- Você mencionou que "Utopia" é um álbum que fala sobre a busca de novas realidades no meio dessa era Trump. Mais especificamente, que "quando ocorre uma tragédia, é preciso inventar um novo mundo". Você quer dizer uma realidade emocional, política ou ambas?
Acho que a música pop é boa para isso. É uma maneira de simplificar e, ao mesmo tempo, conectar o pessoal com o universal. Escrevi, por exemplo, uma música chamada "Declare Independence", que é ao mesmo tempo sobre encorajar pessoalmente alguém que está sendo oprimido em um relacionamento, mas também sobre encorajar civilizações a se rebelarem. Mas também acho que, para mim, a utopia também é ambiental. Desde que Trump renunciou ao Acordo de Mudança Climática de Paris, estamos em uma situação de emergência. Vamos ter que definir a nossa utopia e, em seguida, torná-la uma realidade, mas não é tudo, pois temos que iluminar a nossa imaginação e pensar sobre como fazer de imediato um mundo que funcione com energia renovável.
- Você foi muito clara ao definir o "Vulnicura", seu álbum anterior. Como o processo criativo de "Utopia" era diferente e, de forma mais ampla, como você incorporou suas experiências pessoais em sua arte?
"Vulnicura" foi muito difícil de escrever, mas fácil de mixar. "Utopia" foi o contrário, talvez porque o "Vulnicura" foi construído de uma forma diferente com arranjos de cordas e batidas. Para "Utopia" formei um grupo de 12 flautistas na Islândia, todas as mulheres, e durante um ano e meio nos reunimos na minha cabana e ensaiamos e gravamos. Eu escrevi e modifiquei os arranjos, e os moldei para ter 14 músicas com a maior variedade de timbres de flautas possível. Eu acho que depois de "Vulnicura", que tinha melodias que não se moviam muito, e que também estavam "presas no chão", e tinham cordas e um ritmo muito pesado, fiquei muito animada para transformar este novo projeto em algo diferente e isso foi como fogos de artifício explodindo no céu. Havia muita estrutura e hierarquia em "Vulnicura", a voz como uma narrativa e o resto dos instrumentos ao seu serviço. Para o "Utopia", eu realmente queria me livrar de tudo isso e voltar com uma nova estrutura em que cada nota era igualmente importante. Voltando para a música em si.
- Na música "Blissing Me", do novo álbum, você canta sobre se apaixonar, esse momento em que se descobre alguém. Com o risco de ser simultaneamente muito óbvia e muito sentimental, o amor (entendido como o desejo de prolongar esse amor eternamente) é a maior utopia?
O amor é um mistério que todos experimentamos de diferentes maneiras. E é diferente toda vez, mas quando alguém está profundamente apaixonado, é como se escapasse da morte. Uma fusão com a eternidade.
- Em "The Gate" - talvez um dos momentos mais frágeis do álbum - você sintetizou os medos que o início de um novo relacionamento implica. De onde vem essa música, emocionalmente falando?
Eu sinto que para mim é a continuação de "Vulnicura". No lugar onde a ferida da ruptura é curada, no peito, como uma portão que cresceu através do qual você pode amar e ser amado. Então é quase como um exercício "Kundalini" em que as luzes se apagam e você é o único que pode reverter isso.
- O que você pode me falar sobre o processo de composição dos arranjos para este novo álbum? Por exemplo, a sequência de flautas para a música "Utopia".
Passei muito tempo experimentando os arranjos de flauta, e eu queria fazer algo como um cobertor peludo com "cor de pêssego" que fosse como uma textura irresistível e brilhante. Acho que eu ainda poderia passar mais 20 anos fazendo arranjos de flautas para torná-los perfeitos. Acredito que exista uma razão pela qual não havia músicas com 12 flautas e eu realmente gostei do enigma que significava mistura delas com o som de batidas e corais.
Revista "Cosas Lujo", novembro de 2017.
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