Pular para o conteúdo principal

"Eu nunca pensei em fazer nada 'estranho' com a minha arte. Não teria sido diferente se eu tivesse me tornado padeira".


Com os vídeos disponibilizados pelos fãs que foram ao show no festival "Primavera Sound", em Barcelona, pudemos observar a intro super interessante da nova turnê de Björk: O avatar do VR de "Family" aparece no telão ao lado de uma mensagem que diz:

"Isto é uma emergência! Para que possamos sobreviver como espécie, nós precisamos definir a nossa utopia. O acordo climático de Paris é uma utopia moderna impossível de se imaginar, mas superar nossos desafios com o meio ambiente é o único jeito de permanecermos vivos. Temos que imaginar que algo que não existe moldará intencionalmente o futuro e isso demanda espaço para que haja esperança tecendo uma "cúpula" matriarcal. Vamos imaginar e embarcar em um mundo onde a natureza e a tecnologia colaboram, criando uma canção sobre isso, um modelo musical. Vamos escrever músicas para o nosso destino. Em mitologias ao redor do mundo, depois de desastres, alguém captura esse espírito com uma flauta e começa de novo, trazendo a fauna. Aqui nós chegamos em uma nova ilha com espécies mutantes, híbridos desconhecidos de plantas e pássaros. Nosso passado ficou para trás, desligue-o. Vamos ser intencionais em seguir a luz. Imagine um futuro, esteja nele". 

Promovendo a nova turnê, Björk concedeu uma nova entrevista e falou sobre diversos assuntos ao DeMorgen, site da Bélgica, que receberá o show 'Utopia' em julho:

Assédio Sexual: "Esses miseráveis não podem mais seguir seu próprio caminho sem punições. Se um cara pula para a sua varanda no meio da noite sem permissão (se referindo à Lars Von Trier), você pode até estar com medo, mas tem que ousar gritar muito mais alto! Pude ir embora daquela situação já que não tinha ambições no mundo da atuação. Sempre me preocupei se outras pessoas poderiam fazer o mesmo. Eu já disse tudo o que precisava ser dito, mas publiquei aquilo por todas aquelas mulheres que são impedidas de dizer "não". Quase me senti como se estivesse pagando uma dívida. Tive a sorte de ficar longe de tudo isso porque achavam que eu era como um pássaro estranho, mas não é o futuro que vejo para a minha filha. 

Quando se é adolescente, acho que temos uma noção melhor da moral. Os jovens, de repente, veem o que está acontecendo de errado ao seu redor e tentam romper com isso. Fico feliz que muitas mulheres e artistas mais novos sejam mais emotivos quanto a esse aspecto. É como eu disse em "Tabula Rasa": "Não repetir os erros dos nossos pais".

Quando confrontada sobre a perspectiva dos homens sobre as canções do novo álbum, como "Sue Me", Björk respondeu: "Não acho que essa música possa estar sendo interpretada da forma correta. Isadora é a minha 'propriedade' mais preciosa, então entendo por que algumas pessoas entendem essa canção de forma tão pessoal. Existem bons pais o suficiente no mundo, incluindo o meu. E você não deve ser dos piores também (risos). Mas a coisa do patriarcado, esse é o grande problema ao qual eu me referia. No meu país, isso nunca existiu no tempo em que estou por lá. Quando criança, nunca me queixei de desigualdade de gênero. Todas as mulheres eram e são tratadas como independentes. Mas além das fronteiras daquela ilha, o que me parecia era que elas haviam desembarcado no terceiro mundo. Eu vi como foi ser uma garota jovem e entrar em uma sala cheia de executivos (fora da Islândia) me tratando como uma estúpida. Isso acontece com muita frequência, é absolutamente horrível! Eu entendo o quanto você como pai deve ter se sentido desconfortável ouvindo essas minhas novas canções, mas deve admitir que há pelo menos um pouco de verdade no que eu cantei ali".

"Eu conheço muitos homens maravilhosos! Mas, na verdade, estou decepcionada porque foram principalmente eles que nos empurraram para esse abismo que se encontra o nosso mundo. A ideia que eu quero transmitir com esse projeto é que, agora é a vez das mulheres. Dê a elas a chance de consertar as coisas (...) Eu realmente acho que podemos escrever o futuro".

Catarse: "Os meus fãs realmente foram atraídos pelo "Vulnicura", com músicas que vieram do lugar mais sombrio do meu coração, mas eu não conseguia mais mergulhar na tristeza todas as noites nos palcos, principalmente quando vi que todos os que estavam presentes nos shows estavam meio "mortos" comigo. Eu acredito fortemente no carma. Não devemos nos entregar muito à autopiedade, senão ficaremos ainda mais infelizes. Depois que percebi isso, fui correndo compor novamente. Eu não sabia que as gravações demorariam dois anos e meio, claro (risos)".

Setlist: "Nos palcos, eu me sinto mais em casa do que nunca! Houve momentos em que eu odiava voltar a tocar os mesmos sucessos, como "Big Time Sensuality", "It's Oh So Quiet"... Me sentia como um 'jukebox', mas agora estou em paz com todas as minhas músicas. Elas pertencem a mim, mas nem sempre tenho que carregá-las comigo. Ocasionalmente eu escolho alguma que se adapte ao meu humor".

Lançar um álbum de Jazz: "Não. Eu acho que seria previsível demais. Sempre fui do tipo: "não tenho ideia de como quero soar amanhã com a minha música". Tenho uma canção antiga chamada "There's More To Life Than This", que foi gravada ao vivo em um banheiro de uma festa que estava acontecendo. É possível ouvir isso no eco e nos sons de fundo. Não sei explicar por qual motivo eu fiz isso, mas enfim, achei que precisava estar lá no disco. Pode parecer ingenuidade, mas prefiro o instinto do que a razão. É possível ir muito mais longe, acredite em mim!".

Sobre seu trabalho ser considerado 'estranho': "Eu nunca pensei em fazer nada 'estranho' com a minha arte. Não teria sido diferente se eu tivesse me tornado padeira. Eu prometo passar por aí com um show simples*". (*Os jornalistas responsáveis pela matéria dizem ter suspeitado que essa última parte tenha sido uma piada, quando foram revisar a entrevista KKKKK).

"Estou tão feliz por poder tocar no Sint-Pietersplein de Ghent. Eu amo a beleza monumental desse lugar e tocar ao ar livre, mas tenho uma certa agonia de estádios, realmente odeio isso! As arenas não apenas tem uma acústica horrível, como também não me fazem sentir nada! Todo aquele monte de concreto frio, os assentos uniformes, não é a utopia que tenho em mente. Em teatros, a conexão com o público é muito mais fácil, até mesmo em grandes festivais". 

Postagens mais visitadas deste blog

Sindri Eldon explica antigo comentário sobre a mãe Björk

Foto: Divulgação/Reprodução.  O músico Sindri Eldon , que é filho de Björk , respondeu as críticas de uma antiga entrevista na qual afirmou ser um compositor melhor do que sua mãe.  Na ocasião, ele disse ao Reykjavík Grapevine : "Minha principal declaração será provar a todos o que secretamente sei há muito tempo: que sou melhor compositor e letrista do que 90% dos músicos islandeses, inclusive minha mãe".  A declaração ressurgiu no Twitter na última semana, e foi questionada por parte do público que considerou o comentário uma falta de respeito com a artista. Na mesma rede social, Sindri explicou:  "Ok. Primeiramente, acho que deve ser dito que isso é de cerca de 15 anos atrás. Eu era um idiota naquela época, bebia muito e estava em um relacionamento tóxico. Tinha um problema enorme e realmente não sabia como lidar com isso. Essa entrevista foi feita por e-mail por um cara chamado Bob Cluness que era meu amigo, então as respostas deveriam ser irônicas e engraçadas. Eu

Saiba tudo sobre as visitas de Björk ao Brasil

Relembre todas as passagens de Björk por terras brasileiras! Preparamos uma matéria detalhada e cheia de curiosidades: Foto: Reprodução (1987) Antes de vir nos visitar em turnê, a cantora foi capa de algumas revistas brasileiras sobre música, incluindo a extinta  Bizz,  edição de Dezembro de 1989 . A divulgação do trabalho dela por aqui, começou antes mesmo do grande sucesso e reconhecimento em carreira solo, ainda com o  Sugarcubes . 1996 - Post Tour: Arquivo: João Paulo Corrêa SETLIST:  Army of Me One Day The Modern Things Venus as a Boy You've Been Flirting Again Isobel Possibly Maybe I Go Humble Big Time Sensuality Hyperballad Human Behaviour The Anchor Song I Miss You Crying Violently Happy It's Oh So Quiet.  Em outubro de 1996, Björk finalmente desembarcou no Brasil , com shows marcados em São Paulo (12/10/96) e no Rio de Janeiro (13/10/96) , como parte do Free Jazz Festival . Fotos:  André Gardenberg, Folhapres

Debut, o primeiro álbum da carreira solo de Björk, completa 30 anos

Há 30 anos , era lançado "Debut", o primeiro álbum da carreira solo de Björk : "Esse disco tem memórias e melodias da minha infância e adolescência. No minuto em que decidi seguir sozinha, tive problemas com a autoindulgência disso. Era a história da garota que deixou a Islândia, que queria lançar sua própria música para o resto do mundo. Comecei a escrever como uma estrutura livre na natureza, por conta própria, na introversão". Foi assim que a islandesa refletiu sobre "Debut" em 2022, durante entrevista ao podcast Sonic Symbolism: "Eu só poderia fazer isso com algum tipo de senso de humor, transformando-o em algo como uma história de mitologia. O álbum tem melodias e coisas que eu escrevi durante anos, então trouxe muitas memórias desse período. Eu funcionava muito pelo impulso e instinto". Foto: Jean-Baptiste Mondino. Para Björk, as palavras que descrevem "Debut" são: Tímido, iniciante, o mensageiro, humildade, prata, mohair (ou ango

Nos 20 anos de Vespertine, conheça as histórias de todas as canções do álbum lendário de Björk

Vespertine está completando 20 anos ! Para celebrar essa ocasião tão especial, preparamos uma super matéria . Confira detalhes de todas as canções e vídeos de um dos álbuns mais impressionantes da carreira de Björk ! Coloque o disco para tocar em sua plataforma digital favorita, e embarque conosco nessa viagem.  Foto: Inez & Vinoodh.  Premissa:  "Muitas pessoas têm medo de serem abandonadas, têm medo da solidão, entram em depressão, parecem se sentir fortes apenas quando estão inseridas em grupos, mas comigo não funciona assim. A felicidade pode estar em todas as situações, a solidão pode me fazer feliz. Esse álbum é uma maneira de mostrar isso. "Hibernação" foi uma palavra que me ajudou muito durante a criação. Relacionei isso com aquela sensação de algo interno e o som dos cristais no inverno. Eu queria que o álbum soasse dessa maneira. Depois de ficar obcecada com a realidade e a escuridão da vida, de repente parei para pensar que inventar uma espécie de paraí

Björk nega história envolvendo o músico argentino Charly Garcia: "Não sei quem é"

O livro "100 veces Charly" compila histórias que ocorreram na vida de Charly Garcia . Um desses relatos foi muito comentado ao longo dos anos. Após uma apresentação da "Volta Tour" na Argentina, o cantor e compositor teria tentado chamar a atenção de Björk em um jantar. Foi relatado que o músico era um grande fã e queria algum tipo de colaboração musical. Estava animado em conhecê-la, e junto de sua equipe descobriu o lugar que ela estaria e foi até lá para tentar tocar com ela e outros músicos argentinos. Pedro Aznar, Gaby Álvarez, Gustavo Cerati e Alan Faena. No entanto, Björk não apareceu de imediato e ficou em seu camarim no Teatro Gran Rex. Algumas horas depois, ela quis sair para comer. Assim, uma longa mesa foi montada para ela, sua equipe e banda. E então os músicos argentinos se juntaram a eles. Apesar das tentativas de Charly de iniciar uma conversa, Björk o teria ignorado completamente, conversando apenas com a amiga islandesa ao lado dela. A história fo