Uma frase, em especial, corta fundo em "Sorrowful Soil". Björk repete à mãe, diversas vezes: "Você se deu bem. Você deu seu melhor". Ela explica que teve a ideia há alguns anos, quando visitou o avô no hospital e leu um panfleto com conselhos para familiares de doentes terminais.
"Antes de morrer, as pessoas querem saber se elas se deram bem. Tentei falar isso para a minha mãe, mas talvez não tenha sido o suficiente. Às vezes, você coloca na música algo que não teve a oportunidade de expressar".
Pensando na frase, Björk se deu conta de que nisso também havia musicalidade. Era um mantra. "O ritmo era muito interessante. "Você se deu bem, você se deu b-b-b-b-bem". Como se eu estivesse tentando enfiar isso na consciência dela antes que partisse".
Em "Ancestress", a islandesa canta: "Ela tem um senso idiossincrático de ritmo/dislexia, a forma livre definitiva. Ela inventa palavras e acrescenta sílabas/caligrafia, linguagem própria": "Minha mãe tinha dislexia, e quando eu era criança estava sempre tentando ensiná-la a falar, estava sempre corrigindo ela, o que era realmente estranho. Preferia que alguém tivesse dito naquela época para que eu deixasse minha mãe ser quem ela era".
Com mais idade, porém, Björk começou a entender melhor a condição de Hildur Runa e a ver que "a dislexia não é uma incapacidade, é apenas um ponto de vista diferente. As pessoas com dislexia têm talentos especiais, seja para a escultura ou a animação de jogos de computador em 3D. Minha mãe, por exemplo, criou sua própria caligrafia, adicionando sílabas às palavras. Ela não dizia "Jack Nicholson", mas sim "Jack Nichololson", o que eu acho bem melhor. Minha mãe nasceu em 1946, numa época em que se você tinha dislexia as pessoas tentavam fazer você se sentir como se fosse estúpida, era terrível. Há muitas formas de absorver o mundo".
- Björk em entrevista para Folha e O Globo, 2022.