Foto: Harley Weir |
Confira a tradução de mais uma parte do especial da Dazed sobre Björk. Em novembro de 2019, a revista publicou sua nova edição dedicada inteiramente à artista islandesa. A jornalista Kristen Bateman conversou com uma das mentes criativas que colaboram com a cantora, a make-up artist e drag queen Hungry.
Nos últimos anos, ela tem sido reconhecida por ultrapassar o convencional, já que eleva os limites do que é esperado, remodelando os olhos, as maçãs do rosto e a boca para novas formas orgânicas inspiradas nos animais e na natureza. Com Björk, o resultado pôde ser conferido também em todas as obras de Utopia, desde 2017. “Há muita liberdade e muita confiança em nosso time. Discutimos bastante sobre como a personagem desse álbum se sente, como deveria se apresentar para o público", ela explicou na entrevista. Separamos alguns trechos sobre o processo criativo de sua carreira, que também podem ser vistos no universo do álbum:
O interesse pela maquiagem: "Na minha escola, eu fazia aulas de teatro, mas na época era apenas maquiagem para ser usada no palco, eu não estava necessariamente interessada nisso, ainda não via como uma possibilidade criativa. A primeira vez que me interessei por essa estética foi a partir de um amigo, que aplicou em mim. Foi quando percebi o quanto podia transformar o meu rosto, eu nunca havia o visto como uma tela. Eu provavelmente tinha cerca de 21 anos. Comecei a experimentar sozinha, recebia produtos descartados dos meus amigos. Era como um hobby. Acho que depois de um ano, comecei a realmente gostar disso, mas ainda no modo clássico da coisa. Depois que me mudei para Londres, me inseri na cena e vi que não era só ser uma drag queen, mas uma personagem interessante. Muitas vezes eu nem sabia o que estava fazendo. Comecei a mapear meu rosto de maneiras diferentes e sempre que encontrava uma maneira que realmente me agradava, inseria em meu 'catálogo'. Eu fazia shows semanais em Londres, que exigiam que cada vez mais que eu fosse criativa, uma espécie de alienígena. Explorei tudo aquilo que eu poderia encontrar dentro de mim. Hoje, tenho essa ilusão que me faz parecer mais animalesca, algo meio assustador, mas também fofo. Penso que é uma vibe meio de inseto".
A criação de um novo personagem: "A estrutura de ossos simplesmente ficou presa em mim nos meus trabalhos. Essas formas orgânicas, dinâmicas e a simetria que as acompanham nem sempre são perfeitas, mas acabam aparentando isso porque são muito bem equilibradas. Essa é sempre a essência por trás daquilo que me inspira. Dependendo dos personagens, das roupas e das performances que faço, é sempre uma coisa diferente, às vezes até a religião, porque cresci muito católica, e meu pai é da Tailândia, então também carrego essa tradição. Primeiramente, começo com um esquema de cores ou um tecido, e desenvolvo a partir disso. Eu ainda tenho no meu histórico o design de moda, uma das coisas que gosto de focar, então a maquiagem, para mim, é um detalhe. Uma vez que tudo está finalizado, descubro qual será o rosto desse personagem".
O futuro da maquiagem como extensão da beleza: "É definitivamente uma maquiagem mais ousada, porque já passamos do ponto da beleza ocidental padronizada. É mais um aspecto pessoal. Quero dizer, provavelmente não deste jeito que faço, pois ainda considero mais como uma coisa de teatro performático. As pessoas não precisam mais ficar usando maquiagem natural. Podem até mesmo não usar nenhuma. Não é para ser algo estigmatizado, é tudo sobre ter a liberdade de seguir a vida como desejamos. E acho que ainda estamos bem longe disso".