"Eu sempre compartilhei o meu caso de amor com as fontes de M/M Paris desde antes de conhecê-los. Eu era uma "criadora de problemas", com artifícios para que meus primeiros colaboradores fizessem fontes de "mercúrio", testemunhando o nascimento do magnífico design techno de Paul White.
Para mim, os álbuns tem um tema e agradeço a M/M por estarem prontos para descobrir uma fonte para cada um deles. Tenho boas lembranças de ir ao escritório deles em Paris, onde colocaríamos todos os elementos visuais dos discos juntos, como ingredientes para uma refeição. Bebíamos um milhão de xícaras de café e aumentávamos a temperatura. Eventualmente, vínhamos com uma justaposição "correta" que parecia combinar com as músicas. Muitas vezes, isso se opõe a diferentes coordenadas nos "eixos techno", naturalmente previsíveis.
Demorei uma eternidade para escrever este pequeno prefácio, porque toda vez que leio percebo que é tudo sobre mim, enquanto estava tentando escrever sobre M/M. Pode ser porque a transparência é um dos maiores componentes de sua genialidade. Eles são como um "médium das fontes". Sintonizados com cada projeto, se tornam parte daquilo. Eles são os atores do método das letras, se transformam perfeitamente em algo digno de um prêmio, de uma função para a outra, lendo com clareza em qual forma A, B e C são necessários em cada peça.
Eu me lembro, especialmente, de "Biophilia". Cheguei a Paris com o projeto de um álbum em 10 aplicativos, e eles assumiram o desafio com tanta delicadeza. Naquele momento, [o visual] ainda estava em um estágio abstrato. Fiquei falando de forma "esotérica" por horas sobre como, para mim, aquilo era o fim da separação entre midi, partituras digitais e o mp3, em como eu queria manchar os limites entre os três, porque é tudo a mesma coisa!!!
Discutimos várias tabelas de elementos, educação infantil e musicologia por dias! Foi uma tarefa heroica inventar "vasos gráficos" para tudo isso, mas M/M completaram o trabalho. Mathias até mesmo adicionou desenhos às galáxias em 3D. Talvez, aqueles traços em caneta também sejam uma fonte?
Eu me juntei a eles em sua "jornada das fontes"! Marchei ao lado deles. Das letras conectadas de "Vespertine" até a artista Gabríela Friðriksdóttir (em "Greatest Hits" e "Family Tree"). Da medula óssea de "Medúlla" a "fonte de fogo" e o "logotipo de "chama de vela" e bandeiras" do "Volta". Eles assumiram a "fonte de partitura" do "Biophilia", que terminou também no livro de partituras ("34 Scores for Piano, Organ, Harpsichord and Celeste"). Cuidaram do "plantio" e "cera de vela de lavanda" da "fonte curativa" de "Vulnicura"; dos "mutantes" cor de pêssego e hortelã, que são flautas, pássaros e orquídeas em "Utopia".
Tem sido uma jornada maravilhosa! Eu sou muito grata! Não consigo escrever algo assim depois de 23 anos de colaboração sem mencionar o quão maravilhosamente eles se complementam.
Em resumo: Michaél é o techno introvertido subconsciente, e Mathias a narrativa acústica teatral extrovertida. E como verdadeiros alquimistas, eles às vezes trocam de papéis. Mas é claro que isso é muito mais complexo na parceria de uma vida dos magníficos M/M.
Parabéns!!!! Todo o alfabeto torce por vocês! Lhes desejo "fogos de artifício" nas fontes pelo caminho".
- Björk em depoimento para "Letters from M/M (Paris)", livro sobre o acervo tipográfico de seus colaboradores de longa data, publicado em 2022.
Eles também trabalharam em vários outros projetos dela, incluindo "Livebox", "Surrounded", "Voltaïc", "Biophilia Live", "Utopia Bird Call Boxset", "Bastards", "Volumen", "Vulnicura Strings", "Vulnicura Live", "Vessel", "Live At Shepherd’s Bush", "MTV Unplugged/Live", "DVD Later...", "Live In Cambridge", "Live at the Royal Opera House", "Minuscule", "Inside Björk", "The Inner or Deep part of an Animal or Plant Structure", "When Björk Met Attenborough", "Björk : Archives", "Hidden Place", "Moon", "Björk Digital", "Cornucopia", "Orkestral", o site oficial bjork.com e "Fossora".
Alguns dos destaques do livro:
Vulnicura: O design em "fio contínuo" representa as "paisagens emocionais" de Björk, e fornece uma imagem "holística" da persona representada na obra. Especificada pela própria islandesa, a paleta de cores é distribuída em tons de amarelo e violeta, que ela associa ao processo de "envenenamento e cura". "Entre a figura do útero e de uma ferida, os traços funcionam também com um símbolo do arquétipo feminino. Existe uma beleza nesse signo. Está fértil e pronto para florescer, quase como um DNA contendo informações que se desdobram em si mesmas. Isso demonstra como formas visuais podem encapsular uma declaração, uma experiência ou um momento no tempo", explica Mathias Augustyniak.
Biophilia: Inspirado pela natureza, o visual representa a tentativa de criar um "ecossistema musical". Traduzindo anos de pesquisa, foram considerados os "biorritmos humanos", as barreiras entre disciplina criativa e a expressão artística. Na capa do disco, Björk aparece como uma professora de música olhando para as constelações de estrelas. O símbolo na imagem se assemelha a uma nota musical em constante estado de fluxo, evoluindo de álbum para álbum e de pessoa para pessoa junto da própria artista. Semínimas, mínimas, colcheias e letras simples usadas no ensino do alfabetos para crianças pequenas, foram algumas das referências. "Björk não quer estar presa a um signo específico, ela quer ser o próprio signo. Foi quase como criar um cartaz para uma escola de música, que convidasse as pessoas a entrar nesse mundo", diz Mathias.
Volta e Voltaic: Uma chama brilhante e multicolorida deu origem a essa fonte, que é a chave do lançamento em formato físico da turnê do álbum "Volta". Os visuais também se assemelham a velas. "Existe uma analogia entre esses elementos. Ao colocar cor dentro deles, a "gota" pôde se tornar uma "chama". No "Volta", Björk trabalhou com a ideia de ar, fogo, terra, água e eletricidade", diz Mathias. A ideia era desenvolver algo que refletisse a tensão da "estrutura ambivalente" das canções.
Medúlla: Em uma inspeção mais atenta, é possível perceber que o colar que a cantora usa na capa do disco revela o nome do álbum. Foi escrito em uma versão tridimensional, com um tipo de letra modular e biomórfica. Evoca não apenas as formas dos ossos, mas também a maleável medula em seu núcleo e as estruturas celulares rizomáticas encontradas em organismos naturais. "É o micro e o macro ao mesmo tempo, com todas as letras ligadas entre si", diz Mathias.
Greatest Hits e Family Tree: Como o material das compilações foi extraído de discos anteriores, com diferentes estilos de cada era, nenhuma persona específica poderia ser usada efetivamente para representar essas músicas em forma visual. Björk então sugeriu que, em vez disso, a identidade visual fosse construída em torno das obras de arte de Gabriela Fridriksdéttir, que trouxeram coesão como o "personagem" que deu cara ao projeto. A tipografia apresenta contornos em serifas "grossas" de formato redondo, que se curvam suavemente entre os traços.
Foto: Inez + Vinoodh.