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Björk fala sobre o novo álbum, o filme "The Northman", a volta do show "Cornucopia" e NFTs

Ela não precisa de apresentação, mas quando Björk liga da Islândia para falar sobre seus próximos passos como artista, ela não se arrisca e diz: "Olá, meu nome é Björk", com uma voz inconfundível, que emocionou os fãs da música pop por mais de três décadas. 

Apesar de mais de dois anos ancorada com a família na Islândia e quase tanto tempo sem prazos artísticos iminentes, Björk parecia um pouco sem fôlego durante uma recente conversa telefônica direto de Reykjavík. Durante a ligação, ela estava caminhando do lado de fora do estúdio durante uma pausa nas gravações. Ela está dando os retoques finais em seu próximo disco de estúdio

As entrevistas para o LA Times e SF Chronicle haviam sido remarcadas, porque a islandesa precisou dedicar mais tempo para criação das canções: "Algumas pessoas com quem eu estava trabalhando tiveram COVID, então fizemos malabarismos com tudo o que estava planejado, porque estou tentando terminar meu novo álbum antes de ir para a Califórnia". 

O novo álbum será o primeiro dela desde Utopia, que saiu em 2017. O lançamento faz parte de uma discografia que ao longo dos anos lhe rendeu fama mundial e legiões de fãs dedicados, mesmo quando vagou cada vez mais longe do centro da música popular, com um tipo de som que desafiou o padrão das estruturas musicais. Possuindo uma voz imediatamente identificável, Björk sempre carregou uma grande vontade de aproveitar cada uma de suas facetas, criando uma obra incomparável. 

Nos Estados Unidos, ela retomará sua agenda de apresentações com os espetáculos Cornucopia e Orkestral em janeiro e fevereiro de 2022. As conversas com o LA Times e o SF Chronicle aconteceram no início de janeiro, quando a variante Ômicron já estava atrapalhando o tráfego aéreo global, lançando dúvidas sobre a possibilidade de se realizar os shows: "Mantendo os dedos cruzados. Veremos o que acontece", disse Björk.

Cornucopia, cuja estreia aconteceu em 2019 no The Shed, em Nova York, conta com uma série de colaboradores visuais, incluindo artistas multimídia e cenografia de alta tecnologia. Fundamentalmente, ela e sua equipe se uniram a designers de som que deram vida ao que imaginou para o concerto, O ambiente sonoro de 360º, um dos grandes destaques do espetáculo. 

A ideia é captar vocais ao vivo, com um sistema de som especial que lembre o clima intimista e envolvente de cantar em uma pequena sala. Tudo isso em um lugar maior, mas sem usar qualquer amplificação de palco tradicional ou processamento de áudio habitual. 

Na Califórnia, Björk estará acompanhada do coral Tonality: "Estou incrivelmente honrada e grata por tê-los comigo no palco!!! Escutei eles cantando minhas músicas nos ensaios e são simplesmente fenomenais!!! Mal posso esperar para todos ouvirem". 

Ainda este ano, Björk aparecerá em um grande filme, The Northman, com direção de Robert Eggers. Ela interpreta Seeress, uma bruxa eslava. 

- Dado o aumento mundial de casos de COVID causados pela variante Ômicron, você hesitou em retomar sua turnê Cornucopia

Já que todo mundo tem que ser vacinado duas ou três vezes, vou colocar nas mãos do seu governo (dos Estados Unidos). Mas do meu lado, eu deveria pelo menos dar o meu melhor. Fiz shows no outono na Islândia, que foram adiados sete vezes. Quando finalmente os fizemos, foi uma experiência extracorpórea para todos nós. E eu estava muito relaxada, porque os donos dos ingressos basicamente tiveram que renová-los sete vezes. Sinto uma certa obrigação com isso. 

Também sinto que durante o COVID, as pessoas estão sofrendo. E quando se trata de música e concertos, foi alucinante ver como a experiência é essencial para a condição humana. Foi muito poderoso poder fazer isso juntos. 

- Com os casos de COVID aumentando tão rapidamente nos EUA, você está preocupada que os shows não aconteçam?

Sim. Estou acompanhando as notícias dos Estados Unidos duas vezes por dia, meio que a cada minuto. Estou ciente disso, mas acho que também há regras que as pessoas não podem ir ao show a menos que estejam vacinadas. Então será, digamos, algo que as pessoas possam escolher por si mesmas se vão correr esse risco ou não. 

Foi muito, muito poderoso fazer os shows na Islândia no outono. Todo mundo estava chorando. Essa foi uma experiência muito, muito poderosa. Acho que todos nós realmente precisamos de shows. Acho que também é nisso que estou pensando, que vale a pena arriscar para quem quer correr esse risco. Eu quero estar lá para eles, para me juntar a eles na tomada de riscos porque acredito que a música é uma coisa que as pessoas não podem viver sem. Mas estou deixando que as autoridades da Califórnia tomem a decisão, o que quer que digam. 

- Normalmente, você não gosta de ficar em uma ideia criativa por muito tempo. Foi frustrante ter que segurar os shows de Cornucopia por dois, três anos? 

Para ser honesta, especialmente vendo o resto do mundo onde as pessoas estão sofrendo, não posso reclamar. Toda vez que eles adiavam os shows, eu fazia mais coisas do meu álbum. E então eles adiavam novamente, e então eu fazia mais coisas para o meu álbum. 

Eu me sinto abençoada porque estou na minha própria casa há dois anos. Eu continuo acordando na minha cama, e eu fico tipo: "Que porra é essa?". Eu não acho que estive tanto em casa desde que eu tinha, sei lá, 16 anos. Secretamente, estou gostando muito (de ficar em casa). 

Estou mixando o álbum agora, então consegui completá-lo por inteiro. Além disso, fiz shows aqui na Islândia. Fomos adiados sete vezes. Mas, para ser honesta, não estava abalando tanto a minha agenda porque o local das apresentações fica a cinco minutos a pé da minha casa. Se eles atrasassem um mês, tipo... não posso reclamar. Então, sim, fui uma das pessoas sortudas. 

- Durante sua pausa forçada, houve rituais ou novas rotinas que ajudaram você a se estabelecer? 

Aproveitei algumas boas festas nos momentos de maior restrição. Tínhamos nossos jantares e, no final, dançaríamos como loucos por uma hora em cima do sofá e ainda estaríamos na cama às 11. Eu meio que gosto disso. Acho que esse é o meu estilo de vida ideal. 

- O tédio de estar em casa inspirou uma explosão de criatividade para você como quando você tinha 16 anos, pouco antes de começar a banda Sugarcubes? 

Talvez seja diferente quando você é mais velha, porque é um luxo estar em casa. Acho que tenho o hábito de ficar muito animada com tantas coisas. Eu sou uma dessas pessoas que colocam muita coisa nas costas, então o que eu estava gostando mais era ter tempo para fazer uma música e depois ter outra ideia para outra música, não estar com pressa e apenas relaxar ou trabalhar com amigos. Deixar as músicas virem quando elas vierem, sabe, sem nenhuma pressão. Pode ser complicado ser guiada mais pelo que achamos que deveríamos estar fazendo do que pelo que queremos. Eu estava gostando de deixar isso de lado. 

- Dizem na internet que o álbum em que você está trabalhando, tem faixas para a pista de dança. 

Estou terminando o álbum agora, então definitivamente sairá esse ano. A descrição de que uma música começa devagar e, no último minuto, você pode dançar ao som dela que nem um louco, provavelmente se encaixaria na maioria dessas canções. Eu gosto de faixas que começam bem calmas e sombrias, em que conseguimos, sei lá, uma narrativa e tipo de elemento 'acústico folk'. Eu gosto de um pouco de dança, e então nos últimos minutos de cada música, podemos nos divertir e ir em frente. 

Isoladas por causa da COVID, a maioria das pessoas no mundo fazem da sala de estar seus próprios bares e baladas. E isso também aconteceu entre as gerações. Ainda é assim na Islândia. Quando viajo até as grandes cidades, sinto que as gerações estão bastante separadas. 

- As gerações se sentem muito separadas, socialmente, em Los Angeles. 

Na Islândia, se você for a certos shows e bares, irá fazer com que todas as gerações bebam ou festejem juntas. Mas Reykjavík tem apenas cerca de 150.000 pessoas. Se você está procurando por música eletrônica alternativa, ou se você gosta de heavy metal, as 100 pessoas que gostam disso serão de todas as gerações. 

- Como alguém que tem experimentado novas tecnologias há muito tempo, você acompanha o surgimento de NFTs, blockchain e noção de propriedade digital e se sim, é algo que você está interessada em explorar? 

Estou definitivamente curiosa. Eu nunca fui do tipo: "Vamos fazer isso apenas pelo objetivo de fazer novas merdas". Definitivamente, há coisas que eu abracei. Por exemplo, o touchscreen no Biophilia, que parecia que poderia realmente funcionar. Vulnicura foi perfeito como uma "ópera privada" na tela de Realidade Virtual. O isolamento que experimentamos quando usamos um equipamento de VR, realmente se encaixa muito bem. Levamos essa exposição para 20 cidades diferentes, e as pessoas estavam chorando com os headsets, então isso me fez sentir como se fosse um bom experimento. 

Mas ainda estou decidindo com este álbum. Ainda estou terminando o lado musical, então não é o melhor momento para responder a essa pergunta. No geral, porém, como a maioria das pessoas no planeta, estou gostando de estar em casa e criar raízes e ser visceral e palpável. É algo que está me afastando um pouco da tecnologia e mais vendo o corpo e as estações passarem, uma espécie de proximidade com coisas viscerais. Mas assim que eu mixar o álbum, passarei para o lado visual das coisas. Então vou ver o que parece tentador. 

- Este ano marca seu retorno à atuação com The Northman. O que te atraiu para esse papel e por que agora? 

Eu meio que fiz isso como um favor para um amigo. Não é realmente a minha praia. Fui abençoada com algumas ofertas ao longo dos anos, mas sou mais musicista do que atriz. Estou no filme por 30 segundos, é mais como uma participação especial. Mas foi muito divertido, e [o diretor] Robert Eggers é um gênio quando se trata de precisão histórica. Ele vem de um mundo real de arqueologia e antropologia, então é bastante autêntico na forma como aborda as coisas históricas. 

- Os shows em Los Angeles serão os seus primeiros fora da Islândia em mais de dois anos. Como é pensar em voltar depois de uma interrupção dessas? 

Na verdade, estou gostando porque como musicistas, acabamos trabalhando de um jeito um pouco linear. Você grava e depois faz uma turnê, e depois grava e depois faz uma turnê. É revigorante quebrar isso. 

- Quando você produziu Cornucopia pela primeira vez, a intenção era fechar a divisão entre o lado digital e o humano. O contexto mudou com a pandemia? 

Tanto eu quanto [a ativista ambiental sueca] Greta Thunberg temos um manifesto que lemos em Cornucopia, que gravamos três anos atrás, e eu estava pensando: "Talvez, eu precise mudar isso ou fazer algo a respeito". Mas para ser honesta, é ainda mais relevante agora. 

Talvez o impacto mais forte que teve em mim foi ver a reação de todos os governos combinados, a rapidez com que podemos mudar as coisas. O que vimos na pandemia é que, se os governos quiserem agir rapidamente, eles podem. Depois de testemunhar as negociações do acordo climático na Escócia há alguns meses, que Greta chamou de "blá blá blá" em um comentário posterior, acho que os dois manifestos no show de Cornucopia são ainda mais relevantes nesse momento. Precisamos agir agora e ter a mesma emergência em nossas ações ambientais como reagimos à pandemia. Espero que eles usem essa sabedoria que temos também para o meio ambiente. Talvez seja aí que minha cabeça está. 

Já que a humanidade pode reagir tão fortemente quando uma pandemia chega, devemos reagir da mesma forma na emergência que é a mudança climática e o meio ambiente. Acho que, de todo modo, a mensagem crítica é ainda mais relevante. 

- Entrevistas para LA Times e SF Chronicle, janeiro de 2022. 

Foto: Santigo Felipe.

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