Pular para o conteúdo principal

Björk se permitiu ser mais espontânea na criação de Fossora

Tem muita coisa acontecendo na vida de Björk Guðmundsdóttir como artista no momento. Em uma entrevista para a rádio islandesa Rás 2, ela discutiu alguns desses tópicos. Confira a tradução:

Normalmente, quando os músicos fazem um álbum, eles escrevem faixas por um tempo e depois as juntam em um trabalho. "É um formato que eu acho incrível, então estamos sempre publicando uma coleção de contos". Björk diz se concentrar em três ou quatro histórias, ou melhor, canções, de cada vez. Algumas são processadas muito rapidamente, enquanto outras levam anos.

À medida que envelhece, ela sempre tenta incluir o máximo de aspectos de si mesma e de sua arte nesses projetos. "É muito importante saber quando colocar uma camada de sal e também quando abri-la. Para ser capaz de levar tudo ao próximo nível, não importa o que estejamos fazendo".

Ela tem muitos amigos na indústria da música que escrevem até 50 músicas por disco, mas lançam apenas 10. "Não sou desse tipo. Escrevo de 15 a 16 músicas e depois lanço 13. Talvez seja eu sendo mãe, querendo cuidar de todos os meus filhos" (risos).

"Björk uma vez descreveu isso perfeitamente", intervém o engenheiro de som Bergur Þórisson. "É como ter um cardápio de doze pratos. Você tem que fazer malabarismos com todas essas opções, mas a comida não pode esfriar".

Bergur é bom em ler músical, tocar instrumentos, dirigir gravações e ajudou Björk com as gravações dos arranjos de corais em "Fossora". Durante as turnês, ele trabalhou como diretor musical dela. Além disso, treina os instrumentistas. "Normalmente, são talvez três pessoas diferentes que me ajudam dessa maneira. Tive muita sorte por ele estar disposto a correr o risco antes de sermos vacinados e estarmos em uma bolha menor", ela explica relembrando o processo criativo de seu mais recente álbum.

Segundo Björk, um de seus principais problemas na vida, é querer assumir demais [o controle de tudo]. Quando trabalhou em "Fossora", decidiu finalmente se permitir e deixar um pouco esse lado em descanso. "Às vezes, a gente pode ter uma ideia que não foi tão ótima! Eu poderia ter consertado com alguma coisa, mas depois deixei para lá e esperei até que outra coisa aparecesse. Existem tantos tipos de versões dentro de todos nós. Esse não é o meu lado de "empresária de um projeto" ou algo do tipo "faça-você-mesma". Essa parte foi levemente anestesiada e trancada em um armário".

Viajar em turnê pelo mundo não tem sido nada fácil no quesito financeiro, especialmente depois de uma pandemia. Para equilibrar as contas, o concerto "Orkestral" tem sido realizado para pagar as despesas de "Cornucopia", que tem vários instrumentistas, telões de led, um coral e equipamentos feitos sob medida.

"É o maior show que já fiz. Eu chamo de "teatro digital" onde as animações que foram programadas em realidade virtual são projetadas em três dimensões. O que eu queria fazer, depois de anos de "nerdismo", era escolher o melhor. É como um videogame em 24 telas ao seu redor. Você entra e então a música ao vivo é executada com o coral, as flautistas, os instrumentistas e a percussão".

Mas Björk considera esta a primeira e talvez a última vez que ela entra no o chamado "mundo do teatro": "Eu gosto e também só queria fazer isso uma vez na minha vida".

No passado, Björk escrevia música, lançava o álbum, saía em turnê e depois voltava para casa e escrevia mais canções. "A turnê era então apenas uma coisa e nada mudava naquilo! A gente visitava um milhão de cidades e voltávamos para casa terrivelmente cansados". Agora ela diz querer fazer diferente, com shows por etapas, mas sempre mantendo-os vivos e em constante evolução. 

"O que aprendi, como uma velha velejadora, é que se algo ainda está crescendo e é uma coisa orgânica, as pessoas vão gostar mais. Elas querem sentir que há espaço para erros, que isso não é apenas uma forma perfeita e repetitiva".

30 anos de carreira:

Em julho, "Debut", o primeiro álbum solo de Björk, completará 30 anos, mas a artista não tem interesse em comemorar. "Eu não gosto muito disso", explicou. No entanto, sua gravadora em Londres sempre quer comemorar aniversários e marcos de alguma forma. "Sempre tem alguma coisa que faz aniversário", ela diz acrescentando que tenta participar da melhor maneira possível.

"Tenho muita sorte porque tenho Ásmund, Smekkleysa e Derek, todas essas pessoas com quem trabalho desde os 16 anos. É muito incomum no mundo da música, não conheço mais ninguém que tenha passado por isso". Ela acha ótimo que existam pessoas que se lembram e querem comemorar suas conquistas, mas na maioria das vezes ela diminui o ritmo.

Falando de "Debut", durante a entrevista eles lembraram de um dos primeiros shows dela na Islândia com as músicas do disco, especialmente de uma situação inusitada nos bastidores: "Eu pulei de paraquedas na frente da arena Laugardalshöll. Por que ninguém me impediu?", ela se pergunta, rindo. "Me lembro de estar no concerto com os "pés de borracha" do equipamento".

Em abril, Björk irá se apresentar no festival Coachella: "Vou arriscar um pouco e fazer o concerto orquestral que fiz no Harpa. Vai ser apenas as cordas e eu". O músico Frank Ocean pediu especificamente que ela tocasse com ele no line-up, e essa foi uma das razões para ter aceitado o convite. 

Foto: RÚV.

Postagens mais visitadas deste blog

Nos 20 anos de Vespertine, conheça as histórias de todas as canções do álbum lendário de Björk

Vespertine está completando 20 anos ! Para celebrar essa ocasião tão especial, preparamos uma super matéria . Confira detalhes de todas as canções e vídeos de um dos álbuns mais impressionantes da carreira de Björk ! Coloque o disco para tocar em sua plataforma digital favorita, e embarque conosco nessa viagem.  Foto: Inez & Vinoodh.  Premissa:  "Muitas pessoas têm medo de serem abandonadas, têm medo da solidão, entram em depressão, parecem se sentir fortes apenas quando estão inseridas em grupos, mas comigo não funciona assim. A felicidade pode estar em todas as situações, a solidão pode me fazer feliz. Esse álbum é uma maneira de mostrar isso. "Hibernação" foi uma palavra que me ajudou muito durante a criação. Relacionei isso com aquela sensação de algo interno e o som dos cristais no inverno. Eu queria que o álbum soasse dessa maneira. Depois de ficar obcecada com a realidade e a escuridão da vida, de repente parei para pensar que inventar uma espécie de paraí

Saiba tudo sobre as visitas de Björk ao Brasil

Relembre todas as passagens de Björk por terras brasileiras! Preparamos uma matéria detalhada e cheia de curiosidades: Foto: Reprodução (1987) Antes de vir nos visitar em turnê, a cantora foi capa de algumas revistas brasileiras sobre música, incluindo a extinta  Bizz,  edição de Dezembro de 1989 . A divulgação do trabalho dela por aqui, começou antes mesmo do grande sucesso e reconhecimento em carreira solo, ainda com o  Sugarcubes . 1996 - Post Tour: Arquivo: João Paulo Corrêa SETLIST:  Army of Me One Day The Modern Things Venus as a Boy You've Been Flirting Again Isobel Possibly Maybe I Go Humble Big Time Sensuality Hyperballad Human Behaviour The Anchor Song I Miss You Crying Violently Happy It's Oh So Quiet.  Em outubro de 1996, Björk finalmente desembarcou no Brasil , com shows marcados em São Paulo (12/10/96) e no Rio de Janeiro (13/10/96) , como parte do Free Jazz Festival . Fotos:  André Gardenberg, Folhapres

Björk nega história envolvendo o músico argentino Charly Garcia: "Não sei quem é"

O livro "100 veces Charly" compila histórias que ocorreram na vida de Charly Garcia . Um desses relatos foi muito comentado ao longo dos anos. Após uma apresentação da "Volta Tour" na Argentina, o cantor e compositor teria tentado chamar a atenção de Björk em um jantar. Foi relatado que o músico era um grande fã e queria algum tipo de colaboração musical. Estava animado em conhecê-la, e junto de sua equipe descobriu o lugar que ela estaria e foi até lá para tentar tocar com ela e outros músicos argentinos. Pedro Aznar, Gaby Álvarez, Gustavo Cerati e Alan Faena. No entanto, Björk não apareceu de imediato e ficou em seu camarim no Teatro Gran Rex. Algumas horas depois, ela quis sair para comer. Assim, uma longa mesa foi montada para ela, sua equipe e banda. E então os músicos argentinos se juntaram a eles. Apesar das tentativas de Charly de iniciar uma conversa, Björk o teria ignorado completamente, conversando apenas com a amiga islandesa ao lado dela. A história fo

Ísadora Bjarkardóttir Barney fala sobre sua carreira como artista e o apoio da mãe Björk

Doa , também conhecida como d0lgur , é uma estudante, funcionária de uma loja de discos ( Smekkleysa ), cineasta, cantora e agora atriz. Em abril, estreia nas telonas no novo filme de Robert Eggers , The Northman . Ela interpreta Melkorka , uma garota irlandesa mantida em cativeiro em uma fazenda islandesa, que também gosta de cantar.  O nome de batismo da jovem de 19 anos, é Ísadora Bjarkardóttir Barney .  "Bjarkardóttir" reflete a tradição islandesa de usar nomes patronímicos ou matronímicos . Ou seja, o segundo nome de uma criança é baseado no primeiro nome de sua mãe ou pai. Assim, "Bjarkardóttir" significa o "dóttir" – filha – de "Bjarkar". Isto é, de Björk . E Barney vem do pai Matthew Barney, que nasceu nos Estados Unidos.  Na nova edição da revista THE FACE , a artista falou sobre sua carreira. Ela vive entre Reykjavík e Nova York , onde nasceu em outubro de 2002. Confira os trechos em que citou a mãe, a nossa Björk.  " Sjón e min

Björk e a paixão pelo canto de Elis Regina: "Ela cobre todo um espectro de emoções"

"É difícil explicar. Existem várias outras cantoras, como Ella Fitzgerald , Billie Holiday , Edith Piaf , mas há alguma coisa em Elis Regina com a qual eu me identifico. Então escrevi uma canção, Isobel , sobre ela. Na verdade, é mais uma fantasia, porque sei pouco a respeito dela".  Quando perguntada se já viu algum vídeo com imagens de Elis, Björk respondeu:  "Somente um. É um concerto gravado no Brasil, em um circo, com uma grande orquestra. Apesar de não conhecê-la, trabalhei com ( Eumir ) Deodato e ele me contou várias histórias sobre ela. Acho que tem algo a ver com a energia com a qual ela canta. Ela também tem uma claridade no tom da voz, que é cheia de espírito.  O que eu gosto em Elis é que ela cobre todo um espectro de emoções. Em um momento, ela está muito feliz, parece estar no céu. Em outro, pode estar muito triste e se transforma em uma suicida".  A entrevista foi publicada na Folha de São Paulo , em setembro de 1996. Na ocasião, Björk divulgava o