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O retorno do show Cornucopia e a nova configuração das turnês de Björk

Quando Björk estava procurando um lugar para filmar o vídeo de "Sorrowful Soil", ela decidiu que o cenário de lava derretida de um vulcão em erupção ativa resolveria o problema.

Apesar de ter um orçamento modesto para o clipe, a musicista islandesa e sua equipe, contrataram um helicóptero para voar ao lado de Fagradalsfjall, um vulcão a cerca de 40 km de Reykjavík.

"Foi realmente magnífico, mas tivemos que adiar porque o tempo não estava bom, então quando finalmente melhorou, a erupção parou e nós ficamos tipo: "Foda-se".

Liguei para alguns de meus amigos, que são como minhas "bruxas pessoais", e disse: "Ok, a erupção vai começar de novo?". Eles diziam: "Me dê alguns minutos, vou trabalhar nisso e volto a te ligar". Então me retornaram e disseram: "Ok, vai começar de novo".

Entramos no helicóptero e não apenas a névoa se dissipou, para que pudéssemos ver o pôr do sol, que estava acontecendo perfeitamente naquele momento do pôr do sol, mas, literalmente, quando pousamos na colina, a erupção começou novamente.

Tínhamos meia hora antes de ficarmos "presos" naquele gás venenoso ou algo assim. Fizemos três ou quatro tomadas e depois voamos novamente naquele pôr do sol. Foi um dos pontos altos da minha vida", Björk ri. "Foi totalmente uma loucura!".

O vídeo, que mostra a cantora de outro mundo em uma máscara dourada em forma de orquídea vagando por Fagradalsfjall, enquanto rios iridescentes de lava vermelha fluem atrás dela, foi compartilhado em dezembro do ano passado.

O que a cantora de "Fossora" irá apresentar em março na Austrália, é o aclamado concerto teatral "Cornucopia". Björk explica que mesmo quando está em turnê, ela mantém sua privacidade: "Minha vida não é glamorosa. Eu vivo uma vida bastante normal onde quer que eu vá. Normalmente, não vou a inaugurações ou estreias. Minha vida no exterior também é bastante pé no chão".

Mesmo antes da pandemia mudar o ritmo de agendas de shows ao vivo, Björk já havia repensado sua vida na estrada: "Tento ficar mais tempo quando levo um show a alguma cidade. Visito menos lugares, tanto pelo meio ambiente quanto por mim e minha equipe. Isso significa que podemos nos conectar melhor a cada lugar e conhecê-lo, encontrar nosso café favorito ou qualquer outra coisa.

É mais como uma interação orgânica do que aquele jeito "old-school" e bastante patriarcal de turnê, onde a gente fazia cinco cidades em uma semana. Não traz o melhor das pessoas. É como uma competição de resistência. Eu sempre tento fazer o oposto, apenas dois shows por semana. Sinto que há mais chances de ser emocionalmente generosa.

Daí quando as pessoas vêm ao show, posso dar tudo o que tenho. Não estou apenas cansada depois do concerto anterior. Sinto uma certa responsabilidade sendo minha própria chefe. Acho que pelo menos pratico o que prego".

Björk não se apresenta na Austrália há 15 anos! Descrevendo "Cornucopia" como a ""bugiganga" mais brilhante no meio do universo de Bjork", o diretor artístico do Perth Festival, Iain Grandage, diz que garantir o ícone islandês para o evento de 2023 foi uma grande conquista, bem como o item principal em sua lista pessoal de desejos.

Grandage credita o programador de música contemporânea Thomas Supple, que tem um relacionamento de longa data com a equipe de Bjork, por trazer a estrela para o país.

Supple diz que uma "conversa de longa duração" levou Perth a desembarcar na "Cornucopia" contra a forte concorrência dos principais festivais e casas de shows australianas. Ele explica que a oferta de construir um local personalizado semelhante ao que foi feito na Cidade do México, ajudou a antecipar as datas de Perth.

Financiado em parte pela Tourism WA, as quatro apresentações receberão 5.000 espectadores em um pavilhão projetado pela empresa portuguesa Irmarfer Structures e reprojetado pelo Stage Kings de Sydney, para atender aos padrões australianos.

"É uma coisa realmente incrível", diz Supple. 'Não existe uma estrutura como essa no país, por isso tivemos que redesenhá-la para entregar o espetáculo".

Bjork está ansiosa para poder passar mais tempo em Perth do que durante as visitas anteriores no Big Day Out, com sets imprensados ​​entre apresentações de headbangers como Rage Against the Machine e Grinspoon.

"Nós costumávamos rir disso", ela admite, acrescentando que ainda gosta de festivais e que irá fazer um concerto no Coachella, em abril, junto a uma orquestra.

"Ainda faço essas coisas malucas! Eu gosto de festivais. Uma das principais razões é que acontecem ao ar livre. É uma ótima maneira de conhecer outros músicos, porque ficamos nos bastidores e podemos ver os shows uns dos outros. Fiz bons amigos!

Vou aos extremos. Eu gosto de festivais e também gosto de shows privados onde posso ser realmente mandona", ela ri, "como o de Perth, e parei de fazer coisas intermediárias".

"Atopos" e "Ovule": Björk planeja estrear duas novas canções de "Fossora" na produção de "Cornucopia" em Perth, que contará com um septeto de flautistas, o coral local de 18 integrantes Voyces (liderado por Luke Donohoe), percussões, instrumentos feitos sob medida, projeções inspiradas na natureza e muitos outros movimentos comoventes.

Os shows anteriores terminaram com uma mensagem que a ativista ambiental sueca Greta Thunberg gravou para a cantora em 2019. O que Björk espera que as pessoas tirem dessa experiência? "Esperança", ela explica. "Além disso, um senso de urgência, de que as pessoas podem realmente fazer algo a respeito (da crise climática)".

Björk descreve a mensagem de Thunberg como um "chamado à ação", mas também um incentivo para olhar para as questões ambientais de uma perspectiva diferente da americana ou ocidentalizada.

Segundo Björk, "Cornucopia" visa apresentar uma visão otimista dos desafios que o planeta tem enfrentado:

"Não estou menosprezando, mas muitos dos filmes da Netflix são muito distópicos, com uma visão muito unilateral de onde nós, como humanidade, estamos indo. Sinto que é importante tentar representar outras visões de mundo. Não precisa ser esse naufrágio repetido e distópico do Titanic, com assassinatos em massa e Trump.

Talvez o planeta não volte ao que era há 200 anos, mas podemos criar um novo mundo habitável. É disso que se trata "Utopia". As plantas são muito resistentes. Por exemplo, Chernobyl está coberta de cogumelos que processam toda a radiação. Acho que as plantas talvez absorvam toda a porcaria e toxicidade, e se tornem como os peixes do filme do Simpsons com três olhos. Continuo otimista. É importante ser otimista.

Björk insiste que a natureza "não é fraca". Ela saberia, tendo visto um vulcão cuspir lava de perto. "Nós é que somos mais delicados. A natureza é muito mal-humorada. Não é nada sentimental".

Viagem para Austrália:

"Uma cantora chamada Anohni, que é uma das minhas melhores amigas lá em Nova York, perguntou se poderia colocar algumas pessoas da comunidade Noongar na lista de convidados. Estou muito animada para conhecê-los".

O Perth Festival deseja oferecer a Björk uma imersão na cultura Noongar durante a visita, para tornar seu tempo aqui, como um porta-voz descreveu, "recarregado espiritualmente e profundamente gratificante".

Enquanto Björk diz que cada álbum de sua carreira representou um novo capítulo, os dois discos que alimentam "Cornucopia" parecem um novo começo, especialmente devido à série de reviravoltas em sua vida pessoal na última década.

"Para mim, quando estou escrevendo, estou reunindo músicas até que pareçam representar um álbum. Eu só escolho aquelas que parecem um novo começo. Eu sinto que há músicas suficientes de Björk no mundo. E, na verdade, existem músicas suficientes no mundo! É fácil permanecer a mesma. O desafio é mudar e crescer.

Todos nós, como seres humanos, passamos por períodos traumáticos ou dramáticos, como o fim de um período, que para mim foi "Vulnicura". Temos que começar tudo de novo. Quando recomeçamos, acho que é da natureza humana dizer: "Da próxima vez, não vou cometer todos esses erros e tudo vai ser perfeito".

Quando Björk se aposentar da música, quais momentos ela identificará como "perfeitos" – ou o mais próximo disso que a natureza humana permitir?

"Uau, isso é estranho! Meu Deus, eu não sei. Eu simplesmente nunca penso sobre as coisas nesses termos. Talvez quando eu tiver 80 anos eu pense assim (risos). Estarei sentada em uma cadeira de balanço, com um copo de conhaque e só pensando em coisas assim".

- Entrevista ao The West Australian, Fevereiro de 2023.
Foto: Santiago Felipe.

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