- Os últimos shows da turnê de "Vulnicura" que aconteceram na Geórgia: "Foi fantástico. Eu acho que agora é um dos meus lugares favoritos. É tão estranho estar em um país com uma cultura européia tão forte e não saber nada sobre isso".
- A profunda admiração de Björk por Arca gradualmente se transformou em uma amizade duradour: "Nós realmente somos conectados. (No início) costumávamos enviar e-mails un para o outro constantemente com links de canções de nossas coleções. Passamos o tempo todo com nossos amigos James Merry e Jesse Kanda, saindo de férias juntos, nos divertindo bastante e conversando sobre muita música".
- Consequentemente, "Utopia" celebra precisamente os elementos que a impulsionam até a luz com amizade, amor e esperança: "São os opostos polares de "Vulnicura", emocionalmente e musicalmente. Eu tinha feito as músicas mais tristes da minha vida, e eu senti que, como artistas, poderíamos fazer muito mais. Se tornou quase como uma brincadeira fazer o contrário".
- O início de "Arisen My Senses" sampleado do trabalho do Arca: "Sem saber disso, provavelmente eu estava tirando um elemento de seu personagem musical. O lado mais feliz, com um elemento euforico e talvez mais extremo e feliz do que o meu, e assim os juntei. Era uma espécie de nova coordenada, o oposto de "Vulnicura". Para mim, esse foi o ponto de partida".
- "Losss": "Essa música precisava ser sobre a mesma dor presente em "Vulnicura", mas um pouco menor, pois não é tão pessoal (quanto aquele disco), mas é preciso ter o mesmo tipo de sentimento".
- Donald Trump fora do Acordo Climático de Paris e o machismo na indústria musical: "Foi estranho que isso acontecesse enquanto eu estava fazendo esse álbum, porque ele é baseado mais na minha vida pessoal. Fiquei com o coração partido".
- Nas nuvens: Em "Vulnicura", Björk escolheu usar arranjos de cordas, como ela explica, "é fácil fazê-los parecer muito tristes". No entanto, as flautas dominam "Utopia", fazendo deste um álbum tão arejado como você pode imaginar: ""Vulnicura" era muito pesado, e as melodias tristes, então não se moviam muito do chão. Em "Utopia", as flautas são provavelmente os instrumentos musicais mais leves, pois seus sons são macios, como o vento, e fluem. Você sente que tem vento soprando sobre você. É para limpar o ar após o drama de "Vulnicura". Respirar".
- Sem paraíso: Na verdade, o conceito do álbum "Utopia" de Björk não se trata de escapar de uma situação ruim fechando a porta: "Se fossem apenas músicas felizes, eu teria chamado o álbum de "Paradise" ou algo assim. Sim, há momentos neste disco que são muito eufóricos e felizes, mas também conflitos como os de todos os filmes e histórias de ficção científica que os humanos criaram sobre um determinado lugar perfeito".
- Seguir em frente não significa esquecer; se você acabar com o seu passado, como pode aprender com seus erros e se curar?: "Quando se passa por um grande desgosto - ou qualquer perda - ficamos cheios de auto-piedade. Achamos que somos os únicos que já experimentaram tal dor, e então, uma vez que superamos, percebemos que todo mundo perde algo. De certa forma, esta sou eu superando minha auto-piedade e continuando com a minha vida. Eu acho que nunca fui tão honesta e "nua" sobre o fato de que para mim era difícil superar o desgosto. Tive que usar da minha vontade, e ser intencional sobre seguir a luz. Não vai acontecer por si só. É preciso decidirmos que iremos superar isso".
Sobre mudanças na política, Björk é otimista. Ela cita as mudanças urbanas feitas em Londres, quando há algumas décadas a poluição do ar das fábricas foi tão intrusiva que bloqueou o céu; ou aquelas realizadas em Paris, no momento em que a cidade desmantelou suas galerias subterrâneas para instalar um sistema adequado de esgoto: "Quando as autoridades perceberam que as mudanças sistemáticas poderiam melhorar a vida de todos, decidiram que os benefícios a longo prazo superavam os custos; sua visão utópica lhes deu um plano".
Ao longo de nosso tempo juntos, me parece que nunca há nada bobo ou simplificado demais no que Björk diz. Seus pensamentos são difíceis de acompanhar, mas eles têm a sabedoria de uma mulher que viveu. Ela é intencional com suas palavras, e ainda mais com sua música. Nada é deixado ao acaso - mas, ao mesmo tempo, deixa espaço suficiente para o humor e até auto-depreciação. Afinal, é preciso se divertir também. O que ela faz é puramente para si mesma - nada mais, e nada menos.
Terminamos com uma fala contagiosa e otimista. Björk quer deixar claro que, embora a mudança sistemática venha da política, todos podemos fazer escolhas conscientes quando se trata de mudanças sociais. E se parece sombrio ouvir que as energias eólica e solar podem ser abraçadas em breve pelos governos de direita devido aos seus benefícios além do não impacto ambiental, pelo menos isso já é uma mudança para melhor.
"Quando falo sobre utopia, é mais sobre a necessidade humana de tentar reescrever a receita. E não se trata apenas de definir o que desejamos, mas também tornar parte disso realidade. Porque mesmo que apenas a metade aconteça, já será muito bom".
- Entrevista de Björk ao Reykjavík Grapevine, Dezembro de 2017.