Em nova entrevista, Björk comenta novamente sobre os temas que cercam seu novo álbum, "Utopia": "As pessoas se referem à natureza como algo externo, mas somos parte dela. "Quando chamei o disco de "álbum Tinder" foi uma piada, e tenho um péssimo senso de humor. Eu usei essa comparação para descrever um certo sentimento, uma abertura, uma curiosidade, uma disposição para começar um novo período. Esse momento é crucial, entre um capítulo final e um novo capítulo inaugural. Eu nunca nem usei esse aplicativo. Sabe o que me interessaria em algo assim? Um no qual as estatísticas se baseassem em coleções de álbuns. Não seria uma ótima maneira de conhecer novas pessoas? Anonimamente, apenas a partir do gosto musical?".
Voltando ao assunto das máscaras, que tanto causa repercussão, a islandesa respondeu: "Eu não gostava de viver sob os flashs, era como se roubassem minha energia. Com o uso das máscaras, eu inverto os papéis: Eu escolho qual energia libero, qual impressão eu quero deixar, mas na realidade, não quero esconder nada com essas máscaras, muito pelo contrário. Usando uma máscara, eu posso ser mais expressiva, é como uma fantasia, que pode dizer tantas coisas: tristeza, dor, raiva, mas também alegria. Eu também só gosto de fingir que vim de uma ilha futurista. (risos). Um ser híbrido que vive entre todos os tipos de outras criaturas estranhas". <3
Björk pode muito bem esconder seu rosto, mas tem uma coisa que nunca deixará com que ela passe por aí sem chamar atenção: sua voz. Então o que aconteceria se ela perdesse este instrumento?: "Oh, eu sempre perco a minha voz, sabe. Quando eu estava tocando em bandas punks, isso já acontecia comigo o tempo todo. Com o passar dos anos, comecei a ter consciência da importância/gravidade disso. Talvez apenas quando fiz "Vespertine", um álbum que criei apenas usando um laptop e a minha voz. Ao mesmo tempo, foi esse disco que me libertou da ideia de que eu era apenas "uma cantora". Desde então sou autossuficiente. Eu posso produzir, escrever meus arranjos, eu sou mais que "uma voz". O que eu quero dizer é que levei quase três anos para fazer o "Utopia" e durante esse tempo, eu cantei (somando tudo) por no máximo dez horas, enquanto eu levava meses e meses para projetar o álbum, masterizá-lo, e fazer a mixagem. Então, mesmo que eu perdesse a minha voz para sempre, eu continuaria a fazer música, com certeza".
Eu cresço com a minha voz, cantar é algo que me muda constantemente, e acho que devemos nos alegrar quando acontece isso. Uma das coisas mais bonitas do mundo é ir até uma ilha, nadar no mar, e depois abrir a boca e soltar toda a liberdade da voz, seja ela qual for, com 25 ou 55 anos, sendo alguém jovem ou velho, da Papua Nova Guiné ao Peru ou à Inglaterra. Enfim, a voz é o melhor instrumento para nos expressarmos, e é por isso que eu amo muito o karaokê (risos)".
Mas todas as vozes são musicais? Até a de Donald Trump? "Sim, mas eu realmente tenho que responder isso? Apoiando ou não esse cara e a sua total indiferença, estamos falando do presidente do país mais poderoso do mundo. E nada disso aqui é sobre poder ou fronteiras, é sobre sobrevivência. A sobrevivência do nosso planeta. Isso ainda é algo que toda criatura quer, não?".
Flautas: "É um instrumento muito mais humano do que um violino. Por exemplo, é como se com uma flauta, fosse possível beijar alguém, dar vida a essa pessoa. E isso é algo tão cheio de vida, mesmo com o uso de um sintetizador, sabe. O som dela também pode ser imitado sem qualquer instrumento, simplesmente com nossos lábios, assobiando. Para mim, tocar flauta é sinônimo de um recomeço, como toda vez que aspiramos o ar do nosso pulmão".
Arca: "Ele sabe muito mais da minha discografia do que eu mesma. Provou isso ao me lembrar de algumas músicas. Ele investiu tempo e energia para colaborar comigo em "Utopia" e sou muito grata por isso. Não está me acompanhando na turnê porque está ocupado com sua própria música".
Mas e os pássaros do "Utopia"? Também podemos esperar por eles na banda da islandesa?: "Eu adoraria, mas primeiro eu teria que fazer com que eles assinassem um contrato".
E ela usou pássaros venezuelanos, da terra do Arca!: "Não os coloquei no disco porque eu queira dominar a cultura venezuelana, mas sim porque são sons exóticos, e quando digo isso, me refiro ao oposto do que é considerado "normal". O oposto de entediante".
Em 11 de Julho, a nova turnê de Björk passará por Ghent, na Bélgica: "Eu já estive lá quando ainda era adolescente. Meus amigos e eu dançamos bastante na boate Boccaccio, e eu nunca vou esquecer isso. Os seguranças eram muito agressivos, eles tinham cachorros, um deles até mordeu meu lábio (risos). Oh, mas até que não foi uma experiência negativa, eu considero esta cicatriz uma das minhas feridas de guerra!".