Dias de muitas novidades! "Ovule" é o 2º capítulo do álbum "Fossora", e o single já chegou com um belo vídeo dirigido pelo lendário Nick Knight, que já havia colaborado com Björk em diversos projetos, incluindo a capa icônica de "Homogenic" (1997) e o clipe de "Pagan Poetry” (2001). Alessandro Michele da Gucci criou o vestido que a artista aparece usando. A máscara é assinada por James Merry.
"Eu quero compartilhar esse vídeo, que existe graças ao magnificamente talentoso Nick Knight!!! Estou muito agradecida pelo nosso segundo videoclipe juntos. Estou tão sublimemente honrada por estar em suas mãos talentosas!! Eu não posso nem acreditar na quantidade de amor e cuidado que foi colocado nisso, Nick. Obrigada por fazer isso comigo", disse Björk nas redes sociais.
A letra e todos os arranjos de "Ovule" são da própria islandesa. Os beats foram criados em parceria com Sideproject. A faixa foi produzida por ela, com produção adicional de El Guincho. Heba Kadry foi a Engenheira de Masterização e de Mixagem.
No Instagram e nos stories, Heba disse: "É uma enorme alegria e uma honra indescritível trabalhar com Björk, uma dos maiores produtoras e mentes musicais deste planeta. É uma honra testemunhar uma artista tão brilhante desvendar sua visão para o mundo. É simplesmente incrível ver a imagem visual completa (como a de "Ovule") depois de trabalhar na faixa por mais de um ano, conectando todos os pontos. Me lembro da primeira vez que ela me disse que "Fossora" é um "álbum de cogumelos" e o meu mundo inteiro se iluminou, porque sou absolutamente obcecada por micologia desde que li o livro "Mycelium" de Paul Stamets. Nós também fazíamos intervalos durante as mixagem enquanto eu estava na Islândia para procurar cogumelos".
Em post nas redes sociais, Björk explicou: "Para mim, "Ovule" é a minha definição sobre o amor. É uma meditação que fala de nós como amantes andando por este mundo. Imagino duas esferas ou satélites nos seguindo: um acima de nós que representa o amor ideal, outro abaixo de nós representando as sombras do amor. E nós mesmos caminhamos na terceira esfera do amor verdadeiro, onde vive o amor cotidiano da segunda-feira de manhã".
No site oficial do disco, ela contou mais detalhes:
"Então deixe-me ver a letra de "Ovule". Aqui está um desenho que provavelmente faria mais sentido se eu sentasse ao seu lado e te explicasse. Se você olhar para o desenho abaixo, verá que existem 3 hemisférios. É o mapa de um relacionamento. No topo, está o ideal, o que você gostaria que o relacionamento fosse. No meio está a realidade, o dia a dia (onde diz o "mundo real"), e abaixo está a sombra. Então a tentativa de permanecer em um relacionamento e mantê-lo equilibrado e harmonioso, é quase como uma delicada alquimia de ajustar aqui, ajustar ali... A camada superior é o sonho, a perfeição, o amor ideal, o meio o é mais lamacento, a realidade e a quilha da embarcação, o submarino disso. É o que na psicologia junguiana chamariam de "sombra".
O começo da música, o primeiro capítulo, é sobre o que seria o ideal. O segundo verso é sobre a realidade terrena, sobre como todas as noites eu pego a escuridão/as sombras que aconteceram e absorvo/ajusto para que no dia seguinte possamos acordar mais brilhantes (como casal). O terceiro verso está meio que absorvendo a sombra, fundindo metais, com alquimia. Acredito que a expressão de embarcação "Ahoy" é algum tipo de piada estranha sobre o navio que estou tentando navegar aqui (risos)".
"A parte do meio da música é sobre o passado, o que aconteceu em relacionamentos anteriores, e quando a gente começa um novo, temos que devolver de alguma forma o dano que sofremos, com o mesmo volume, se é que isso faz algum sentido. E então os últimos versos são sobre o futuro, como o ideal do que é o amor, que carregamos desde a nossa infância, pode ser uma arquitetura pesada, que atrapalha no caminho. Mas os desgostos talvez nos livrem disso? Talvez o caminho a seguir seja nos livrarmos de velhos padrões de comportamento que não funcionam mais. Discutir/resolver uma questão sobre o amor sem qualquer bagagem, colocar acima de nós um "ovo perfeito de vidro transparente", flutuando.
Eu acho que o elemento principal aqui é o vidro. Penso que é porque o amor é super frágil, é meio como carregar um vaso chinês Ming por uma rodovia. É um ato de equilíbrio tê-lo flutuando acima dessas pessoas e acreditar em seus Eus superiores que foram fundidos, mas são diferentes do que são como dois seres humanos. É também diferente de suas "sombras submarinas".. Todo mundo carrega uma sombra, que também precisam comunicar e sincronizar. Espero que isso faça sentido".
Tradução da letra de Ovule:
"Eu coloquei um ovo de vidro flutuando acima de nós. Um óvulo oval em um vazio vermelho-sangue escuro. Ele carrega nossos Eus digitais, abraçando e beijando. Minha pele densa como lama por você, eu ancoro nossas sombras. Eu ancoro nossas sombras. Durmo com um olho aberto, observando nossos sub-Eus. A quilha do nosso navio, esses obstáculos estão apenas nos ensinando para que possamos nos fundir ainda mais fundo ao nosso próprio mineral particular. Ligas de fusão, barco à vista (Ahoy!).
A hostilidade que um coração partido suporta, a velocidade dessa lesão é devolvida ao mundo com o mesmo sorriso frio mostrando os dentes. Quando eu era uma menina, eu sentia que o amor era um prédio. Eu marchei em sua direção, mas os divórcios demoníacos mortais demoliram o ideal. Agora com sua inteligência romântica, a ternura sensual. Dissolvemos velhos hábitos e colocamos um ovo de vidro flutuando sobre nós. No vazio oval, vermelho-sangue escuro. Nossos avatares amantes em uma concha".
A equipe envolvida na canção:
Bergur Þórisson: Engenheiro de gravação que vive em Reykjavík, na Islândia. Ele começou sua carreira na música anos atrás como trombonista tocando profissionalmente no país. Gravou o álbum "Utopia" de Björk, que foi indicado ao Grammy, e também se apresentou ao lado dela no palco durante a turnê do disco, incluindo o espetáculo "Cornucopia", do qual também é o diretor musical. Bergur também fez parte das gravações de "Fossora", além de tocar trombone em "Ovule".
Soraya Nayyar: Desde 2019, a principal timpanista da Orquestra Sinfônica da Islândia. Antes de se mudar para o país, estudou percussão clássica na Universität der Künste Berlin, e trabalhou em orquestras por toda a Alemanha, incluindo a Beethoven Orchester Bonn e a Komische Oper Berlin. Ela nasceu no Reino Unido e cresceu na Polônia.
Sideproject: Trio de música eletrônica de Reykjavík, Islândia. Sua música é caracterizada por batidas pesadas, rápidas e intrincadas com sintetizadores texturizados e fluidos. Com elementos de tudo e de todos os lugares, a música do Sideproject se tornou uma mistura enigmática de influências eletrônicas. Com foco igual no trabalho de estúdio e nas performances ao vivo, seu mais novo trabalho consiste no single duplo "Kingfisher", o álbum de estúdio "Radio Vatican" (O "Álbum eletrônico do ano" no Icelandic Music Awards de 2021) e o explosivo álbum ao vivo "Sideproject Live 2020-2021".
Nas redes sociais, Björk fez alguns agradecimentos:
"Sou muito grata ao incrível grupo eletrônico islandês Sideproject. Eles me deixam empolgada com a música de Reykjavík e não me preocupo: o futuro é fértil! Obrigada também magnífico El Guincho por resolver meus beats desajeitados de reggaeton. Foi uma reencontro fofo! Oh, meu Deus, já faz uma década desde "Moon" e "Cosmogony". Que porra é essa!??".
Sideproject publicou: "Estamos muito orgulhosos do nosso trabalho com Björk em "Ovule". Contribuir para essa música foi uma grande honra e uma experiência maravilhosa. Palavras não podem descrever o quanto aprendemos ao longo do caminho. Queremos agradecer a você, Björk, por sua bela visão e contribuição revolucionária para a música, e queremos agradecer a todos os nossos amigos, familiares e artistas favoritos pela infinita inspiração".
A história da máscara:
Projetada especificamente para a ocasião, com o objetivo de criar algum tipo de joia facial para combinar com as formas curvas do vestido usado por Björk. Foi feita à mão por James Merry, e é inspirada em líquen, rendas e mariscos gigantes.
No site do SHOWSTUDIO, fundado por Nick Knight, foram publicadas mais informações sobre o clipe de "Ovule":
"O vídeo procura mergulhar mais fundo nos diferentes satélites da conexão humana, prospectando o corpo humano e seus impulsos mais vitais. Nick visualizou Björk em 3D enquanto ela se move entre diferentes estados de espírito. O resultado invade novos horizontes virtuais. Não esperávamos nada menos de um videoclipe dos dois.
Os laços artísticos e comerciais entre música e moda nunca estiveram tão fortes! Para a musicista islandesa, no entanto, transformar sua aparência sempre foi além dos reinos da mera promoção, na verdade é algo mais profundo; Colaborando com diversos artistas, as capas de seus álbuns e seus videoclipes mostraram que ela é uma princesa pop pioneira tanto quanto uma construtora visual do mundo. Para "Ovule", ela convocou o amigo e colaborador Nick Knight para embarcar em um empreendimento artístico que leva seus trabalhos anteriores juntos a um reino novo e totalmente futurista.
Com animação, digitalização 3D e manipulação digital na qual Knight foi pioneiro na moda, a ideia de Björk era ter sua imagem em um reino virtual.
"Com alguns dos artistas visuais com quem trabalho, incluindo Nick, tenho um relacionamento contínuo que cresce como uma planta e segue para onde quer", disse a musicista em entrevista ao SHOWstudio, em 2003. "Ovule" é o próximo ramo de sua transformação visual com Knight.
A transformação tem sido algo central nas colaborações anteriores deles. A dupla criativa começou essa colaboração há mais de 20 anos, com uma conexão que surgiu pela apreciação compartilhada pela moda como forma de arte. Isso resultou na criação da icônica capa do álbum "Homogenic", em 1997, na qual a cantora aparece como uma cidadã e artista global. Outras sessões fotográficas vieram com o passar dos anos, como a feita para a "AnOther Magazine", em 2015, com máscaras artesanais que pareciam crescer da pele de Björk; a peça escultural na capa de "Volta" e o videoclipe de "Pagan Poetry".
Olhar para um novo mundo repleto de figuras vindas do futuro, faz parte do léxico da autoexpressão de Björk através da imagem em movimento.
"Quando trabalho com artistas visuais, estou dando mais pistas do que estou passando musicalmente, emocionalmente e sonoramente em um determinado momento. Cada um deles, à sua maneira, interpretará isso em uma imagem visual. Eu tenho relacionamentos muito diferentes com diferentes artistas visuais que vão desde eu fornecer todas as ideias visuais até simplesmente ser uma espécie de musa", disse Björk na entrevista de 2003.
Hoje, Knight explica que a música funciona como um resumo quando se trata de suas colaborações contínuas com a artista: "A música é a história. Aqui, é sobre a perfeição e depois a realidade, a escuridão e o desespero por trás disso".
O videoclipe de "Ovule" representa a letra da música a partir do estado de espírito. Do nirvana a escuridão. Tudo isso baseado nas formas ovais, no vermelho-sangue e o Eu digital. Para Nick, a chave dessa ideia era criar uma resposta emocional à música.
"Ovule" é uma referência definida como parte do "ovário" das plantas e suas sementes, que contém a célula germinativa feminina e após a fertilização se torna a semente que desempenhou um papel nas formas circulares. Processo que gera um tipo de líquido vermelho e viscoso, que sofre mutações ao longo do vídeo. Em determinado ponto, Björk renasce de uma piscina de água prateada. Cinco toneladas de terra também foram despejadas na artista enquanto ela estava em uma plataforma giratória, usando um vestido da Gucci. Para Knight, nada está fora dos limites.
"Eu sempre tento tirá-la do espaço em que ela está, como acontece em "Pagan Poetry"", ele explica. Para "Ovule", Nick recrutou Tom Wandrag da empresa A New Plane para reimaginar Björk em 3D. No Instagram, Tom publicou: "Estou muito orgulhoso de ter realizado esse sonho adolescente".
Também usando a tecnologia de captura de movimento, no clipe a islandesa se transformou em formas que lembram ovos e trompas de falópio, que brincam com a ideia de ovulação. É um cruzamento entre filmagens feitas em estúdio e um mundo totalmente digital: "Há a versão cinematográfica e a versão CGI dela. Para isso, nas formas que aparecem ao longo deste vídeo, o que existe ali é quase como uma ideia de DNA digital. Quero retratar Björk como uma mulher com profundidade emocional", disse Nick Knight.
Depoimento de Andrew Tomlinson, set designer, via Instagram: "Björk foi total a minha heroína enquanto eu crescia, e sempre fui inspirado e fascinado por ela. Conhecê-la, e depois nas gravações praticamente enterrá-la e afogá-la em um só dia, não pareceu lhe afetar nem um pouco. Terminei o dia das filmagens um homem muito feliz. Que divertido!".
Fotos: Nick Knight/James Merry/Reprodução.