Björk publicou em seu Facebook, na tarde deste domingo, um texto em que
revela que foi vítima de assédio sexual por um diretor dinamarquês. Confira a tradução do post na íntegra:
Porque eu venho de um país onde a diferença entre os sexos é pequena, apesar de ainda existir, e no momento em que tenho certa força no mundo da música com uma independência, que foi duramente conquistada, sempre esteve extremamente claro para mim que quando eu entrasse na carreira de atriz, meu papel e humilhação como uma menor sexualmente assediada seria uma norma para um diretor cuja a equipe de dezenas de pessoas permitiu e o encorajou a fazer isso.
Eu estava ciente de que é algo universal, em que
um diretor pode tocar e assediar suas atrizes à vontade e a indústria do cinema permite isso. Quando eu o confrontei por diversas vezes, ele me castigou e criou uma impressionante história ilusória para sua equipe, onde eu fui incriminada como alguém difícil de se trabalhar.
Por causa da
minha força, da minha grande equipe e porque eu não tinha nada a perder, já que não tinha ambições no mundo da atuação, fui embora dali e me recuperei com o passar dos anos. Estou preocupada com as outras atrizes que trabalham
com este mesmo homem. O diretor estava plenamente ciente deste jogo e
tenho a certeza de que o filme que ele fez em seguida, foi baseado em suas experiências comigo. Porque eu fui a primeira que não permitiu que ele fizesse algo e que não o
deixou sair impune disso.
E na minha
opinião, ele teve uma relação mais justa e significativa com as outras atrizes que fizeram seus filmes depois que eu o confrontei, por isso acredito que há esperança.
Vamos esperar que esta declaração sirva de apoio para as atrizes e atores por aí.
Vamos parar com isto.
Há uma onda de mudança no mundo.
Bondade! Björk".
Atualização (16/10): Lars von Trier nega acusações de assédio de Björk.
A um jornal dinamarquês, o cineasta disse apenas que "aquele não era o caso", referindo-se à onda de acusações, e ainda elogiou a cantora, dizendo que ela lhe deu uma das melhores performances de todos os seus filmes.
Coprodutor de "Dançando no escuro" e sócio de Von Trier na produtora Zentropa, Peter Aalbaek Jensen defendeu o cineasta. "Pelo que eu me lembro, nós (Lars e eu) éramos vítimas. Aquela mulher era mais forte que Lars, eu e nossa empresa juntos", disse ele, numa declaração que vem sendo criticada pela mídia internacional.
Ata.
Atualização (17/10): Em novo post no Facebook, Björk descreve com detalhes as diversas ocasiões em que foi assediada sexualmente por Lars Von Trier:
"No espírito #metoo (hashtag que expõe a magnitude mundial dos casos de assédio sexual), gostaria de dar uma contribuição às mulheres de todo o mundo com uma descrição mais detalhada da minha experiência com um diretor dinamarquês. É extremamente difícil compartilhar algo desta natureza com as pessoas, especialmente quando somos imediatamente ridicularizadas pelos culpados. Tenho plena simpatia com todas aquelas que hesitam contar, mesmo por anos, mas sinto que é o momento certo, especialmente agora, quando posso promover uma mudança. Aí vai uma lista de ocasiões que eu acho que contam como assédio sexual:
1 - Depois de cada take, o diretor corria até mim e envolvia seus braços ao meu redor por um longo tempo. Isso na frente de toda a equipe, e às vezes quando estávamos sozinhos, e me acariciava contra a minha vontade.
2 - Depois de 2 meses disso tudo acontecendo, eu disse a ele que ele tinha que parar de me tocar, então ele explodiu e quebrou uma cadeira na frente de todos no set de filmagem, como alguém que sempre teve permissão de todos para acariciar suas atrizes, então todos nós fomos enviados para casa.
3 - Durante todo o processo de filmagem, houveram diversas e estranhas insinuações e ofertas sexuais da parte dele, cujas descrições eram sussuradas e até desenhadas, às vezes com sua esposa ao nosso lado.
4 - Enquanto filmávamos na Suécia, ele ameaçou subir da varanda de seu quarto para o meu no meio da noite com uma clara intenção sexual, enquanto sua esposa estava no quarto ao lado. Eu escapei para o quarto dos meus amigos. Isso foi o que, finalmente, me fez acordar e perceber a gravidade de tudo isso para que eu procurasse me defender.
5 - Histórias fabricadas sobre eu ser difícil de se trabalhar foram publicadas na imprensa pelo produtor dele. Isso combina lindamente com os métodos e o bullying do produtor Harvey Weinstein. Eu nunca comi uma blusa. Não tenho certeza de que isso seja possível.
(Em 2000, a produção do filme espalhou para a imprensa que Björk rasgou uma blusa que ela não queria usar em uma cena e que até comeu um pedaço).
6 - Eu não me conformei ou concordei em ser assediada sexualmente. Isso foi retratado como ser alguém difícil. Se ser difícil é não estar de acordo em ser tratada assim, então eu sou.
Com esperança vamos romper essa maldição.
Calorosamente,
Björk".
Vamos esperar que esta declaração sirva de apoio para as atrizes e atores por aí.
Vamos parar com isto.
Há uma onda de mudança no mundo.
Bondade! Björk".
A artista se sentiu inspirada pelas denúncias feitas por celebridades de Hollywood contra o produtor de filmes Harvey Weinstein. Tudo indica que o diretor a que ela se refere é Lars von Trier, que a dirigiu no filme "Dancer in The Dark", em 2000.
Em 2003, ele foi responsável pelo filme "Dogville", cuja a história se passa durante a época da grande depressão, também conhecida como Crise de 1929, e a personagem Grace (Nicole Kidman), uma fugitiva do FBI, encontra abrigo numa pacata cidadezinha chamada Dogville. O filme mostra a mulher como vítima de vários tipos de violência: física, psicológica e sexual. Os moradores aceitam abrigá-la em troca de alguns favores, que, com o tempo, se aproxima de escravidão. Em troca de proteção, ela se sujeita a um tratamento desumano, fazendo com que este só piore com o tempo, chegando ao ponto de ser estuprada por todos os homens da cidade, com exceção do personagem Tom – que parece ser o único morador a apoiá-la. "Dogville" expõe uma visão pessimista sobre o comportamento humano, a vida em comunidade no qual impera o cinismo, a hipocrisia, a chantagem, a vingança, a mentira e a tensão que se estabelece entre a escolha individual e a norma coletiva.
Em 2003, ele foi responsável pelo filme "Dogville", cuja a história se passa durante a época da grande depressão, também conhecida como Crise de 1929, e a personagem Grace (Nicole Kidman), uma fugitiva do FBI, encontra abrigo numa pacata cidadezinha chamada Dogville. O filme mostra a mulher como vítima de vários tipos de violência: física, psicológica e sexual. Os moradores aceitam abrigá-la em troca de alguns favores, que, com o tempo, se aproxima de escravidão. Em troca de proteção, ela se sujeita a um tratamento desumano, fazendo com que este só piore com o tempo, chegando ao ponto de ser estuprada por todos os homens da cidade, com exceção do personagem Tom – que parece ser o único morador a apoiá-la. "Dogville" expõe uma visão pessimista sobre o comportamento humano, a vida em comunidade no qual impera o cinismo, a hipocrisia, a chantagem, a vingança, a mentira e a tensão que se estabelece entre a escolha individual e a norma coletiva.
Atualização (16/10): Lars von Trier nega acusações de assédio de Björk.
A um jornal dinamarquês, o cineasta disse apenas que "aquele não era o caso", referindo-se à onda de acusações, e ainda elogiou a cantora, dizendo que ela lhe deu uma das melhores performances de todos os seus filmes.
Coprodutor de "Dançando no escuro" e sócio de Von Trier na produtora Zentropa, Peter Aalbaek Jensen defendeu o cineasta. "Pelo que eu me lembro, nós (Lars e eu) éramos vítimas. Aquela mulher era mais forte que Lars, eu e nossa empresa juntos", disse ele, numa declaração que vem sendo criticada pela mídia internacional.
Ata.
Atualização (17/10): Em novo post no Facebook, Björk descreve com detalhes as diversas ocasiões em que foi assediada sexualmente por Lars Von Trier:
"No espírito #metoo (hashtag que expõe a magnitude mundial dos casos de assédio sexual), gostaria de dar uma contribuição às mulheres de todo o mundo com uma descrição mais detalhada da minha experiência com um diretor dinamarquês. É extremamente difícil compartilhar algo desta natureza com as pessoas, especialmente quando somos imediatamente ridicularizadas pelos culpados. Tenho plena simpatia com todas aquelas que hesitam contar, mesmo por anos, mas sinto que é o momento certo, especialmente agora, quando posso promover uma mudança. Aí vai uma lista de ocasiões que eu acho que contam como assédio sexual:
1 - Depois de cada take, o diretor corria até mim e envolvia seus braços ao meu redor por um longo tempo. Isso na frente de toda a equipe, e às vezes quando estávamos sozinhos, e me acariciava contra a minha vontade.
2 - Depois de 2 meses disso tudo acontecendo, eu disse a ele que ele tinha que parar de me tocar, então ele explodiu e quebrou uma cadeira na frente de todos no set de filmagem, como alguém que sempre teve permissão de todos para acariciar suas atrizes, então todos nós fomos enviados para casa.
3 - Durante todo o processo de filmagem, houveram diversas e estranhas insinuações e ofertas sexuais da parte dele, cujas descrições eram sussuradas e até desenhadas, às vezes com sua esposa ao nosso lado.
4 - Enquanto filmávamos na Suécia, ele ameaçou subir da varanda de seu quarto para o meu no meio da noite com uma clara intenção sexual, enquanto sua esposa estava no quarto ao lado. Eu escapei para o quarto dos meus amigos. Isso foi o que, finalmente, me fez acordar e perceber a gravidade de tudo isso para que eu procurasse me defender.
5 - Histórias fabricadas sobre eu ser difícil de se trabalhar foram publicadas na imprensa pelo produtor dele. Isso combina lindamente com os métodos e o bullying do produtor Harvey Weinstein. Eu nunca comi uma blusa. Não tenho certeza de que isso seja possível.
(Em 2000, a produção do filme espalhou para a imprensa que Björk rasgou uma blusa que ela não queria usar em uma cena e que até comeu um pedaço).
6 - Eu não me conformei ou concordei em ser assediada sexualmente. Isso foi retratado como ser alguém difícil. Se ser difícil é não estar de acordo em ser tratada assim, então eu sou.
Com esperança vamos romper essa maldição.
Calorosamente,
Björk".