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25 anos de Telegram, a extensão de Björk para o álbum Post

Telegram, a coleção baseada nas canções de Post, foi lançada no final de novembro de 1996: "Acredito que os remixes não são respeitados o suficiente. Muitos deles foram incrivelmente criativos ao longo dos anos. Para mim, é como um dueto entre a pessoa com quem estou trabalhando e eu mesma", disse Björk em entrevista.   


Boa parte dos remixes de Telegram, já haviam aparecido como Lado B em alguns dos singles do disco original. Apenas The Modern Things e It's Oh So Quiet não ganharam novas roupagens. 

Björk escolheu o time de parceiros, incluindo Brodsky Quartet, Dillinja, Dobie, Graham Massey, Mark Bell, Outkast, Rodney P, Mika Vainio e Eumir Deodato. Todos tiveram total liberdade para entregarem o material da forma que desejavam. Além disso, a islandesa recriou You've Been Flirting Again. 

"Quando fiz o Debut aprendi muito e conheci muitas pessoas criativas. E algumas delas foram convidadas para remixar as canções do álbum, então muitas sementes foram plantadas, vamos colocar dessa forma. Assim que comecei a escrever e organizar Post, percebi que muitas vezes estava escrevendo coisas com pessoas específicas em mente. Daí meio que deixei espaços para outras versões.

Além disso, é importante para mim, quando faço um álbum, que tenha muitos ângulos emocionais diferentes, pois é assim que as pessoas são. Não entendo álbuns pop em que tudo é sexy ou legal durante o disco inteiro. Ainda bem que os humanos são um pouco mais complexos do que isso. Post tem muitos ângulos emocionais diferentes e esse álbum reflete isso. Considero importante que tenha um equilíbrio, que mude de música para música.

No Post eu flerto com essa ideia, mas em Telegram me dei a liberdade de ir até o fim com isso. Estou me entregando mais aos diferentes sabores do Post. É ainda mais egoísta porque vou até o fim. Mas tenho um daqueles empregos estranhos em que quanto mais egoísta você é, mais chances você tem de ser generoso por meio desse tipo de colaboração".

O álbum também inclui uma música inédita, My Spine, que quase saiu no Post. É uma colaboração com a percussionista escocesa Evelyn Glennie, que tocou marimba no show icônico do MTV Unplugged, em 1994:

"Eu fui até a casa dela em Oxford. Nós comemos muitos biscoitos e bebemos muito chá. Ela pegou os tubos/Exhaust Pipes e nós apenas inventamos essa música e gravamos em dez minutos. Ela é uma das pessoas que tive a sorte de conhecer. Uma percussionista incrível e das mais respeitadas no mundo".

Glennie começou a perder a audição aos 8 anos de idade. A situação se agravou aos 12. No entanto, isso não impediu sua performance como musicista. Em entrevista para PBS, afirmou que a deficiência auditiva é mal compreendida pelas pessoas, explicando que aprendeu sozinha a ouvir outras partes do corpo, o que influenciou em como ela sente a música. Em resposta ao que descreveu como reportagens imprecisas da mídia, publicou Hearing Essay e a palestra How To Truly Listen, nas quais discute o assunto. Saiba mais clicando AQUI

Ela e Björk também tem uma outra canção lançada, Oxygen, que apareceu em 1997 em uma coletânea de Glennie: "My Spine pertence a um grupo de faixas que Björk e eu escrevemos e experimentamos durante nosso encontro inicial. Eu digo "experimento" porque é exatamente o que fizemos no meu estúdio de gravação. A Björk foi seduzida por uma enorme coleção de instrumentos de percussão e o que decidimos usar? Tubos de escapamento de carros/Exhaust Pipes, que tinham sido feitos em casa!

O efeito deles junto a um Glockenspiel traz um som cru, agitado, semelhante ao de um gamelão, em contraste com a voz dela. O título veio simplesmente por gostarmos do som e da sensação das palavras My Spine. É muito difícil explicar o sentimento que temos quando encontramos alguém pela primeira vez. De alguma forma, a mágica acontece. Oxygen foi o primeiro experimento que Björk e eu fizemos em 1995. Tudo o que gravamos, com instrumentos e outros ruídos não refinados, mostra que foi um esforço totalmente espontâneo, sem "maquiagem" ou manipulação de qualquer tipo. É assim que gosto de fazer música. Por que Oxygen? Não tenho a menor ideia. Havia muita criatividade em um curto espaço de tempo. Qualquer colaboração é uma oportunidade de realmente ver, fazer perguntas e experimentar. Você sempre é uma criança", explicou Evelyn Glennie. 


Colaborações: "Música é como sexo. Por que fazer sexo sozinho quando você pode fazer isso com outra pessoa?", explica Björk. "Para mim, Telegram é realmente o Post também, mas lá todos os elementos das músicas estão apenas exagerados. É como o núcleo dele. É por isso que é engraçado chamá-lo de "álbum de remixes". Na verdade, é o contrário. "Telegram" é mais rígido, nu. Não tentando torná-lo bonito ou pacífico para os ouvidos. É apenas um disco que eu mesma compraria, é como uma carta para mim mesma. Mais ou menos: "Foda-se o que as pessoas pensam". É a verdade.

Acredito que os remixes não são respeitados o suficiente. Existem gravadoras tentando conseguir dinheiro ou fazer com que a música seja tocada nas rádios e boates, enquanto a maioria dos meus remixes certificam-se de que não estão!

Muitos remixes foram incrivelmente criativos ao longo dos anos. Nas duas últimas décadas do século XX... Bem, se me permitem, faria uma comparação com Bach. É meio parecido com a peça de órgão que ele fez. Ele nem mesmo escreveu todas as notas, para que quem as tocasse tivesse a liberdade de alterá-las. Então, toda vez que era tocada, era como uma versão cover. E então, temos o fenômeno no jazz. Por exemplo, com Round Midnight, podemos ter cinquenta versões diferentes disso, sabe. Estou falando da ideia pura de um remix e o que um remix pode ser.

Então, tenho até sentimentos engraçados sobre a palavra "remixes". É como se fosse algo reciclado ou coisa assim. Não sei como prefiro chamar... "Versão alternativa" ou "interpretação", é um pouco esnobe. Infelizmente, muitos tem a noção de que é algo de menor qualidade".

- Possibly Maybe: "Mark Bell fez esse remix. O álbum Frequency do LFO é um clássico. Eu poderia falar sobre isso sem parar. Ele fez vários remixes de Hyperballad para mim, e eu vejo isso como um fruto da nossa troca".

- Hyperballad: "Trabalhei nessa com o Brodsky Quartet. Há um lado dessa música que considero muito sobre a narrativa. A Islândia não tem nenhuma tradição musical real. São 500 anos de contação de histórias, a saga Viking e tudo mais. E eu vejo isso como um cruzamento entre a narrativa e a música de câmara. Pedimos ao Brodsky para regravá-la ao vivo conosco. E, claro, refizemos os vocais".

- Enjoy: "É uma letra sobre ganância, fala de como o que você tem não lhe é o suficiente. Você meio que precisa sair e conseguir o que deseja. Pedi ao Outcast para tornar isso ainda mais forte - na sonoridade -, para capturarmos a sensação da música".

- My Spine: "Ao desenvolver esse álbum, eu não queria que fosse apenas sobre remixes. De uma forma que o trabalho refletisse as colaborações que estava interessada, o que vinha fazendo nos últimos dois anos. Evelyn Glennie e eu usamos esses tubos para obter o som certo. Foi ótimo. Minha maior emoção na música, é poder colaborar com alguém com quem posso sentar frente a frente, tornando 1+1=3. Parece que quanto mais diferente é a pessoa com quem estou colaborando, melhor é para mim, porque pode me mostrar coisas que eu nunca vi antes e eu posso mostrar coisas que não sabiam".

- I Miss You: "Dobie, com quem trabalhei nesse remix, é um amigo do produtor Howie B. A sugestão de trabalhar com ele foi uma ideia do Howie, e estou muito satisfeita com o resultado. Tem um toque mais pop do que algumas das outras faixas, acredito eu".

- Isobel: "Esse remix é muito influenciado pela América do Sul. Tenho lido muita literatura sul-americana e também, com a minha mudança da Islândia para Londres e a batalha que a América do Sul teve no século XX de ser completamente primitiva e moderna ao mesmo tempo... Bom, essas foram algumas das influências. E a letra de Isobel é sobre alguém que é governado por instinto, mas está tentando sobreviver em um mundo sofisticado e ocidentalizado, que é controlado pelo cérebro. Chamei Eumir Deodato, com quem trabalhei no arranjo das cordas. Fizemos juntos, dividindo 50-50. Pedi para ele levar isso o mais longe possível, para fazer uma versão brasileira de Isobel. Tivemos uma orquestra de trinta peças e gravamos ao vivo. Nós fizemos os vocais novamente, em um grande estúdio em Londres".

- You’ve Been Flirting Again: "Eu fiz o arranjo de cordas da versão do álbum (Post), mas Deodato foi o diretor da orquestra. Deodato fez as cordas dessa (em Telegram), mas eu mesma fiz o remix".

- Cover Me: "Pelos quatro anos que vinha morando em Londres, toda a cena drum and bass realmente floresceu. Eu me sentia como uma mosca na parede vendo tudo acontecer. É um grande privilégio. Por exemplo, se você ouvir a era de ouro do bebop dos anos trinta e do jazz e todas as músicas que você ouve, e ainda conseguir escutá-las cinquenta anos depois... É um privilégio ser como uma mosca na parede observando uma cena nascendo. 

Eu chamei Dillinja, o meu favorito para trabalhar nisso. Eu acho que ele é o que o Public Enemy estava fazendo durante a era Bum Rush The Show ao receberem esse impacto emocional, aquela coisa bem direta. É tão bom quando alguém com um estilo musical completamente diferente do seu remixa sua música, há uma certa honestidade nisso, porque quando escrevemos uma canção, fazemos isso perfeitamente do jeito que queremos que seja, e então de alguma forma você se torna o material que será remixado por alguém na mesa de mixagem. Eu gosto disso. É tão honesto".

- Army of Me: "Escrevi essa com Graham Massey. Achei que ele poderia levá-la para ainda mais longe em um remix, sabe, deixando-o remixar uma música que ele próprio co-escreveu. Fiquei muito intrigada com a ideia e satisfeita com o resultado".

- Headphones: "Eu sou uma grande fã de uma banda de techno da Finlândia chamada Metri, que faz parte do selo Sänko. Acho eles tão brilhantes. Fazem algo novo e completamente criativo, quase inocente. Pedi a eles para fazerem o remix de Headphones. Achei que se encaixaria muito bem. Me enviaram de volta e se tornou uma das minhas favoritas no álbum". 

Capa: A imagem de Telegram é um dos registros mais lindos da carreira de Björk. A foto é de Nobuyoshi Araki: "Cada imagem dele é tão viva. Ele registra coisas muito obscuras, e ainda assim há uma vitalidade chocante nisso. Não são destrutivas. Seu trabalho me faz pensar em curtir a vida, gritando do topo de uma montanha porque o mundo é maravilhoso".


Fotos: Reprodução/Nobuyoshi Araki.
Fontes: Blah Blah Blah, The Telegraph, encarte do Greatest Hits de Evelyn Glennie, The Guardian, Index Magazine, site oficial, bjorkfr.

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