Pular para o conteúdo principal

Björk não está interessada em lançar um documentário

A série de podcasts "Sonic Symbolism" foi editada a partir de 20 horas de conversas de Björk com a escritora Oddný Eir e o musicólogo Ásmundur Jónsson. O projeto traz a própria islandesa narrando a história por trás de sua música.

"Não fiz isso para obter algum encerramento terapêutico. A razão pela qual decidi fazer foi que eu estava recebendo muitos pedidos para autobiografias e documentários. Recusei todos!

Não quero me gabar, mas estou em uma posição em que, se eu não fizer isso, outra pessoa fará!".

A cantora explicou que os documentários feitos sobre artistas mulheres são "realmente injustos, às vezes", que muitas vezes são "apenas uma lista de seus namorados e ficam dizendo: "Ah, eles tiveram uma vida feliz" se tiverem tido um casamento. Mas se não tiver sido o caso, então a vida delas foi um fracasso. Com os homens, eles não fazem nada disso".

A intenção de Björk com os episódios é "dar importância ao meu trabalho" e apresentar um "raio-X sônico" de cada álbum, em vez de reivindicar qualquer mito biográfico.

A ideia para o podcast veio também devido ao momento que ela está vivendo: "Aquela coisa linda que acontece quando você já passou dos cinquenta anos, você se vê esquecendo de tudo. 

Notei que uma coisa que acontece quando se tem cerca de 50 anos é que o cérebro muda e, de repente, não vemos a vida de maneira linear. O cérebro começa a jogar fora todas as coisas que não precisamos.

Para abrir espaço para mais música e mais experiências, decidi fazer disso como uma conversa com amigos antes que eu esqueça de tudo. Estou feliz que está tudo lá agora, antes que isso aconteça.

Não fui feita para um documentário sobre mim, fico tonta só de pensar nisso! Também não fui feita para um livro. Mas estou disposta a conversar com os meus amigos". 

Ela queria que a conversa fosse em pé de igualdade: "Minha intenção é que a gente discuta nosso amor pela música, por sentimentos, por escrever letras, por ideias. Estamos falando sobre algo que amamos, em vez de ficar admirar um ícone. Não é algo do tipo: "Björk, o ídolo, o ícone em um pedestal"".

Os três trabalharam nos episódios durante a pandemia. Passaram um tempo em uma casa de veraneio, tomaram muito café e reuniram cerca de 20 horas de material ao longo de dois anos:

"Depois de tudo, foi um verdadeiro pesadelo editar tudo isso! Fizemos em parceria com Anna Gyða (da rádio RÚV), que veio muitas vezes até aqui. Ela é campeã mundial em edição". 

Cada episódio se concentra em um álbum e no momento em que a obra foi criada: "Não é um trabalho biográfico. Isso não é sobre todos os meus colegas [que trabalharam nos discos]. É sobre uma musicista e sua relação com o próprio trabalho, com suas notas e letras".

No podcast, Björk e seus colaboradores decidiram focar no ofício e na arte: "Eu gostei. Para mim, uma autobiografia não parecia ser o certo. Talvez eu faça isso quando tiver 90 anos ou algo assim.

Quando assisto a documentários sobre músicos ou quando leio autobiografias, tudo é sobre tentar transformá-los em super-heróis ou ícones e acho isso muito chato! Acredito que é uma abordagem mais do Século XX, está morto! Não acho que sobrevive mais no mundo de hoje.

Penso que essa é uma das razões pelas quais os podcasts são tão populares! É algo que destrona os ícones, tira as pessoas dos equipamentos mais avançados e dos pedestais, trazendo todos para o chão no mesmo nível e como seres humanos. Eu prefiro esse formato!".

Quando o documentário sobre Amy Winehouse foi lançado em 2015, o site Mic publicou uma crítica sobre a narrativa do filme, argumentando que a produção focou apenas nas tristezas e tragédias da vida da cantora, deixando de lado sua contribuição musical e tudo aquilo que fez dela uma artista única. Algo diferente do que acontece com obras póstumas dedicadas a homens.

Na época, Björk compartilhou um link da matéria no Facebook dizendo: "(O jornalista) Tom Barnes explicou mais um aspecto do sexismo oculto na indústria da música". 

- Entrevistas para NME, RÚV e Rádio Rock, 2022.

Em breve, publicaremos as traduções em português de todos os episódios de "Sonic Symbolism". Björk não quer saber de documentários em vídeo, mas a nossa websérie sobre a carreira dela também volta logo mais! Seremos respeitosos. O foco é a música. Sempre. 💌

Foto: Inez + Vinoodh.

Postagens mais visitadas deste blog

Hildur Rúna Hauksdóttir, a mãe de Björk

"Como eu estava sempre atrasada para a escola, comecei a enganar a minha família. Minha mãe e meu padrasto tinham o cabelo comprido e eles eram um pouco hippies. Aos dez anos de idade, eu acordava primeiro do que eles, antes do despertador tocar. Eu gostava de ir na cozinha e colocar o relógio 15 minutos mais cedo, e então eu iria acordá-los... E depois acordá-los novamente cinco minutos depois... E de novo. Demorava, algo como, quatro “rodadas”. E então eu acordava meu irmãozinho, todo mundo ia escovar os dentes, e eu gostava de ter certeza de que eu era a última a sair e, em seguida, corrigir o relógio. Fiz isso durante anos. Por muito tempo, eu era a única criança da minha casa, e havia mais sete pessoas vivendo comigo lá. Todos tinham cabelos longos e ouviam constantemente Jimi Hendrix . O ambiente era pintado de roxo com desenhos de borboletas nas paredes, então eu tenho uma certa alergia a essa cor agora (risos). Vivíamos sonhando, e to...

Saiba tudo sobre as visitas de Björk ao Brasil

Relembre todas as passagens de Björk por terras brasileiras! Preparamos uma matéria detalhada e cheia de curiosidades: Foto: Reprodução (1987) Antes de vir nos visitar em turnê, a cantora foi capa de algumas revistas brasileiras sobre música, incluindo a extinta  Bizz,  edição de Dezembro de 1989 . A divulgação do trabalho dela por aqui, começou antes mesmo do grande sucesso e reconhecimento em carreira solo, ainda com o  Sugarcubes . 1996 - Post Tour: Arquivo: João Paulo Corrêa SETLIST:  Army of Me One Day The Modern Things Venus as a Boy You've Been Flirting Again Isobel Possibly Maybe I Go Humble Big Time Sensuality Hyperballad Human Behaviour The Anchor Song I Miss You Crying Violently Happy It's Oh So Quiet.  Em outubro de 1996, Björk finalmente desembarcou no Brasil , com shows marcados em São Paulo (12/10/96) e no Rio de Janeiro (13/10/96) , como parte do Free Jazz Festival . Fotos: ...

A história do vestido de cisne da Björk

20 anos! Em 25 de março de 2001 , Björk esteve no Shrine Auditorium , em Los Angeles, para a 73º edição do Oscar . Na ocasião, ela concorria ao prêmio de "Melhor Canção Original" por I've Seen It All , do filme Dancer in the Dark , lançado no ano anterior.  No tapete vermelho e durante a performance incrível da faixa, a islandesa apareceu com seu famoso "vestido de cisne". Questionada sobre o autor da peça, uma criação do  fashion   designer macedônio  Marjan Pejoski , disse: "Meu amigo fez para mim".    Mais tarde, ela repetiu o look na capa de Vespertine . Variações também foram usadas muitas vezes na turnê do disco, bem como em uma apresentação no Top of the Pops .  "Estou acostumada a ser mal interpretada. Não é importante para mim ser entendida. Acho que é bastante arrogante esperar que as pessoas nos compreendam. Talvez, tenha um lado meu que meus amigos saibam que outros desconhecidos não veem, na verdade sou uma pessoa bastante sensata.  ...

Nos 20 anos de Vespertine, conheça as histórias de todas as canções do álbum lendário de Björk

Vespertine está completando 20 anos ! Para celebrar essa ocasião tão especial, preparamos uma super matéria . Confira detalhes de todas as canções e vídeos de um dos álbuns mais impressionantes da carreira de Björk ! Coloque o disco para tocar em sua plataforma digital favorita, e embarque conosco nessa viagem.  Foto: Inez & Vinoodh.  Premissa:  "Muitas pessoas têm medo de serem abandonadas, têm medo da solidão, entram em depressão, parecem se sentir fortes apenas quando estão inseridas em grupos, mas comigo não funciona assim. A felicidade pode estar em todas as situações, a solidão pode me fazer feliz. Esse álbum é uma maneira de mostrar isso. "Hibernação" foi uma palavra que me ajudou muito durante a criação. Relacionei isso com aquela sensação de algo interno e o som dos cristais no inverno. Eu queria que o álbum soasse dessa maneira. Depois de ficar obcecada com a realidade e a escuridão da vida, de repente parei para pensar que inventar uma espécie de p...

Sindri Eldon explica antigo comentário sobre a mãe Björk

Foto: Divulgação/Reprodução.  O músico Sindri Eldon , que é filho de Björk , respondeu as críticas de uma antiga entrevista na qual afirmou ser um compositor melhor do que sua mãe.  Na ocasião, ele disse ao Reykjavík Grapevine : "Minha principal declaração será provar a todos o que secretamente sei há muito tempo: que sou melhor compositor e letrista do que 90% dos músicos islandeses, inclusive minha mãe".  A declaração ressurgiu no Twitter na última semana, e foi questionada por parte do público que considerou o comentário uma falta de respeito com a artista. Na mesma rede social, Sindri explicou:  "Ok. Primeiramente, acho que deve ser dito que isso é de cerca de 15 anos atrás. Eu era um idiota naquela época, bebia muito e estava em um relacionamento tóxico. Tinha um problema enorme e realmente não sabia como lidar com isso. Essa entrevista foi feita por e-mail por um cara chamado Bob Cluness que era meu amigo, então as respostas deveriam ser irônicas e engraçadas...