Imaginativa e experimental, teatral e lúdica. Por trinta anos, a música de Björk criou novos mundos, envolvendo sua voz poderosa e inovadora. Promovendo "Fossora" e o show "Cornucopia", ela concedeu uma nova entrevista ao Corriere Della Sera. Confira a tradução completa:
- Qual era a sua ideia quando você criou este show?
Fiz a turnê "Biophilia" com o palco no centro da arena, destronando os músicos. Depois fiz "Vulnicura" com uma versão em realidade virtual, como um trabalho solitário sobre uma desilusão amorosa. E de certa forma "Cornucópia" é uma continuação de tudo isso. Trabalhei muito com som surround, trazendo para o palco e tornando "teatral". Resumindo, "Cornucopia" é o teatro digital para o século XXI.
- Pode haver emoção no digital?
Quando se trata do que vem do coração, não há diferença entre digital ou analógico. Se um músico colocou sentimentos em seu trabalho, então há emoções.
- Qual a importância do visual na sua música?
Tenho a impressão de que para muitas pessoas, os olhos são mais treinados do que os ouvidos. Então, se um músico cria uma extensão visual de seu trabalho, isso pode se tornar um atalho que leva às músicas. Eu pareço ter melhorado lentamente em fazer os visuais representarem minha música e tenho uma conexão mais natural com isso. Não é separado das músicas, mas cria mais sinestesia.
- A inteligência artificial é uma ameaça para os artistas ou você vê seu potencial?
Acho que, como a maioria das ferramentas, não é a ferramenta em si que é má, é o que você faz com ela. E toda vez que os humanos inventam algo novo, eles se deparam com a moralidade de como isso pode ser usado, para o bem ou para o mal. E não há preto ou branco na tentativa de dar uma resposta. Seja usando fogo, telefone, internet ou inteligência artificial, sempre há o mesmo dilema: não é a ferramenta, é o que você faz dela.
- Um vídeo de Greta Thunberg também aparece em seu show. O que você acha da geração de ativistas dela?
Acho incrível!!! Mas todos nós precisamos nos juntar a ela e fazer mais.
- Você está otimista sobre o futuro da Terra?
Sim, ela vai ficar bem.
- Seus últimos discos são bastante experimentais. Você não tem medo de que algumas pessoas de seu público possam achá-los muito difíceis?
Não, na verdade não. Acho que todos os meus álbuns são igualmente experimentais e não experimentais.
- Quando você começou, a indústria da música era muito diferente. Hoje, entre streaming e redes sociais, parece mais simples ou mais complicado para os artistas?
Em primeiro lugar, acho que os serviços de streaming deveriam pagar mais aos músicos, com certeza. Acho que com a internet, hoje algumas coisas são mais complicadas e outras mais simples. Eu costumava voar de país em país para fazer entrevistas e era cansativo, agora quase tudo pode ser feito online. Também é libertador poder ter voz nas redes sociais sem ter que traduzir o que quero dizer por meio de jornalistas ou outras mídias. Mas também pode ser extremamente avassalador para uma pessoa jovem.
- Você já falou no passado sobre sexismo no mundo da música. Você viu alguma melhora?
Sim, mas ainda há um longo caminho a percorrer.
- Existe algum conselho que você daria aos jovens artistas?
Me parece que as meninas estão tão bem informadas que não precisam da minha ajuda. Quando eu tinha 20 anos não havia computadores, mas agora você pode fazer tudo em casa. Isso foi verdadeiramente revolucionário e fortalecedor para o movimento feminista: não há mais a necessidade de ir necessariamente ao estúdio, como nos anos 70, infelizmente um local bastante machista, nem ter que traduzir todas as nossas ideias por meio de uma equipe de técnicos e homens assistentes, enquanto tentamos não nos tornar um objeto. Me sinto muito sortuda por fazer parte de uma geração que encontrou uma saída para tudo isso. Mal posso esperar para ouvir todas as novas músicas escritas por mulheres!
- Sua filha de 20 anos também começou a lançar músicas. Você está feliz por ela estar caminhando para uma carreira artística?
Ela é muito jovem e tem todas as opções em aberto. Acho que talvez seja um pouco cedo para falar sobre isso, mas o que quer que ela decida fazer, ficarei feliz.
Foto: Santiago Felipe.