem todas os
'acessórios' que encontrávamos em Biophilia. É apenas ela, com o cabelo
solto e um lindo vestido esvoaçante. Tudo isso mais parece com uma performance
em um documentário, do que com um videoclipe. Quando se usa os óculos e fones
de ouvido apropriados, realmente é possível sentir como se ela estivesse lá
com a gente. Você olha para baixo e vê seus pés, e ao levantar a cabeça vê que
ela está olhando diretamente para você, e que suas mãos estão bem na frente do
seu nariz. Tudo o que eu lembro daquele dia era que eu levantava
ocasionalmente a minha cabeça, escondido atrás das pedras, para conseguir
presenciar os olhares de Björk em dueto com a câmera".
Fontes: L.A. Times, Song Exploder, SinfiniMusic, Dazed, Pitchfork, The
Creative Review.