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O processo criativo do show Björk Orkestral

"Quando comecei a planejá-lo, seria um dos eventos mais espontâneos que já fiz. Acabou sendo o oposto. Mas para mim, pessoalmente, isso foi uma espécie de presente, pois significava que eu poderia terminar calmamente o novo álbum na minha própria casa. 

Em parte, a motivação desses shows também foi uma reação aos primeiros lockdowns por causa da COVID. Estávamos todos presos em nossas casas. Como poderíamos aproveitar ao máximo o que temos? Bom, nós, como Islandeses, somos muito sortudos, porque a situação da pandemia aqui tem sido consideravelmente melhor em comparação com a maioria dos outros países que tiveram que lidar com essa doença. 

E claro, para a minha alegria, temos aqui na Islândia alguns dos melhores instrumentistas do mundo. Esse foi talvez o principal estímulo para o show. Meu maior estresse foi que meio que matei a espontaneidade dessas apresentações. O que me deixou muito grata foi o fato de ter sido espontâneo desde o início. Com os adiamentos dos concertos, continuei adicionando muitas preparações, mas ainda sem interromper o fluxo para não organizar muito. Então, dessa perspectiva, também foi ótimo. 

Como cantora, acho que a maior mudança para mim, é que esses foram shows de 1hr, diferente das 2hrs que costumo fazer. Geralmente, não me sinto muito confortável em me assistir, mas cerca de 3 dias depois do 1º show, decidi ver a gravação para aprender com o resultado.

Eu fiquei tipo: "Oooh, ok! Eu estava guardando para...". Estava me segurando, sabe? Então entendi que no próximo, precisaria trazer as faixas fortes mais cedo, para me aquecer já na segunda música. Normalmente, quando tenho sets longos como o de Cornucopia, de uma concepção vocal, tenho meia hora de músicas calmas para ir me aquecendo. É realmente como uma maratona, e uma vez que a linha de chegada se aproxima, podemos começar a puxar as mais fortes, acertar algumas notas malucas, uma vez que sabemos que temos o suficiente para durar.

No 1º show, eu estava extremamente perto do microfone. Ficou meio engraçado, [o som] não era particularmente alto, mas isso foi bom para mim. E outro fato engraçado sobre aquele dia, diz respeito à música para os instrumentistas, assim como para mim. É que em um show normal, tentamos ter um setlist dinâmico. Então você ouviria uma música calma tocada em um Cravo, uma canção techno maluca em seguida, e aí uma faixa na flauta. Tentamos incluir todas as cores. Mas agora, trabalhamos apenas com uma em cada apresentação.

A primeira foi uma hora de "doçura", porque todas as músicas lá eram sentimentais e doces, então tínhamos 32 cordas para aquilo. Foi tipo: "Oh, uma doce canção sentimental. Ok, legal!". "Oh, outra doce canção sentimental. Ok!". "Oh, mais uma doce canção sentimental!".

No show com o coral, o repertório era "trúnó profundo" [de coração para coração], com raízes islandesas. Daí chamei o Hamrahlid Choir. No 3º concerto, com flautas e metais, era o meu lado "excêntrico", no qual talvez eu tenha feito algo incomum. Alguns experimentos com os arranjos, apenas meu lado esotérico, se posso dizer assim.

O concerto final trouxe uma orquestra de cordas com 15 pessoas, e isso é puro drama. 1hr de choro, pessoal. Todas as canções tristes, uma seguida da outra. E aí depois deveríamos ir a uma festa e esquecer disso, acabar com o drama de uma vez.

Talvez esse seja um projeto que venho mantendo ao longo dos anos. Os diferentes arranjos e partituras existem e estão acessíveis no formato digital. É possível comprá-los online, para depois imprimir e tocar em casa. É uma ideia que provavelmente começou com Biophilia, há 12 anos. A de que devemos obter junto com as partituras, as faixas também no formato MIDI e em Mp3 ao comprar online, para desfocar/recriar ou apagar lacunas entre elas.

Em 2017, eu e o Jónas Sen fizemos um livro, 34 Scores for Piano, Organ, Harpsichord and Celeste, com partituras das minhas músicas para teclados. Trabalho com M/M Paris há 20 anos. Conversamos com eles e criamos um novo tipo de fonte para notas musicais, para usar nas partituras. Colocamos muita pressão no pessoal do Sibelius, um programa usado também para escrever música clássica. Queríamos implementar um recurso para incluir novos tipos de fontes, e eles nos disseram para esquecer isso. Nós ficamos tipo: "O que?".

De qualquer forma, nos tornamos entusiastas de tipos de notas musicais. Agora temos um pequeno projeto em andamento no selo Smekkleysa / Bad Taste. Entrei em contato com muitos amigos da música, principalmente mulheres, e estamos tendo um "Mês da Partitura Digital", já que pode ser muito difícil encontrar partituras para várias canções islandesas. E muitas dessas mulheres agora estão me enviando! Em breve, poderemos oferecer acesso a muitas partituras".

- Björk em entrevista para Rás 1, outubro de 2021.
- Créditos: Fanpage My Name Isobel

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