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35 anos de Life's Too Good, o incrível álbum de estreia do Sugarcubes

Há 35 anos, era lançado "Life's Too Good", o álbum de estreia do Sugarcubes. O disco foi um sucesso inesperado e trouxe atenção internacional para a banda, principalmente devido ao hit "Birthday". Influente, é também creditado como o primeiro trabalho musical islandês a ter impacto mundial, e gerou grande interesse para a cena alternativa do país.

Em 8 de junho de 1986, o Sugarcubes surgia na Islândia, bem no dia do nascimento do 1º filho de Björk. O grupo musical deu projeção internacional para a artista. Eles lançaram três discos e estiveram em atividade até 1992. Em 2006, a banda se reuniu pela última vez para uma apresentação, em Reykjavík.

Os integrantes já tinham formado projetos de música punk ao lado de Björk. Inicialmente, eles desenvolveram o selo Smekkleysa (Bad Taste), com o lançamento de uma série de projetos musicais e literários.

Na intenção de conseguir dinheiro para a criação dessas obras, os membros perceberam que precisavam de uma ferramenta que chamasse a atenção do grande público. A partir disso, tiveram a ideia de formar uma banda:

"A gente se divertia! A música era algo secundário, então não tínhamos essa grande ambição musical de ser algo brilhante. Tivemos a chance de viajar o mundo e ver como outras bandas funcionavam, o que me ensinou muito. A fama não estava nos nossos planos, mas ao mesmo tempo nós gostamos. Foi um acidente feliz.

Nos apoiaremos até a morte. Somos os críticos mais duros uns dos outros. Tipo, se eu mostrar o meu disco para o baixista, é capaz dele me dizer que está uma porcaria, sabe? Ele também me manda a sua poesia" (Björk).

A empresa permanece em funcionamento e contribui de forma grandiosa na cultura da Islândia, auxiliando principalmente artistas locais interessados em atuar fora da curva do mainstream, uma das premissas do projeto.

Assim, foi possível que o caminho estivesse melhor pavimentado do que aquele que os integrantes do selo, incluindo Björk, percorreram. No começo, eles encararam de frente o conservadorismo e a preferência de parte do público local apenas por aquilo que é estrangeiro.

No período em que esteve em atividade, o Sugarcubes sempre deixou claro a que veio. Por esse motivo, o término da banda não foi um grande drama, tampouco a decisão de Björk seguir em frente sozinha. Continuam grandes amigos.

Em diversas entrevistas, antes e depois do grupo, explicaram que administram o selo com o propósito de ajudar na criação de uma identidade própria no local em que nasceram. E conseguiram! Tudo isso ao lado da comunidade artística de lá, organizando festivais, gravando álbuns, publicando livros e até abrindo uma loja de discos, que se tornou um espaço importante para artes na região e para o turismo.

É comum que Björk faça DJsets na Smekkleysa. Se algum dia você visitar a Islândia, não esqueça de dar uma passadinha por lá.

Em 2022, durante entrevista para Uncut Magazine, Siggi Baldursson (baterista) disse:

"Eu me lembro de ouvir o ensaio do Tappi Tíkarrass no auditório da escola, em 1981. Björk tinha apenas 16 anos, mas mesmo durante a passagem de som ela conseguiu fazer uma performance significativa.

Quando você a vê pela primeira vez no palco, ela te pega de surpresa, você não consegue esquecer daquilo. Mesmo se trabalham juntos há anos!

Fiquei muito surpreso que "Birthday" se tornou um sucesso. A música parecia surgir do nada, completamente finalizada. Björk começou a cantarolar a melodia e a canção nasceu. Foi mágico! Mas não achei que seria um sucesso.

Nós éramos punks e não pensávamos assim. Ficamos todos muito pressionados! Antes a gente administrava nossa pequena gravadora na Islândia, e quando assinamos com a Elektra nos Estados Unidos, de repente esperavam que fizéssemos muitas coisas. Não estávamos nada felizes em ter que agendar sessões de autógrafos nas lojas e fazer divulgações em rádios. Também tivemos turnês exaustivas, o que afetou a voz de Björk.

Na época, era impossível levar músicas prontas para os ensaios. Todos traziam ideias, que depois finalizávamos juntos moldando como esculturas de barro. Mas ficou óbvio para nós que Björk precisava de um canal diferente para se realizar. Eu me lembro dela levando uma versão inicial de "Human Behavior", que não combinava muito com o estilo Sugarcubes.

Adoro vê-la explorar constantemente novos horizontes! A oportunidade de aprender sobre o mundo ao seu redor é o principal significado disso para ela.

Ninguém dominou as extensões do universo musical dessa maneira! Ninguém fez isso com a coragem e determinação que Björk mostra. Quem mais pode reunir músicos clássicos, hardcores de rave, fãs de pop, e artistas e compositores de vanguarda?

Quase sem ajuda externa, Björk manteve uma abordagem modernista da criatividade, trazendo para o maior público possível as ideias mais "estranhas", muitas das quais não estariam nas rádios hoje.

Ela tem sido um ícone na Islândia, está sempre à frente. Acho que essas qualidades são óbvias não apenas para os amantes da música, mas também para as pessoas comuns. Ela tem o status de uma lenda".

No ano de 2017, também para a Uncut Magazine, outros integrantes da banda deram declarações sobre Björk:

Einar Örn Benediktsson (vocais, trompete): "Começamos brincando, fazendo música pop inimaginável por aí. Não existia hierarquia. Todo mundo participava. Não existia foco na Björk como vocalista, eu também era. Nós não pensávamos naquilo como a música dela. Tínhamos muita química enquanto banda. Éramos fortes e unidos naquilo que fazíamos! Se ninguém estava gostando, então parávamos!

Foi tudo muito trabalhoso. Nós fizemos alguns shows, e com o dinheiro começamos a gravar canções para o "Life's To Good". Tínhamos a "One Little Indian Records", uma amiga antiga, então oferecemos nossas 10 músicas, as traduzimos para o inglês em benefício deles para que entendessem sobre o que estávamos cantando, e perguntamos se queriam lançar. Foi basicamente isso.

Depois fomos para Londres para a mixagem do álbum, e ficamos em um apartamento, que só tinha um quarto, em Notting Hill. Nós nunca dissemos que a banda acabou, só não voltamos mais para o estúdio. Aquele show de 2006 não foi bem um encontro. Nos divertimos bastante e as músicas ainda eram atuais. Ainda continuamos todos bons amigos, e temos o selo".

Margrét Örnólfsdóttir (tecladista): "O show tinha hora para acabar. Este era o caso para todos nós. Quando começamos, foi uma aventura, e cheia de muitas risadas. Já perto do fim, sentimos que não estávamos mais nos divertindo tanto assim. Foi uma morte natural. Era uma banda de amigos e agora temos muitas lembranças calorosas".

- Curiosidade: Em 1995, a incrível Annie Lennox regravou "Mama", faixa do primeiro álbum do Sugarcubes:

Na época, durante entrevista para o AOL, Björk foi questionada sobre a nova versão: "Foi a única vez que ouvi outra pessoa cantar uma letra minha, e fiquei bastante feliz com isso. Muito agradecida, lisonjeada e sem palavras".

Com produção de Marius de Vries, a canção na voz de Lennox foi incluída na trilha sonora do filme "The Avengers" (1998) e na edição limitada de uma coletânea da artista, em 2009.

- A História da Bad Taste:

De certa maneira, as raízes da Smekkleysa (Bad Taste) estão na transmissão final do programa de rádio islandês Áfangar (Stages). Os apresentadores, Ásmundur Jónsson e Gudni Rúnar Agnarsson, veicularam canções que inspiraram os jovens da região, entre 1975 e 1983. Na última edição, em julho de 1983, os dois reuniram um “supergrupo” de músicos que sentiam que representava os elementos mais interessantes da cena musical que tomava conta da Islândia.

Os escolhidos foram Björk Gudmundsdóttir da banda Tappi Tíkarrass; Einar Örn Benediktsson do Purrkur Pillnikk; Gudlaugur Óttarsson e Sigtryggur Baldursson do Theyr; Birgir Mogensen do Killing Joke; Einar Melax e Thór Eldon do Fan Houtens Kókó e do Medúsa. Como era para ser algo único, a banda ainda não tinha nome, mas logo depois foi tomada a decisão de continuar o projeto agora intitulado KUKL.

Em seus três anos de atividade, o Kukl lançou o single "Söngull" e dois LPs, "The Eye" e "Holidays in Europe", que também recebeu o nome de "The Naughty Naught".

A banda se apresentou por toda a Europa com recepção positiva, mas a música foi considerada "sombria, complicada e difícil de digerir". Os indivíduos que formaram o Kukl tinham mais em comum do que o desejo de escrever e tocar músicas inovadoras. A maioria deles estavam ligados a atividades culturais fora da cena musical. Assim, o grupo passeou pela literatura, arte, teatro e o cinema. O objetivo era criar uma base cultural que fosse autossuficiente, que prosperasse sem o apoio do estado ou da mídia de massa. Daí nasceu a Bad Taste.

Em março de 1985, o poeta Sjón fez um discurso em uma conferência para estudantes de literatura na Universidade da Islândia. Lá, ele afirmou que a poesia havia encontrado um novo lar, longe das editoras e no submundo dos livros baratos vendidos nas ruas e nos cafés de Reykjavík. O centro de cópia Letur era o ponto de encontro de poetas, que traziam seus trabalhos prontos para a impressão e circulação, recebendo um serviço de primeira classe por preços bem mais razoáveis. Quando a Letur foi forçada a encerrar suas operações em 1983, já estava atuando por cerca de uma década, tendo lançado muitas obras clássicas.

O cenário musical era próspero e as primeiras gravadoras independentes foram criadas em 1981. Com a chegada da Alfa, pequena fábrica de prensagem instalada na cidade de Hafnarfjördur, tornou-se uma "brincadeira de criança" produzir e gravar material musical sem envolver gravadoras, com baixo custo. O Studio Mjöt costumava encorajar artistas que as "respeitáveis" ​​gravadoras não queriam tocar.

Uma das gravadoras independentes mais ativas foi a Gramm, e a maioria dos futuros Sugarcubes trabalharam lá em algum momento. A loja de discos da Gramm ficava em um beco perto da principal rua comercial, Laugavegur, no centro de Reykjavík, e tornou-se o refúgio para aqueles que lançavam material copiado às suas próprias custas, fossem livros, fitas cassete ou discos em pequenas tiragens.

Björk publicou um livro de poesia com seus próprios desenhos, "Um Úrnat". Þór Eldon lançou sua primeira coleção de poesia em 1983, que foi ilustrado por Björk. Em 1985, ele lançou um livro de poesia com arte de Margrét Örnólfsdóttir, e ainda outro com fotos de Sjón, em 1986.

O que todas essas obras tinham em comum, era que eram montadas de A a Z por seus criadores - texto, arte, impressão, encadernação, distribuição e venda. O mesmo se aplica a muitas das fitas cassetes e discos de 7 polegadas.

Desde o início, ficou claro que a Bad Taste representava as mesmas coisas que os poetas fotocopiadores e as gravadoras independentes pregavam: o ato de "mostrar a língua" para as grandes gravadoras, criando um ambiente com oportunidades para aqueles talentos esquecidos.

No Outono de 1985, houve também o teatro de rua; constituído pelo grupo Sirkusdútl, que era formado pela banda Kukl e um grupo de poetas do Medúsa. Entre outros empreendimentos desse "circo amador", com a união do grupo Medúsa e do Kukl, o desenvolvimento do Sugarcubes havia realmente começado.

Þór Eldon e Björk eram um casal e moravam na área de Nesvegur, no lado oeste de Reykjavík. Naquela época, a casa deles recebia muitas visitas dos artistas no verão.

Quando o Kukl se separou na primavera de 1986, Thukl era o nome de trabalho de uma banda que incluía Fridrik Erlingsson e Þór Eldon guitarristas e Bragi Ólafsson no baixo, junto com Einar Örn, Einar Melax, Sigtryggur e Björk, que haviam estado em Kukl. A banda tocou no festival de arte nórdica N'art. Ali estavam os Sugarcubes em sua encarnação inicial.

Um cartão postal foi impresso, em outubro de 1986. O objetivo era financiar o primeiro álbum do Sugarcubes com as vendas do material. O primeiro lançamento, um disco 7 polegadas com as canções "Ammæli" e "Köttur", foi lançado no aniversário de Björk, 21 de novembro de 1986, graças aos lucros do cartão-postal.

Foi prensado na fábrica da Alfa em Hafnarfjördur; numa tiragem de 500 cópias, metade saiu com defeito, o que tornava impossível utilizar. Fridrik distribuiu o disco de seu veículo Ford Fairmont, e o disco também foi vendido no centro de Reykjavík com uma recepção sem brilho.

Os Sugarcubes não precisavam de gasolina, porém, mesmo distribuindo seu primeiro disco em um carro, eles foram de país em país por conta própria nos meses que se seguiram e cantaram sobre brinquedos ("Sick For Toys"), demônios ("Delicious Demon") e acidentes de carro ("Motorcrash"). O resto é história...

A Bad Taste resistiu ao longo dos anos, unindo música e literatura. O livro "Smekkleysa 33 1/3 Birthday Book", conta essa e outras histórias do selo em riqueza de detalhes.

Fotos: Reprodução/Divulgação.



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