Pular para o conteúdo principal

Gratidão, respeito e ternura


Há oito anos e meio, James Merry foi apresentado a Björk por um amigo em comum que sabia que ela estava procurando por um assistente para ajudá-la com o seu próximo projeto, "Biophilia". Na época, Merry a enviou um e-mail. O que resultou disso foi uma imediata troca de referências compartilhadas e eventualmente um convite de Björk para encontrá-la em Nova York. 

"Eu fui tomar café da manhã com ela em sua casa. Eu lembro que passamos o dia mostrando um ao outro vídeos no YouTube, conversando e comendo. Foi muito divertido, mas muito surreal. Voltei para a Inglaterra e cerca de uma semana depois o empresário dela me chamou e disse: "Ela acha que você é ótimo. Você gostaria de trabalhar com ela?". E eu disse que sim. Uma semana depois me mudei para Nova York". 

Para "Utopia", ele estudou as "referências muito precisas" dadas pela artista, que abrangem flores de ficção científica e interpretações culturais, que ele traduziu em uma série de máscaras de silicone muito bem ornamentadas.

"Não há planejamento (para a concepção das máscaras). Isso nunca funciona para mim. Todas são feitas à mão - eu nunca uso máquinas - então sempre tende a ser uma reação espontânea a um material com o qual estou trabalhando. E isso por horas e horas, dias e dias até começar a encontrar algo interessante. 

Na verdade, foi apenas quando fizemos o video de "The Gate", em colaboração com Gucci que fez o vestido, que eu tive que fazer esboços e protótipos.

Eu acho que se você vem com sua própria maneira idiossincrática de trabalhar com um material, não está preso à rotinas prescritas.

Tudo isso é sobre instinto e emoção, em vez de ser algo totalmente intelectual ou pensado. Com Björk, essa é a parte mais emocionante do projeto. Quando ela está lentamente construindo o próxima passo, talvez antes mesmo de gravar alguma música, tendo esses instintos realmente fortes e referências precisas - esteticamente, musicalmente e emocionalmente. Fico com os meus olhos e ouvidos treinados para ampliar as ideias que se encaixam nas dela. Curiosamente, do ponto de vista visual, às vezes você pode ver no final de um álbum ou turnê, que ela começará a usar algo que se sobrepõe com o próximo projeto.

As referências de "Utopia" têm cores muito claras e muitas coisas florais, muitas orquídeas; não flores bonitas, mais alienígenas, flores com aparência de ficção científica.

Gostei muito de fazer a peça que ela usou na capa da W Magazine, onde tentei distorcer sua boca em uma orquídea.

Nós filmamos um novo videoclipe e eu tive que fazer um monte de peças novas. Só estou aprendendo a torná-las mais refinadas, finas e fáceis de usar. Eu tive que fazê-las para 11 flautistas, bem como para Björk, então eu tive que transformá-las em diferentes cores e configurações".

A lição criativa mais importante que James Merry aprendeu com Björk:

"Acho que a maior lição é essa maneira muito respeitosa de tratar outras pessoas, lhes dando espaço para serem elas mesmas, mas ainda as alimentando e permitindo ser nutrida por elas. Com Björk aprendi muito sobre fazer as coisas com gratidão, com respeito e ternura".

- James Merry, Dazed Magazine; novembro de 2017.

Postagens mais visitadas deste blog

Debut, o primeiro álbum da carreira solo de Björk, completa 30 anos

Há 30 anos , era lançado "Debut", o primeiro álbum da carreira solo de Björk : "Esse disco tem memórias e melodias da minha infância e adolescência. No minuto em que decidi seguir sozinha, tive problemas com a autoindulgência disso. Era a história da garota que deixou a Islândia, que queria lançar sua própria música para o resto do mundo. Comecei a escrever como uma estrutura livre na natureza, por conta própria, na introversão". Foi assim que a islandesa refletiu sobre "Debut" em 2022, durante entrevista ao podcast Sonic Symbolism: "Eu só poderia fazer isso com algum tipo de senso de humor, transformando-o em algo como uma história de mitologia. O álbum tem melodias e coisas que eu escrevi durante anos, então trouxe muitas memórias desse período. Eu funcionava muito pelo impulso e instinto". Foto: Jean-Baptiste Mondino. Para Björk, as palavras que descrevem "Debut" são: Tímido, iniciante, o mensageiro, humildade, prata, mohair (ou ango...

Sindri Eldon explica antigo comentário sobre a mãe Björk

Foto: Divulgação/Reprodução.  O músico Sindri Eldon , que é filho de Björk , respondeu as críticas de uma antiga entrevista na qual afirmou ser um compositor melhor do que sua mãe.  Na ocasião, ele disse ao Reykjavík Grapevine : "Minha principal declaração será provar a todos o que secretamente sei há muito tempo: que sou melhor compositor e letrista do que 90% dos músicos islandeses, inclusive minha mãe".  A declaração ressurgiu no Twitter na última semana, e foi questionada por parte do público que considerou o comentário uma falta de respeito com a artista. Na mesma rede social, Sindri explicou:  "Ok. Primeiramente, acho que deve ser dito que isso é de cerca de 15 anos atrás. Eu era um idiota naquela época, bebia muito e estava em um relacionamento tóxico. Tinha um problema enorme e realmente não sabia como lidar com isso. Essa entrevista foi feita por e-mail por um cara chamado Bob Cluness que era meu amigo, então as respostas deveriam ser irônicas e engraçadas...

Primeiro álbum de Björk, que foi lançado apenas na Islândia, completa 45 anos

Há 45 anos , era lançado na Islândia o primeiro álbum de Björk . A artista tinha apenas 12 anos de idade . Batizado com o nome dela, o disco marcou uma fase de transição em sua jornada musical. Conheça os detalhes: Em 1976, Björk se tornou conhecida na mídia local pela rádio islandesa RÚV , que transmitiu uma gravação dela cantando o hit "I Love to Love" de Tina Charles : O registro aconteceu em um concurso na escola que ela frequentava. Cada aluno era convidado a demonstrar um dom artístico. Toda semana, eram realizadas atividades que os encorajavam a se expressarem. A gravação foi feita por um professor e chamou a atenção de um empresário da gravadora Fálkinn , que também distribuía na Islândia os discos de artistas da EMI , Polygram e Island Records . Aliás, o disco "Björk", de 1977 , é o lançamento mais famoso dessa gravadora, que já não existe mais! "Eu cantei, porque era isso que eu fazia. O tempo todo. Esse cara contatou minha mãe. Ele queria ganhar ...

Saiba tudo sobre as visitas de Björk ao Brasil

Relembre todas as passagens de Björk por terras brasileiras! Preparamos uma matéria detalhada e cheia de curiosidades: Foto: Reprodução (1987) Antes de vir nos visitar em turnê, a cantora foi capa de algumas revistas brasileiras sobre música, incluindo a extinta  Bizz,  edição de Dezembro de 1989 . A divulgação do trabalho dela por aqui, começou antes mesmo do grande sucesso e reconhecimento em carreira solo, ainda com o  Sugarcubes . 1996 - Post Tour: Arquivo: João Paulo Corrêa SETLIST:  Army of Me One Day The Modern Things Venus as a Boy You've Been Flirting Again Isobel Possibly Maybe I Go Humble Big Time Sensuality Hyperballad Human Behaviour The Anchor Song I Miss You Crying Violently Happy It's Oh So Quiet.  Em outubro de 1996, Björk finalmente desembarcou no Brasil , com shows marcados em São Paulo (12/10/96) e no Rio de Janeiro (13/10/96) , como parte do Free Jazz Festival . Fotos: ...

A paixão de Björk por Kate Bush

Foto: Divulgação "Eu gostaria de ouvi-la sem parar. Era muito divertido acompanhar sua música na Islândia. Eu acabei adquirindo os álbuns muitos anos depois que saíram, então eu não tinha qualquer contexto, eu estava simplesmente ouvindo-os no meu próprio contexto. E todas as minhas canções favoritas eram as “lado-B” do terceiro single , por exemplo. E então eu vi alguns documentários sobre ela, era a primeira vez que eu via as coisas de um ponto de vista britânico e eles estavam falando: "Ela esteve no Top 3 das paradas musicais, e foi no Top of The Pops , e fez muito melhor do que o fracasso do álbum anterior”. E foi o oposto total para mim! É tão ridículo, esta narrativa de sucesso e fracasso. Como, se você faz algo surpreendente, a próxima coisa tem que ser horrível. É como o tempo ou algo assim. Dez anos mais tarde, alguém assiste na Islândia ou na China e é totalmente irrelevante. Para mim, ela sempre representará a época de exploração da ...