As duas músicas que Björk escreveu sobre a mãe dela foram as primeiras que compôs para o álbum "Fossora":
"Eu estava pronta para lançá-las, mas pensando que poderiam não pertencer ao álbum. Então no meio de tudo, enquanto trabalhava em outras canções, voltei até essas faixas.
"Sorrowful Soil" ficou mais direta, mais simples, era como um poema e mais fácil de arranjar. Em "Ancestress", eu queria colocar todos os instrumentos do mundo, mas continuei retirando tudo porque queria simplicidade. Joguei muita coisa fora que tinha nessa música. Estou muito feliz em como tudo terminou!
Eu não queria que parecesse que eu estava me aproveitando disso para o meu disco. Me senti muito na defensiva em relação a essas canções nos quatro anos desde a morte dela. Não sabia onde colocá-las, queria encontrar um bom lugar para elas e ao mesmo tempo, respeitar meu irmão e todos que se importavam com minha mãe.
Pensei em lançá-las separadamente em homenagem a ela. Mantive essa opção na cabeça até o fim, mas no final decidi incluí-las no álbum. As músicas refletem quem eu sou, que tipo de musicista eu sou. Cada disco representa um capítulo da minha vida e tendo a minha idade, sendo musicista, isso faz parte da vida: dizer adeus a uma mãe. Seria estranho se eu tentasse compartimentar isso e deixar de lado.
Lembro de ter lido um poeta, não lembro qual, que dizia: "Minha mãe nunca está na minha poesia, nunca escrevo poemas sobre minha mãe, mas ela está em todos". Acho que para todos nós, nossos pais estão sempre lá e é muito difícil explicar isso.
Mas tentei encontrar uma resposta enquanto escrevia as letras dessas duas músicas, passei muito tempo pensando em como compartilhar isso com o mundo, como me sentia sobre ela e o relacionamento que tínhamos. Tentei ser muito honesta com isso, e com o lado negativo também.
Ficou muito mais fácil para mim me expressar sobre ela através da música, porque passei muito tempo escolhendo as palavras precisas para as letras dessas canções, e sinto que dizem muito sobre o nosso relacionamento".
Quando perguntada se a experiência e o processo criativo mudaram a visão sobre o relacionamento que tinha com a mãe, Björk fez uma pausa antes de responder:
"Olha, não foi a música que eu fiz que me mudou. Faço música desde criança, é onde me sinto mais em casa. Faço todos os tipos de músicas. Tristes, felizes, de festa e espero que canções engraçadas também. Cada emoção é representada na minha música. Quando se trata de ter que lidar com a morte de uma mãe, escrever uma música sobre isso é a minha zona de conforto".
Para ela, redescobrir a mãe veio não nos grandes momentos, mas nos pequenos ao longo do caminho: "Uma coisinha pode acontecer em uma terça-feira aleatória e você pensa: "Ah, é por isso que minha mãe fazia assim quando eu era criança". E no domingo seguinte, terei outra pequena epifania. Vai continuar acontecendo quando eu atingir a idade dela, eu acho. Terei outra perspectiva até lá. Então é uma vida inteira de redescoberta".
- Björk em entrevistas para Frettabladid, Uncut Magazine, La Tercera do Chile e Iceland Review, 2022.
Foto: Søren Solkær Starbird.