Na próxima terça-feira, 18 de junho de 2019, a exposição Björk Digital chega a São Paulo no Museu da Imagem e do Som (adquira ingressos clicando AQUI). Boa parte das datas já estão, inclusive, esgotadas! Em processo de divulgação do projeto, a cantora islandesa concedeu uma entrevista exclusiva para a Folha, em uma conversa por telefone direto de sua casa na Islândia. A matéria é de Diogo Bercito. Confira:
Björk discutiu alguns tópicos, como o estado atual de seus vocais: Ela vem cantando com tons abaixo das versões de seus discos já há alguns anos: "Deixo que a minha voz envelheça". A artista ainda se mostrou tranquila sobre a passagem de tempo natural da vida, e criticou a discriminação que a maioria das mulheres sofrem dando como exemplo Frank Sinatra e Johnny Cash, que puderam envelhecer sem esse tipo de cobrança do público, que parecia considerar suas vozes ainda mais charmosas com o avanço da idade. Enquanto, Whitney Houston era ridicularizada por não conseguir mais cantar com os mesmos agudos que alcançava na juventude:
"Eu canto com a voz que eu tenho, e escrevo melodias que posso interpretar neste período específico. Quando as pessoas me ouvem cantar hoje, estão me ouvindo na casa dos 50 anos, e é diferente. Há 20 anos, eu não teria feito essa nova versão de Venus as a Boy (do show Cornucopia), afirma. "Acho que é bom tentar aproveitar cada período das nossas vidas".
Videoclipes: "Faço videoclipes desde que eu era adolescente. Ainda faço isso hoje, mas com ferramentas diferentes. Tenho tentado captar o momento mágico no qual a música e o visual coincidem. Não creio que eu acerte na maior parte das vezes, mas de vez em quando funciona. Penso que é o melhor formato para nos expressarmos. É incrível! Amo o fato de que posso colocá-los no YouTube, sem que as pessoas precisem pagar para assisti-los. Fui criada na classe trabalhadora, então gosto dessa coisa democrática".
O espírito 'Faça-você-mesmo': "Na minha casa, todo mundo costurava o próprio suéter. Gosto de trabalhar com gente assim. Que pega um graveto, um papel e se pergunta o que pode fazer com eles. Quando eu tinha 16 anos, cortei meu cabelo e fiz "rabos de cavalo" (com os fios dele) para todos os membros da minha banda. Prendemos com alfinetes nas nossas calças e nos tornamos outras criaturas", relembra.
Quanto ao processo de se transformar sempre no palco, desde o início da carreira, ela diz que é algo primitivo, e que sabe diferenciar bem as coisas: "Um dia os homens da caverna estavam sentados ao redor do fogo, à noite, e uma pessoa ali pintou o rosto, virando uma criatura xamânica", diz. "Esse estilo teatral é algo profundo. Não é artificial. Aprendi que não sou eu ali. Não sou eu que estou crescendo, e foi da maneira mais difícil. Nas vezes em que meu ego se tornou gigante, tudo desmoronou. O palco é sobre encontrarmos algo maior daquilo que somos, algo que todos nós temos em comum. Uma coisa xamânica, teatral, ou drag, ou uma ave-do-paraíso em Papua-Nova Guiné. É nossa experiência como animais".
Pela milésima vez, ela explicou sobre o uso de máscaras em suas apresentações: "Os paparazzi eram difíceis nos anos 90, mas, hoje, todo mundo tem um telefone. Quando vamos a um restaurante, tem umas cinco pessoas fotografando a gente", afirma. "Posso tirar a máscara, colocar uma camiseta, voltar a ter uma vida normal. Aprecio essa separação. Sou triplamente de escorpião. Gosto do mistério, de me esconder, de escolher cuidadosamente quando vou ser extrovertida", diz.
Segundo a análise do jornalista responsável pela matéria, enquanto conversa ao telefone, Björk fala por longos períodos, emendando um pensamento no outro (como já sabemos bem 😍). Para ele, este momento do bate-papo dos dois parece ter sido o que ela justamente escolheu para ser extrovertida: "Nas entrevistas, sempre parece que eu sei de tudo. Mas eu não sei", ela insiste. "Eu não sei!", enfatiza rindo de si mesma.