Foto: Divulgação (2014) |
Em agosto de 2012, a cantora convidou o escritor Oliver Sacks e seu namorado Bill Hayes para jantar em sua casa, em Reykjavik. O relato a seguir está incluso no livro "Insomniac City", que o companheiro do autor e neurologista escreveu sobre ele. Oliver morreu em 2015.
"Ela já o conhecia há alguns anos, quando foi convidada para participar de um documentário da BBC sobre música, mas nunca tinham passado um tempo juntos até se tornarem amigos. Na verdade, pouco sabíamos de seu trabalho até a viagem. Eu comprei uma coleção de seus videoclipes em DVD e organizamos um curso intensivo sobre sua carreira. Ele sentado na beira da cama, a poucos centímetros da tela da TV, assistiu imóvel, fascinado, principalmente, pelas imagens, durante aqueles 90 minutos, profundamente impressionado com seu talento e criatividade.
Já na estrada que nos conduzia ao estacionamento da casa dela na Islândia, eu a vi da janela da cozinha. Parecia estar no meio de um trabalho, concentrada. A residência tinha alguns simples arbustos como cerca. No jardim da frente havia uma mesa e algumas cadeiras para crianças. O cenário era como um encontro para o chá. Nos dirigimos até a porta da frente. Me lembro até da maneira como ele fez para saudá-la. Fomos levados até a sala, e ela nos apresentou a dois amigos: James, o inglês, e Marguerite, o islandês, que tinham o mesmo cabelo vermelho brilhante. Ela estava com o cabelo penteado para cima e preso com grampos azuis, usava uma túnica simples, composta de diversas cores e desenhos diferentes, talvez tivesse sido obra sua; uma calça branca e sapatos de salto alto. Seu rosto estava lindo e sem maquiagem.
Eu entrei na cozinha, onde ela preparava tudo. O papel de parede era uma colagem de fotos de tranças bem ornamentadas em diferentes mulheres. Foi tudo muito relaxante e despretensioso, uma ótima anfitriã, que nos fez sentir confortáveis, nos alimentando como se fosse nossa mãe. Sobre a mesa, em pratos pequenos, quase imediatamente trouxe uma panela fumegante com truta grelhada, salada e batatas cozidas. Conversamos por algum tempo sentados naquelas cadeiras esculpidas em troncos de árvores. A toalha de mesa tinha sido bordada com desenhos de conchas. Do lado de fora da janela, notei o Farol. Björk disse que em sua cozinha havia um diário com registros sobre o aumento e a queda da corrente da água, de modo que ela sabia quanto tempo ele ficaria longe da maré. Também nos contou que tinha feito uma pesquisa para saber se poderia comprá-lo, mas a coisa não foi pra frente e ela entendeu que um farol deve pertencer a todos.
Depois que comemos, ela nos levou até a mesa, passando por uma pequena porta na escada em espiral. E claro que não era um lugar comum, mas sim feito de pedras basalto! Sem mencionar o impressionante corrimão que parecia ter sido feito de ossos de baleia. Ela nos mostrou a lâmpada, que estava pendurada acima de nós, e 'jogou' a luz na escada, e depois subimos até um quarto e lá nos mostrou dois instrumentos musicais: uma celesta e algo que parecia um cravo. Ambos modificados de alguma forma, com a ajuda de instruções de um programa para computador. Oliver ficou eufórico perguntando como ela tinha feito aquilo. Foi então que percebi o quanto suas mentes eram parecidas.
Björk nos serviu uma torta, que ela fez com plantas de seu próprio jardim. Ela disse que tinha a preparado com sua filha na noite anterior. Apontou para um espaço vazio na tigela, e confessou: "Por eu ser a cozinheira, tive que comer primeiro". Cada pedaço era guarnecido com abundância de creme de leite fresco e chá. A louça era com o tema de "Alice No País das Maravilhas". Os copos estavam cortados e nossa anfitriã explicou o motivo rindo como uma criança: "Estas são xícaras para destros". Quando olhamos para o relógio já era 3:30 da madrugada. Oliver assinou uma cópia de seu livro Hallucinations e a presenteou com uma dedicatória".