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Maratona de entrevistas do "Utopia"


Resumão com vários pontos interessantes discutidos nas últimas entrevistas de Björk:

Em uma conversa com o Wall Street Journal, Björk falou sobre o quanto ela adora a produção de seus álbuns:

"Nós poderíamos ser escritores, arranjadores, cantores, produtores, seja lá o que fosse necessário", disse sobre Arca. Ela contou que ficou encantada com o processo de criação: "Eu senti como se estivesse comemorando algo. Pensei: "Estou de volta para casa!" (...) Eu estava obcecada com a leveza dos arranjos. Eu só queria fazer música de forma livre".

Para a "Radio Beats 1", Björk revelou que:

- "Sue Me" surgiu antes da Nina Bo'Nina Brown popularizar o bordão na 9° temporada de RuPaul's Drag Race, e ainda demonstrou interesse em fazer um remix com ela.

- Ela disse que sua filha Isadora está acostumada com seu visual excêntrico e que elas duas estão obcecadas por Drags, e que amam mexer com maquiagem e perucas.

- "Future Forever" foi composta em homenagem ao Arca, e a expressão "hold fort" (mantenha-se forte) foi tirada de um filme.

Fact Magazine: 

- Mensagens de Texto: "Oh, eu mando mensagens de texto pars as pessoas como uma louca", ela ri ao explicar. "Se eu estivesse com outras pessoas em uma sala, meu coração seria 51% de quem eu estou enviando mensagens de texto e apenas 49% das pessoas na sala". 

- Björk assistiu ao julgamento de Michael Jackson que foi amplamente exibido na TV: "Eu o segui de forma maníaca. Estava completamente aborrecida, além de curiosa para ver como a civilização trataria uma criatura como ele".

- Sua recente introdução ao Facebook: "No começo, eu não queria isso na minha vida. Então, quando eu o fiz, fui muito ao extremo. Se eu for fazer isso, quero que seja com gravidade e obsessão".

- Otimismo: "Quando se esteve no fundo do poço por tanto tempo, eventualmente, você irá flutuar até a superfície. Eu queria criar melodias que fossem como constelações nas nuvens".

- O nome de Arca na capa do disco: "Nós dois queríamos isso porque o modo com o qual trabalhamos era tão intenso".

- O nervosismo antes do lançamento de um novo álbum: "Eu ainda fico nervosa quando lanço um álbum. Seria estranho se eu não ficasse, sabe? Eu ficaria preocupada como se fosse tão necessário quanto beber um copo com água. É também traz aquele sentimento bom do tipo AHHHHHH. Há duas coisas diferentes: fazer um álbum com seus amigos em uma espécie de casulo protegido, e depois vê-lo se aventurar para a luz do lado de fora. Eu tenho feito isso por tempo o suficiente agora para saber que as pessoas reagirão de forma diferente de tudo aquilo que senti dentro do meu "casulo". Eles não entendem um elemento e exageram transformando-o em algo enorme, ou levam algo que é um grande problema para mim no álbum, tratando como "ah, esquece!". Então é assim. Aceito que as pessoas vão vê-lo diferente do que eu vejo, mas fico esperando que vejam algo próximo do que eu pretendia".

- O recomeço: "A primeira música que fizemos foi a primeira música no álbum, "Arisen My Senses". Na verdade, encontrei um loop de uma mixtape que o Alejandro/Arca tinha feito três anos antes. Não contei a ele sobre isso - fui lá e cantei e ele apenas explodiu de felicidade, sabe? Depois de termos tomado as mais tristes coordenadas entre nós e as combinarmos em "Vulnicura", estamos fazendo o contrário agora. E esse era um pouco o ponto de partida".

Depois disso, as músicas acabaram saindo. Nós realmente não sabemos como credenciar este álbum. (...) Em algumas situações, ele me enviou (instrumentais de) canções completas e eu compus baseado nisso, o que eu nunca tinha feito antes. Em "The Gate", o primeiro single, ele me enviou o instrumental e foi tão perfeito, que não precisava de edição. Na verdade, precisava sim de alguma edição [risos]. Então a partir dali eu escrevi o arranjo da flauta e meus vocais. "Claimstaker" também foi assim.

Em algumas outras, fizemos como em "Notget" do "Vulnicura", onde peguei uma música que ele já havia escrito e uma música minha que eu já tinha pronta, e nós fizemos uma mistura, um novo tópico com duas canções.

Penso que para mim, no começo do "Utopia", fiquei muito entusiasmada por me afastar da narrativa de "Vulnicura", que era tão pesada com isso de "eu e eu" e "pobre de mim". Eu só queria desaparecer e me tornar um dos instrumentos das canções".

- A mistura de vocais: "Todas as primeiras músicas que escrevi para este álbum, tinham três ou quatro vocais principais e nenhum deles estava à frente do outro. Parte disso foi porque eu estava fazendo um monte de VRs e queria criar algo onde meus vocais estariam ao meu redor. Mas, também, emocionalmente, eu acabei falando da auto-importância do narrador. Muitas das melodias têm cinco vocais e nenhum deles é o vocal principal. Eles são como declarações musicais".

- Aphex Twin não ouviu nada do "Utopia" antes do lançamento oficial, embora costuma trocar músicas com Björk por e-mail: "Se ouvimos uma faixa que pensamos que o outro vai gostar, enviamos, mas as músicas de outras pessoas".

- O poder positivo da tecnologia: "Eu acho que temos que nos reajustar o tempo todo. O progresso vai acontecer a gente gostando ou não. Nós não vivemos em cavernas. Já disse isso muitas vezes antes, mas toda invenção da raça humana, sempre foi incrível e milagrosa. Mas, então, as conseqüências são sempre: bom, ok, como podemos adaptar a moral a ela? Como podemos adaptar isso à alma humana? É sempre a mesma pergunta - seja com relação ao fogo, rádio ou o Facebook".

- Colaborações que não deram certo: 

.:: RZA (Wu-Tang) - "Eu acho que o que aconteceu foi que eu queria essas batidas islandesas, vulcânicas, e eu estava meio que lutando com isso. Fiz batidas em todos os meus álbuns, mas demora muito para fazê-las. E às vezes fico impaciente e quero que outras pessoas façam por mim, então eu sento lá e lhes descrevo o que eu quero façam. Então, eu estava na Espanha, e Wu-Tang Clan deveria ter ido para lá também. Mas meses passaram. Então o álbum terminou e o lancei. Então RZA ficou tipo: "Estou pronto! Devo ir para a Espanha?".

Em vez disso, fui a Nova York. Nós escrevemos várias músicas juntos. Às vezes, quando você faz coisas e não as planeja é como mágica. Eu realmente acho que o que fizemos foi mágico. Mas acredito que porque não era parte de toda a coisa de "Homogenic" e do que Wu-Tang estava fazendo na época, era melhor manter apenas como uma ideia, se é que isso faz algum sentido.

Nos encontramos algumas vezes - meu momento favorito foi quando fiz um DJset na loja Tower Records. Eu apareci - e sete dos Wu-Tang Clan se apresentaram. Eu estava sozinha, então quando eles apareceram me senti muito protegida. Foi mágico. Ao meu ver, eles são punk. Definitivamente somos [semelhantes] - fazemos coisas, de certa forma, como um ritual".

.:: Jay-Z - "Ele me pediu para escrever para um de seus álbuns. Era uma seção específica para uma música. Mas não aconteceu no final. Não era pra ser. Sempre me sinto lisonjeada quando as pessoas me convidam. Há muitas coisas que eu gosto sobre ele".

- A admiração por Rihanna: "O que eu acho mais incrível sobre ela nos últimos dois anos é como ela cresceu vocalmente. Como, sua voz em "Work" está tão presente. Adoro a emoção de suas batidas. Eu acho que ela foi realmente corajosa em seu último álbum por não pensar em singles. Ela fez as músicas que ela ouviria e dançaria para si mesma e pudemos perceber isso. Está no tom de sua voz. Isso é o que é fantástico. É sobre o som. Mas eu não sei. Eu simplesmente gosto disso, é assim tão simples".

Quem também deu uma entrevista também para a Fact Magazine, foi David Toop, artista responsável pelo álbum "Hekura", um dos favoritos de Björk, e que influenciou bastante o som de pássaros em "Utopia". Inclusive, a cantora sampleou vários dos sons deste disco: 

"O que Björk usou são as gravações noturnas de pássaros e insetos entre algumas de suas novas faixas. Ela me disse: "Eu quero usar seus pássaros". Quando ela entrou em contato comigo, disse que tem uma cópia original do álbum. E se ela tem, isso é extraordinário. Eu apenas fabriquei 500 e nos anos 70. 

A primeira vez que ela me contatou foi quando estava trabalhando no filme de Lars Von Trier, "Dancer In The Dark". Eu penso que foi muito desanimador para ela porque ela compôs canções que ela queria que as pessoas estivessem falando e, em vez disso, comentavam sobre essas histórias ridículas inventadas sobre o que estava acontecendo no set (como a de comer uma blusa). Então ela me perguntou se eu escrevi algo sobre a música que ela havia criado para esse filme. Eu acho que ela só queria uma espécie de reflexão séria porque seu papel como alguém que compõe ou trabalha em estúdio sempre foi subestimado".

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