Pular para o conteúdo principal

A coreografia do show Cornucopia

Foto: Santiago Felipe

Para a Dazed, Margrét Bjarnadóttir, coreógrafa de Cornucopia, revela como fez a banda do espetáculo se mover como um conjunto de pétalas: 

Antes de trabalhar com a lenda da música, Margrét costumava usar as canções da estrela islandesa quando precisava sair da rotina e superar um bloqueio criativo, descobrindo novos movimentos de dança em si mesma: "Cada um de seus álbuns é como um mundo totalmente novo. É como se despertassem partes diferentes nossas. Realmente não achei isso em nenhum outro artista, essa conexão tão clara e direta. Não tenho que forçar nada, simplesmente acontece". 

Então, quando Björk procurou Bjarnadóttir para coreografar o clipe de Utopia em 2017, tudo se ajustou de forma perfeita. Ela que, além de coreógrafa, é artista visual, escritora e atriz, foi fundamental para criar o mundo autônomo do vídeo, no qual as flautistas imitam o lento desenrolar de uma planta. Ela trouxe essa visão para os shows ao vivo da cantora, nas duas turnês do disco, e cuidou especialmente dos movimentos do septeto Viibra.

"Björk falou comigo sobre sua visão para o show. Ela queria tornar a música presente através do movimento, não apenas com o som das flautas". A partir desse resumo, ela criou dois dos shows mais memoráveis ​​da música pop recente, Utopia Tour e Cornucopia.

"Quando eu era estudante de dança, comecei a gostar de improvisar muito mais do que aprender as coisas, porque talvez do contrário não me conectaria com a coreografia. E é assim quando estou trabalhando com dançarinos ou artistas, eu realmente gosto de destacar e ajudar encontrar aquilo que é especial para eles, seu estilo. Meu maior medo é matar a alegria da canção. Não faz sentido fazer coreografia se acabarmos com a energia bruta e o movimento natural da dança. 

Claro que com as flautistas, existem algumas restrições, e realmente gosto de trabalhar assim. No caso delas, era não poder usar as mãos. Levar a respiração em consideração é realmente importante, pois elas precisam dela para tocar o instrumento. Eu não conhecia a flauta tão bem, nunca sequer tinha segurado uma na minha vida. Tive que aprender como essas pessoas poderiam se mover naturalmente, usando isso como inspiração, mas depois exagerando, dando-lhe alguma forma. Mas acredito que as flautistas nunca se sentem contidas. Tentei encontrar uma maneira de fazer com que parecesse natural para elas. Eu sabia que haveria algum momento no período de ensaios, em que todos se sentiriam realmente sem esperança. Mas todos ali têm algo em comum, são perfeccionistas. Eles pegaram o jeito!

O visual desse show (a partir da criação de Björk) é tão forte que eu podia ver a direção que tudo estava tomando. Os dançarinos meio que se tornaram como criaturas daquele mundo, que mudou um pouco entre Utopia e Cornucopia. Me lembro que quando a Lucrecia Martel veio ao primeiro ensaio, ela disse: "Estou pensando em ter menos flores". Os vídeos são um elemento muito grande nesse show. Eu não precisei lutar contra isso, não há um tipo de batalha. Tudo está colaborando para o todo.

Acredito que a criatividade é como uma espécie de poço infinito, que a gente simplesmente ainda não viu tudo, que só exploramos 8%. E, com frequência, alcançamos os mesmos 8% o tempo todo. Há um recurso enorme lá, que às vezes é preciso um esforço para poder ter acesso. 

Na universidade, eu tive um professor que me deu um conselho dizendo que seria complicado me interessar por tantas coisas diferentes, que isso era um desperdício da minha energia, já que eu mexia com arte visual, escrita, criação de vídeos, coreografias... Na opinião dele, eu deveria escolher uma área só. Porque, caso contrário, me tornaria amadora em todas essas coisas e não seria boa em nada. Eu realmente levei ele a sério, mas por uma semana. Depois entendi que esta é a única maneira que eu poderia trabalhar. De alguma forma, estando nesses diferentes campos, tudo ainda está ligado, e isso que me despertou interesse e que me deu combustível para trabalhar. Não sei se teria percebido isso se ele não tivesse me dado esse mau conselho". 

--
Comemore o aniversário de 54 anos da Björk assistindo aos episódios legendados da nossa Websérie, que narra a trajetória dela na música. Para conferir, clique AQUI.


Postagens mais visitadas deste blog

Nos 20 anos de Vespertine, conheça as histórias de todas as canções do álbum lendário de Björk

Vespertine está completando 20 anos ! Para celebrar essa ocasião tão especial, preparamos uma super matéria . Confira detalhes de todas as canções e vídeos de um dos álbuns mais impressionantes da carreira de Björk ! Coloque o disco para tocar em sua plataforma digital favorita, e embarque conosco nessa viagem.  Foto: Inez & Vinoodh.  Premissa:  "Muitas pessoas têm medo de serem abandonadas, têm medo da solidão, entram em depressão, parecem se sentir fortes apenas quando estão inseridas em grupos, mas comigo não funciona assim. A felicidade pode estar em todas as situações, a solidão pode me fazer feliz. Esse álbum é uma maneira de mostrar isso. "Hibernação" foi uma palavra que me ajudou muito durante a criação. Relacionei isso com aquela sensação de algo interno e o som dos cristais no inverno. Eu queria que o álbum soasse dessa maneira. Depois de ficar obcecada com a realidade e a escuridão da vida, de repente parei para pensar que inventar uma espécie de paraí

Saiba tudo sobre as visitas de Björk ao Brasil

Relembre todas as passagens de Björk por terras brasileiras! Preparamos uma matéria detalhada e cheia de curiosidades: Foto: Reprodução (1987) Antes de vir nos visitar em turnê, a cantora foi capa de algumas revistas brasileiras sobre música, incluindo a extinta  Bizz,  edição de Dezembro de 1989 . A divulgação do trabalho dela por aqui, começou antes mesmo do grande sucesso e reconhecimento em carreira solo, ainda com o  Sugarcubes . 1996 - Post Tour: Arquivo: João Paulo Corrêa SETLIST:  Army of Me One Day The Modern Things Venus as a Boy You've Been Flirting Again Isobel Possibly Maybe I Go Humble Big Time Sensuality Hyperballad Human Behaviour The Anchor Song I Miss You Crying Violently Happy It's Oh So Quiet.  Em outubro de 1996, Björk finalmente desembarcou no Brasil , com shows marcados em São Paulo (12/10/96) e no Rio de Janeiro (13/10/96) , como parte do Free Jazz Festival . Fotos:  André Gardenberg, Folhapres

Björk nega história envolvendo o músico argentino Charly Garcia: "Não sei quem é"

O livro "100 veces Charly" compila histórias que ocorreram na vida de Charly Garcia . Um desses relatos foi muito comentado ao longo dos anos. Após uma apresentação da "Volta Tour" na Argentina, o cantor e compositor teria tentado chamar a atenção de Björk em um jantar. Foi relatado que o músico era um grande fã e queria algum tipo de colaboração musical. Estava animado em conhecê-la, e junto de sua equipe descobriu o lugar que ela estaria e foi até lá para tentar tocar com ela e outros músicos argentinos. Pedro Aznar, Gaby Álvarez, Gustavo Cerati e Alan Faena. No entanto, Björk não apareceu de imediato e ficou em seu camarim no Teatro Gran Rex. Algumas horas depois, ela quis sair para comer. Assim, uma longa mesa foi montada para ela, sua equipe e banda. E então os músicos argentinos se juntaram a eles. Apesar das tentativas de Charly de iniciar uma conversa, Björk o teria ignorado completamente, conversando apenas com a amiga islandesa ao lado dela. A história fo

Ísadora Bjarkardóttir Barney fala sobre sua carreira como artista e o apoio da mãe Björk

Doa , também conhecida como d0lgur , é uma estudante, funcionária de uma loja de discos ( Smekkleysa ), cineasta, cantora e agora atriz. Em abril, estreia nas telonas no novo filme de Robert Eggers , The Northman . Ela interpreta Melkorka , uma garota irlandesa mantida em cativeiro em uma fazenda islandesa, que também gosta de cantar.  O nome de batismo da jovem de 19 anos, é Ísadora Bjarkardóttir Barney .  "Bjarkardóttir" reflete a tradição islandesa de usar nomes patronímicos ou matronímicos . Ou seja, o segundo nome de uma criança é baseado no primeiro nome de sua mãe ou pai. Assim, "Bjarkardóttir" significa o "dóttir" – filha – de "Bjarkar". Isto é, de Björk . E Barney vem do pai Matthew Barney, que nasceu nos Estados Unidos.  Na nova edição da revista THE FACE , a artista falou sobre sua carreira. Ela vive entre Reykjavík e Nova York , onde nasceu em outubro de 2002. Confira os trechos em que citou a mãe, a nossa Björk.  " Sjón e min

Sindri Eldon explica antigo comentário sobre a mãe Björk

Foto: Divulgação/Reprodução.  O músico Sindri Eldon , que é filho de Björk , respondeu as críticas de uma antiga entrevista na qual afirmou ser um compositor melhor do que sua mãe.  Na ocasião, ele disse ao Reykjavík Grapevine : "Minha principal declaração será provar a todos o que secretamente sei há muito tempo: que sou melhor compositor e letrista do que 90% dos músicos islandeses, inclusive minha mãe".  A declaração ressurgiu no Twitter na última semana, e foi questionada por parte do público que considerou o comentário uma falta de respeito com a artista. Na mesma rede social, Sindri explicou:  "Ok. Primeiramente, acho que deve ser dito que isso é de cerca de 15 anos atrás. Eu era um idiota naquela época, bebia muito e estava em um relacionamento tóxico. Tinha um problema enorme e realmente não sabia como lidar com isso. Essa entrevista foi feita por e-mail por um cara chamado Bob Cluness que era meu amigo, então as respostas deveriam ser irônicas e engraçadas. Eu