Pular para o conteúdo principal

Em entrevista, Björk fala sobre seu sotaque

Foto: Rankin (1995)

Em entrevista para a Dazed, em março de 1996, Björk foi questionada pelo jornalista Jefferson Hack sobre a permanência de seu sotaque. Ele disse a cantora: 

- É engraçado porque, quando você está falando de um jeito mais sério, sua pronúncia é mais britânica. Mas, quando está discutindo um assunto de modo mais emocional, soa mais islandês. 

B: É definitivamente assim! Acredito que o islandês é o meu instinto, enquanto que o inglês sou eu sendo inteligente. O islandês é o lado inconsciente, e o inglês o consciente. Quando falo em inglês, especialmente em entrevistas e coisas assim, vejo muito facilmente como sou por fora e me descrevo. Mas, eu teria que ser muito estúpida para não aprender esse idioma, pois tenho falado com a imprensa já há uns 900 anos. Para mim, seria impossível se fosse em islandês, pois quando ouço a mim mesma (sendo entrevistada) falando na minha língua pareço tão falsa, tão terrivelmente pretensiosa e a "senhorita sabe tudo". Fico querendo me estrangular. A mídia islandesa está furiosa comigo, porque dou uma entrevista lá a cada cinco anos. 

- Você sente que tem várias personalidades, nas quais pode mudar a qualquer momento para se adequar ao clima ou a ocasião? Como quando dá entrevistas, está com amigos ou se apresentando, ou sente que é muito mais organizada do que isso?

B: Acho que estou aprendendo a combinar tudo isso. Aliás, é do que se trata Debut e Post. Eu adoraria fazer música, e no dia seguinte me sentir como uma diva enquanto desço as escadas, uma rainha do drama, e aí depois criar canções punk. Tenho agido assim até agora, mas sinto que estou começando a me tornar várias coisas ao mesmo tempo. Não estou planejando nem nada, deixo fluir. Penso que todo mundo é meio que assim. É o meu alvo: combinar todas as coisas sem deixar nada de fora, pois é muito tentador que façamos isso, à medida que crescemos. 

--
Em novembro de 2017, a Uncut Magazine reuniu depoimentos de diversos colaboradores de Björk, que fizeram parcerias com ela ao longo de sua carreira. Um deles foi Marius De Vries

"Vez ou outra, ela me pedia por novos sons da seguinte forma: "Eu quero que soe como o topo macio de um coco" ou "Sabe quando a gente aperta um tubo de pasta de dente? Tem que ser assim". O melhor de tudo é que eu a entendia! Björk se comunica de uma forma maravilhosa, mas o inglês ainda é sua segunda língua. Por causa de sua dicção, algumas palavras se tornam únicas. Em uma ocasião, questionei a forma como ela cantou parte de uma frase em Possibly Maybe, lhe dizendo: "Não. Nós não falamos assim", e ela me respondeu: "Bom, eu falo". Ela não quer ser confinada pelas regras da língua. Existe uma inteligência feroz escondida por trás de sua poesia". 

--
Em 1994, em entrevista para um canal de televisão de sua terra natal, Björk falou sobre a escolha de manter a maioria das letras de seus discos em inglês. Aliás, é comum que ela primeiro escreva no islandês, para só depois traduzir ao inglês. Ela costuma descobrir muitos outros nuances das canções durante esse processo: "O Sugarcubes lançou apenas um disco em inglês, com uma respectiva versão em islandês. Mas na Islândia, as pessoas compraram apenas a versão em inglês. O que pareceu foi que valorizam mais o que vem de fora, do que a cultura local. Então, não fazia sentido continuar a produzir dessa forma. Custa muito dinheiro!". 

No entanto, nos shows que fez por lá, a cantora já se apresentou com versões de suas músicas em islandês. Alguns dos exemplos são a passagem da Vespertine Tour por Reykjavík (2001), e as performances no programa de TV Átta Raddir (2011).

Postagens mais visitadas deste blog

Björk diz admirar a coragem de Lady Gaga como artista

"Definitivamente, gostei de algumas das roupas que a Lady Gaga está usando.   Eu a admiro por sua coragem, tudo estava ficando muito chato. Era como se todo mundo estivesse sendo conservador, e ninguém quisesse correr qualquer risco. Amo coisas teatrais, acredito que todos nós temos um lado teatral e um lado não tão teatral.  Quanto a música dela? Não é muito a minha praia. Tipo, não estou julgando. Algo muito bom sobre a música (em geral), é que a gente pode ter todos os tipos de canções para ouvir. Tem espaço para tudo. Já notei que mesmo que as coisas tenham mudado muito, sempre parece haver lugar para um monte de cantores homens, não vejo ninguém tratá-los como se o que fizessem fosse um duelo.  Ainda é como no tempo de " Christina Aguilera vs. Britney Spears ". Não quero ser colocada em uma posição na qual tenho que atacá-la. Achei muito injusto quando M.I.A e Joanna Newsom foram questionadas sobre Gaga e, por não gostarem de sua música, viraram imediatament...

Debut, o primeiro álbum da carreira solo de Björk, completa 30 anos

Há 30 anos , era lançado "Debut", o primeiro álbum da carreira solo de Björk : "Esse disco tem memórias e melodias da minha infância e adolescência. No minuto em que decidi seguir sozinha, tive problemas com a autoindulgência disso. Era a história da garota que deixou a Islândia, que queria lançar sua própria música para o resto do mundo. Comecei a escrever como uma estrutura livre na natureza, por conta própria, na introversão". Foi assim que a islandesa refletiu sobre "Debut" em 2022, durante entrevista ao podcast Sonic Symbolism: "Eu só poderia fazer isso com algum tipo de senso de humor, transformando-o em algo como uma história de mitologia. O álbum tem melodias e coisas que eu escrevi durante anos, então trouxe muitas memórias desse período. Eu funcionava muito pelo impulso e instinto". Foto: Jean-Baptiste Mondino. Para Björk, as palavras que descrevem "Debut" são: Tímido, iniciante, o mensageiro, humildade, prata, mohair (ou ango...

Saiba tudo sobre as visitas de Björk ao Brasil

Relembre todas as passagens de Björk por terras brasileiras! Preparamos uma matéria detalhada e cheia de curiosidades: Foto: Reprodução (1987) Antes de vir nos visitar em turnê, a cantora foi capa de algumas revistas brasileiras sobre música, incluindo a extinta  Bizz,  edição de Dezembro de 1989 . A divulgação do trabalho dela por aqui, começou antes mesmo do grande sucesso e reconhecimento em carreira solo, ainda com o  Sugarcubes . 1996 - Post Tour: Arquivo: João Paulo Corrêa SETLIST:  Army of Me One Day The Modern Things Venus as a Boy You've Been Flirting Again Isobel Possibly Maybe I Go Humble Big Time Sensuality Hyperballad Human Behaviour The Anchor Song I Miss You Crying Violently Happy It's Oh So Quiet.  Em outubro de 1996, Björk finalmente desembarcou no Brasil , com shows marcados em São Paulo (12/10/96) e no Rio de Janeiro (13/10/96) , como parte do Free Jazz Festival . Fotos: ...

Björk fala sobre ter entendido o que é o patriarcado quando viajou para fora da Islândia

"Na Islândia, há pouca desigualdade de gênero. Somos sortudos. As mulheres ocupam cargos de responsabilidade, também na política. Com o Sugarcubes , por exemplo, fui tratada da mesma forma que os homens. Foi quando viajamos para fora do país que senti a diferença… Em certas situações em que fui objetificada, principalmente durante as sessões fotográficas. Fui tomada por um objeto: os fotógrafos mexeram no meu próprio corpo, me pediram para ficar em silêncio, passiva, para não me mover, para não mostrar minhas emoções. Então eu estava fazendo exatamente o oposto! Estava expressando muito as minhas emoções! Isso muitas vezes desconcertava os fotógrafos, que esperavam que as mulheres fossem passivas. Eu coloquei a música bem alta e transformei os ensaios em espaços de liberdade. Foi ali que acho que entendi o patriarcado. Nos meus clipes, tive a chance de trabalhar com pessoas que pensavam como eu, Michel Gondry , Spike Jonze ... Eles estão acostumados com mulheres fortes, não espera...

Hildur Rúna Hauksdóttir, a mãe de Björk

"Como eu estava sempre atrasada para a escola, comecei a enganar a minha família. Minha mãe e meu padrasto tinham o cabelo comprido e eles eram um pouco hippies. Aos dez anos de idade, eu acordava primeiro do que eles, antes do despertador tocar. Eu gostava de ir na cozinha e colocar o relógio 15 minutos mais cedo, e então eu iria acordá-los... E depois acordá-los novamente cinco minutos depois... E de novo. Demorava, algo como, quatro “rodadas”. E então eu acordava meu irmãozinho, todo mundo ia escovar os dentes, e eu gostava de ter certeza de que eu era a última a sair e, em seguida, corrigir o relógio. Fiz isso durante anos. Por muito tempo, eu era a única criança da minha casa, e havia mais sete pessoas vivendo comigo lá. Todos tinham cabelos longos e ouviam constantemente Jimi Hendrix . O ambiente era pintado de roxo com desenhos de borboletas nas paredes, então eu tenho uma certa alergia a essa cor agora (risos). Vivíamos sonhando, e to...