- "Utopia" foi lançado há 6 meses. Você se sente diferente sobre esse álbum agora?
Não mudou muita coisa devido à natureza do álbum. Meu último disco ["Vulnicura"] foi sobre ter o coração partido, todo mês eu me sentia diferente sobre aquelas músicas. Já esse se concentra o máximo possível nos pontos importantes. O tema é sobre como construir uma utopia. A realidade disso tudo é diferente. Os humanos são realmente desajeitados, mas de vez em quando acertam. "Utopia" é sobre essa tensão.
- O que te atraiu para a ideia da utopia?
Para mim, a Utopia é uma emergência. Foi uma reação à eleição de Trump. Eu estava paralisada, principalmente por causa dos problemas ambientais que ele não fará nada para resolver. Toda vez que a humanidade fica em apuros, é quando mudamos para uma velocidade maior [para solucionar]. Estamos vivendo em tempos em que precisamos reagir rapidamente. Precisamos definir qual é o nosso plano.
- Quais iniciativas lhe dão esperança? Você se sentiu emocionada com a "Marcha por Nossas Vidas"?
Sim, e essa é uma delas, com certeza. Quando eu estava morando em Nova York, minha filha foi para a escola a 45 minutos de Sandy Hook, onde as pessoas foram mortas [em 2012]. Na Islândia não temos exército, não há violência, quase não há assassinatos, então isso foi aterrorizante para mim. Quando eu conversava com as pessoas sobre isso, eles balançavam a cabeça e diziam: "Garotos serão garotos: não há nada que você possa fazer sobre isso." Eu não entendi! É gratificante para mim em tantos níveis que essas crianças tenham uma voz. Agora é algo como: "Não! Nós não vamos viver com isso, vamos mudar! É incrível e acho que pode se tornar realidade.
- Você acha que a música tem poder suficiente para mudar atitudes e criar comunidades?
Comecei a fazer turnê ainda quando jovem em uma banda punk. Tocamos na Berlim Ocidental antes do muro cair. Nós tivemos que economizar dinheiro por anos para poder comprar um carro de segunda mão muito ruim para dirigir pela Europa, dormindo no chão das casas das pessoas. Eu venho da onda do "faça você mesmo" onde cada show você pensa: isso é especial. Para nós, nunca foi sobre a fama mundial. Foi sobre conhecer outras pessoas que pensam como você, viajando pelo mundo, tendo essa conexão. Eu ainda me sinto do mesmo jeito.
- Desvendar "Utopia" foi tão assustador quanto o lançamento de "Vulnicura"?
"Vulnicura" tocou em um território no qual eu me sentia pressionada desde a adolescência: a mulher torturada Edith Piaf/Joana D'Arc com cordas e batidas. A civilização ocidental quer esse arquétipo de cantoras que cantam, então depois vem uma grande fumaça e elas morrem incendiadas. Eu tenho muitas personagens dentro de mim, como todas as mulheres - pelo menos 50. A desse disco é apenas uma delas. "Utopia" foi uma tentativa de inventar uma nova textura. É um álbum mais criativo para mim como produtora e uma declaração mais corajosa. Sou eu no meu elemento nerd musicista.
- A letra de "Blissing Me" é sobre enviar arquivos em MP3 para alguém e se apaixonar por uma música. Com que frequência você faz isso?
Com as pessoas que me importo? Faço um esforço para encontrar a música certa que sei que elas vão amar. Errarei algumas vezes, mas depois os acertarei bem na cabeça com uma outra canção. Acho que é um enigma tão emocionante para resolver. Envio muitas músicas para amigos. Todos os e-mails que recebem de mim são músicas, um ponto de exclamação e um título. É isso aí! Às vezes as palavras apenas me irritam. Minha coisa favorita é quando recebo uma canção de um amigo sem palavras. Especialmente quando estou acordando. Eu coloco para tocar e fico: "Simmm!".
- Há alguns anos, você revelou que muitas vezes não foi creditada como produtora durante sua carreira. É surpreendente que você ainda tenha que lidar com isso.
É o mesmo com as leis sobre o uso de armas e o movimento #MeToo: é uma maratona. Vai levar uma geração inteira para mudar isso. Eu fui bem direta. Foi a primeira vez que reclamei sobre algo assim como mulher. Dois dias atrás, alguém me enviou um artigo de um dos maiores sites de música que creditou os elementos de silêncio de “Black Lake” a Arca, o produtor com quem trabalhei no disco. Ele fez a batida dessa música, mas eu a escrevi meses antes dele aparecer no projeto. Isso já estava lá! Eles eram meus! O site disse que ele produziu a música inteira, não que havia sido o co-produtor. Eu não vou ficar chateada toda vez que der de cara com algo assim. Isso é um desperdício de energia! É difícil saber o que fazer para ser uma boa feminista. É para continuar reclamando? É para enviar um e-mail ao site? Isso parece ridículo.
- Você já sentiu que ser definida como uma artista "feminina" é algo que te limita?
Eu vi minha mãe e todas as mulheres nos anos 70 brigarem muito por seus direitos em muitas lutas, ganhando e perdendo muitas delas. Elas fizeram um grande trabalho para a minha geração! Foi meu papel ser essa pessoa liberta. Eu estava habilitada. Mesmo sendo mulher, fiz todas as coisas que os garotos faziam. Foi assim por 30 anos e isso é realmente importante. Não há uma resposta para essa pergunta. Nós vamos ter que fazer isso por outra geração, aproveitar todas as ocasiões para falar sobre isso e sempre usar nosso julgamento. Eu tenho que me lembrar que não estou fazendo isso por mim. Eu estou fazendo isso por todas as mulheres!
O próximo show de Björk será no All Points East Festival, que acontecerá em 27 de maio, em Londres, lugar que ocupa um lugar especial no coração da islandesa. Ela viveu lá durante o início de sua carreira solo: "Eu tenho muitos amigos aí. Estou sempre ansiosa para voltar!".