Pular para o conteúdo principal

A escuridão e a luz presentes na Utopia de Björk


Em nova entrevista à revista MixMag, Björk falou novamente sobre fazer DJsets desde que era uma adolescente, contando que facilmente fica acordada até às 4 da manhã tocando várias canções nessas festas, de Rihanna até techno, bebendo café e conversando com seus amigos, explicando que na época em que começou a fazer isso em Reykjavík: "Quanto menor o bar, melhor era".

Em outro trecho, disse: "É sobre compartilhar a sua coleção de músicas e apresentar pessoas a sons que nunca ouviram antes". 

Arca também rasgou elogios para a islandesa falando sobre a profunda conexão musical entre os dois, dizendo ter sido a melhor de sua vida.

O jornalista responsável pela matéria também ouviu o álbum "Utopia", que vazou neste sábado (18/11), e destacou que o grande momento do disco é "Body Memory". Björk deu mais detalhes sobre a canção:

"Meu subconsciente dizia que se eu escrevesse uma canção tão triste como "Black Lake", eu deveria compor uma irmã otimista para ela. (...) Um terço disso é quase como uma coisa meio "católica": se você não for bom durante a sua vida, então quando morrer irá para um lugar e queimar por vários anos. Parte disso é sobre ser alguém bom enquanto está vivo, e a outra, que é a minha favorita, é em relação à uma vida utópica, que se você foi alguém bom, ela estará recheada de coisas positivas. Então "Body Memory" termina comigo pensando: "o que eu estarei pensando na hora da morte?".

É sobre eu ensinando a mim mesma e esperando que eu compartilhe isso com outras pessoas. 

É também sobre quando a sua cabeça faz "jogos" e você fica neurótico e assustado. O refrão é no momento em que seu corpo relaxa, pois é necessário confiar nele. Se nós relaxarmos na "memória do nosso corpo", saberemos o que fazer naturalmente com os problemas da vida".

Colaborações: "Em "Vulnicura" fizemos 12 remixes e a lista de produtores é composta por pessoas que eu estava saindo como amigos na época. (...) No geral, se existe uma conexão orgânica funciona melhor. Quando eu não sigo os meus instintos ou colaboro com alguém que não tenho muito em comum, não é muito fértil".

Produção: "Às vezes eu faço as batidas, outras vezes trabalho nos arranjos, e outras sou a editora. Eu desempenho vários papéis. Mas talvez seja culpada porque eu nunca tirei fotos minhas durante esse processo - mas eu mesma dirijo e edito todas as estruturas das minhas canções. Isso é ainda mais frequente quando uso as batidas feitas pelos meus colaboradores. Eu sou a única que as coloco entre as músicas, organizando um lugar para cada trecho entre meus arranjos e melodias. Tendo dito isso, eu escolhi muitos colaboradores fortes, que eu não queria que trabalhassem passivamente comigo, da mesma forma que eu não queria trabalhar de forma passiva com eles. Ironicamente, o momento em que eu decidi falar sobre isso foi quando decidi lançar o disco em que mais colaborei! (risos).

Mas eu continuo a repetir isso: os homens têm permissão para serem os autores, mas quando as mulheres fazem isso, é como se tudo se evaporasse!". 

Ela também tem visto certo progresso nessa situação: "As pessoas estão passando a ver isso de forma diferente. Artistas como M.I.A., FKA Twigs e Kelela possuem uma visão bem forte do que os seus álbuns deveriam ser".

"Utopia": "Sabe o que eu gosto mais desse título? É que todo mundo faz isso imediatamente! Nestes tempos de Trump e Brexit, se tornou uma emergência. (...) Eu tenho muita esperança na próxima geração. Temos pessoas de 30 anos tentando descobrir como limpar os oceanos (...), então eu realmente acredito que iremos arrumar uma saída. 

Eu não estou dizendo que sou melhor do que os outros, mas os músicos deveriam trazer esperança.

Na verdade, funciona ser otimista, pois metade das nossas vidas será coberta pela escuridão, enquanto a outra por luz. Se você focar só na escuridão e não se lembrar da luz, não quer dizer que tudo será belo, e que não existirá nada ruim. Também existem momentos assim neste álbum. Mas se você focar na luz, a escuridão irá tomar conta de si mesma".

Postagens mais visitadas deste blog

Björk explica antiga declaração sobre bissexualidade

- Anos atrás, falando em sexualidade fluida, você declarou que escolher entre um homem e uma mulher seria como "escolher entre bolo e sorvete". O que você acha disso hoje? "Acho que foram os anos 90, mas é uma frase tirada de contexto. Era um discurso muito maior. Ainda acredito que somos todos bissexuais em certo grau, cerca de 1%, cerca de 50% ou 100%, mas nunca compararia gênero com comida, isso seria desrespeitoso. Havia muitos repórteres homens na época, que queriam me pintar como uma "elfo excêntrica". Eles colocavam palavras na minha boca que eu não disse. Infelizmente, não havia muitas jornalistas mulheres. A boa notícia é que agora as coisas mudaram muito! É um mundo totalmente diferente, não comparável [ao da época]. Felizmente, muito mais mulheres escrevem artigos e há mais musicistas". - Björk em entrevista para Vanity Fair, março de 2023.

Nos 20 anos de Vespertine, conheça as histórias de todas as canções do álbum lendário de Björk

Vespertine está completando 20 anos ! Para celebrar essa ocasião tão especial, preparamos uma super matéria . Confira detalhes de todas as canções e vídeos de um dos álbuns mais impressionantes da carreira de Björk ! Coloque o disco para tocar em sua plataforma digital favorita, e embarque conosco nessa viagem.  Foto: Inez & Vinoodh.  Premissa:  "Muitas pessoas têm medo de serem abandonadas, têm medo da solidão, entram em depressão, parecem se sentir fortes apenas quando estão inseridas em grupos, mas comigo não funciona assim. A felicidade pode estar em todas as situações, a solidão pode me fazer feliz. Esse álbum é uma maneira de mostrar isso. "Hibernação" foi uma palavra que me ajudou muito durante a criação. Relacionei isso com aquela sensação de algo interno e o som dos cristais no inverno. Eu queria que o álbum soasse dessa maneira. Depois de ficar obcecada com a realidade e a escuridão da vida, de repente parei para pensar que inventar uma espécie de paraí

Debut, o primeiro álbum da carreira solo de Björk, completa 30 anos

Há 30 anos , era lançado "Debut", o primeiro álbum da carreira solo de Björk : "Esse disco tem memórias e melodias da minha infância e adolescência. No minuto em que decidi seguir sozinha, tive problemas com a autoindulgência disso. Era a história da garota que deixou a Islândia, que queria lançar sua própria música para o resto do mundo. Comecei a escrever como uma estrutura livre na natureza, por conta própria, na introversão". Foi assim que a islandesa refletiu sobre "Debut" em 2022, durante entrevista ao podcast Sonic Symbolism: "Eu só poderia fazer isso com algum tipo de senso de humor, transformando-o em algo como uma história de mitologia. O álbum tem melodias e coisas que eu escrevi durante anos, então trouxe muitas memórias desse período. Eu funcionava muito pelo impulso e instinto". Foto: Jean-Baptiste Mondino. Para Björk, as palavras que descrevem "Debut" são: Tímido, iniciante, o mensageiro, humildade, prata, mohair (ou ango

20 anos de Homogenic

Em  22 de Setembro de 1997 , Björk lançou mais um álbum icônico para a sua coleção que já era repleta de clássicos.  Pegue seus fones de ouvido e escolha sua plataforma musical preferida  e acompanhe uma  matéria especial  sobre os  20 anos de  " Homogenic ".   Comercial do álbum CURIOSIDADES: - O disco  foi gravado no estúdio "El Cortijo" de Trevor Morais, localizado no sul da  Espanha .  - Para a edição japonesa de "Homogenic",   "Jóga (Howie B Version)", "Immature" (Björk’s Version), "So Broken", "Nature Is Ancient" e "Jóga (Alec Empire Mix)" serviram de bônus track. - "Jóga"  também é o nome de uma das melhores amigas de Björk. -  As letras em braille na capa e no encarte do  CD single/Boxset  de "Alarm Call" não significam absolutamente nada. - Um  livro especial  em comemoração aos 20 anos de "Homogenic" será lançado em Outubro deste ano.  -

35 anos de Sugarcubes, a banda que lançou Björk ao sucesso internacional

Em 8 de junho de 1986 , o Sugarcubes surgia na Islândia, bem no dia do nascimento do 1º filho de Björk . O grupo musical deu projeção internacional para a artista. Eles lançaram três discos e estiveram em atividade até 1992. Em 2006, a banda se reuniu pela última vez para uma apresentação, em Reykjavík . Os integrantes já tinham formado projetos de música punk ao lado de Björk. Inicialmente, eles desenvolveram o selo Smekkleysa ( Bad Taste ), com o lançamento de uma série de projetos musicais e literários. Na intenção de conseguir dinheiro para a criação dessas obras, os membros perceberam que precisavam de uma ferramenta que chamasse a atenção do grande público. A partir disso, tiveram a ideia de formar uma banda: "A gente se divertia! A música era algo secundário, então não tínhamos essa grande ambição musical de ser algo brilhante. Tivemos a chance de viajar o mundo e ver como outras bandas funcionavam, o que me ensinou muito. A fama não estava nos nossos planos, mas ao mesm