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Ísadora Bjarkardóttir Barney fala sobre sua carreira como artista e o apoio da mãe Björk

Doa, também conhecida como d0lgur, é uma estudante, funcionária de uma loja de discos (Smekkleysa), cineasta, cantora e agora atriz. Em abril, estreia nas telonas no novo filme de Robert Eggers, The Northman. Ela interpreta Melkorka, uma garota irlandesa mantida em cativeiro em uma fazenda islandesa, que também gosta de cantar. 

O nome de batismo da jovem de 19 anos, é Ísadora Bjarkardóttir Barney

"Bjarkardóttir" reflete a tradição islandesa de usar nomes patronímicos ou matronímicos. Ou seja, o segundo nome de uma criança é baseado no primeiro nome de sua mãe ou pai. Assim, "Bjarkardóttir" significa o "dóttir" – filha – de "Bjarkar". Isto é, de Björk. E Barney vem do pai Matthew Barney, que nasceu nos Estados Unidos. 

Na nova edição da revista THE FACE, a artista falou sobre sua carreira. Ela vive entre Reykjavík e Nova York, onde nasceu em outubro de 2002. Confira os trechos em que citou a mãe, a nossa Björk. 

"Sjón e minha mãe são amigos de longa data, punks há cerca de 40 anos em Reykjavik. E de alguma forma, ela também já conhecia Robert Eggers da cena artística de Nova York. Quando ele veio para a Islândia, ela os apresentou um ao outro e fizeram um jantar em nossa cabana, que fica um pouco longe da cidade. Ela disse que tinha a sensação de que eles gostariam um do outro, que eles compartilham do mesmo respeito pela história. Ambos poetas à sua maneira. 

E estava certa! Então eles escreveram para ela alguns meses depois: "Nós temos um roteiro, você tem que estar nele". E ela ficou tipo: "Não". Depois falou: "Tudo bem, eu vou fazer isso. Mas minha filha pode fazer o teste?". E assim eu fiz, consegui (o papel) e foi incrível! Desde que eu tinha 13 ou 14 anos, eu sabia que queria levar a atuação a sério. E ela sabia disso. Então tem sempre me apoiado tanto! Era importante para ela que me ajudasse a realizar isso". 

Havia outras pressões também. Björk não gostaria de ser acusada de nepotismo e Eggers não gostaria de ser acusado de comprometer seu filme ao atender ao pedido. Doa teve que ganhar seu lugar no set.

"Absolutamente. Isso foi uma grande coisa. Assim como música, com filme, com as artes de estúdio com meu pai. São todos assuntos que eu estou muito, muito interessada. Eu posso me ver colocando minha vida para isso. E eu trabalho muito duro". Ao mesmo tempo, reconhece que: "Muitas pessoas trabalham muito duro. E eles não têm essas mesmas conexões, nas quais a gente precisa de alguém para nos apresentar para pessoa certa. Tenho muita sorte de ter isso".

Durante o filme, ela não contracenou com Björk, que fez apenas uma pequena participação: "Melkorka e a bruxa eslava não se cruzaram! No entanto, eu estava lá para ela em sua única cena e segurei sua mão. Ela também estava lá para a minha grande cena, e nós nos apoiamos naquele momento. Foi uma cena longa para se filmar! E ela foi uma campeã". 

Em novembro de 2020, Ísadora/Doa lançou no YouTube seu primeiro curta, ALMANAK, assinando todos os créditos da produção. 

"Inicialmente, seria algo apenas para a minha mãe, porque ela meio que me motivou a fazer isso. Ficou tipo: "Este poderia ser um bom presente de aniversário para mim, por favor, faça isso". Mas ela estava realmente fazendo isso por mim, porque ela sabia que eu precisava de um projeto para trabalhar, o que foi muito gentil da parte dela. Então também acabou sendo para mim. E então era estranho que as pessoas o vissem. Apenas pessoas no YouTube, mas que têm suas próprias interpretações, que são interessantes!". 

"ALMANAK" parece refletir como foi aquele período do lockdown para a jovem, que no momento estava longe de casa em uma cidade estrangeira, Belfast, enquanto filmava The Northman

"Eu estava fazendo muita terapia pelo Zoom, o que foi fantástico. Eu me sinto muito sortuda por ter acesso a isso. Eu estava apenas vendo meu terapeuta (online), e a enfermeira da produção de The Northman para fazer teste do Covid e ir trabalhar". 

Ela acha que a terapia deve ser um direito universal: "É uma ótima ferramenta e sou uma grande fã. Definitivamente, houve momentos na minha vida em que precisei muito, como com a separação dos meus pais, e depois em acontecimentos gerais. Mas então se tornou algo constante para mim". 

Na época da entrevista, Doa ainda não tinha assistido ao corte final de The Northman, então ela diz oscilar, semana a semana, em seus sentimentos sobre o quão bem (ou não) se saiu em seu primeiro papel profissional de atuação: "Estou definitivamente nervosa com isso, mas eu já era tão fã de Robert, mesmo antes de conhecê-lo. Então, se ele disse: "Ok, acabamos, vamos para a próxima cena", eu confio que ele conseguiu o que queria e que sua visão foi concluída. E isso é bom o suficiente para mim. Mas definitivamente eu estava sempre ciente de que não tinha experiência para poder fluir facilmente pelas cenas". 

Em 2021, Doa apareceu no Songs We're Sung, um álbum colaborativo no qual diferentes artistas de todo o mundo fizeram covers de músicas que foram cantadas para eles por seus pais quando crianças ou canções que, no geral, tiveram um forte impacto na infância. Disponível no Bandcamp, o projeto arrecadou dinheiro para o Refugees International. Ísadora fez uma versão de "81 de Joanna Newsom, uma faixa lançada em 2010 no disco Have One on Me. Ísadora também faz sua própria música, embora esteja se aproximando disso cautelosamente. Canta na banda FOOD, que leva as iniciais dela e de mais três amigos islandeses. Eles têm um álbum, que ela não sabe quando e se será lançado: "É mais um passatempo do que algo sério", admitiu. 

Sua própria música parece um pouco mais palpável: "Me encontrei com um amigo meu que acabou de se formar em um programa de produção musical aqui na Islândia, e estamos trabalhando na produção de uma das minhas músicas. Eu tenho esse grande arquivo de coisas que escrevi, que nunca pensei que veriam ou deveriam ver a luz do dia, porque eu meio que deixei isso para a mãe como coisa dela. Então eu realmente ainda não encontrei meu lugar como artista solo. Mas foi durante a pandemia que realmente comecei a desenvolver essas faixas. Não sei até onde vou com isso. Mas tem sido muito divertido trabalhar com esses meus amigos, que também estão começando e fazendo coisas muito, muito legais". 

Com certeza, ela ama Joanna Newsom. Encorajada pelo repórter a descrever seu próprio som, disse timidamente: "E eu amo Tirzah , Elsa Hewitt, Four Tet, Floating Points, Oneohtrix Point Never, todas inspirações para minha música. Acho que vocais indie, mas mais produção eletrônica. E um tanto sinfônico em escala. E então há algum tipo de vibe shoegazey. Sou exatamente a pior pessoa para fazer essa pergunta". 

Björk já escreveu canções inspiradas em seus filhos, incluindo Mouth's Cradle, I See Who You Are e Tabula Rasa (no sentido de uma "folha em branco"). Sobre esse último título, a islandesa disse na série de posts do Score Stories no final do ano passado: "É uma música que escrevi para a minha filha. Fala de assumir traumas geracionais e esclarecê-los, na esperança de dar às meninas o mínimo de bagagem possível para o futuro delas". 

"São presentes realmente especiais. Não vou mentir e dizer que não as escuto de vez em quando para sentir aquele... toque de mãe", disse Doa, radiante, depois de uma pausa tímida. "Mas, sim, é especial, com certeza". 

Mas há também a bagagem de ser, muito publicamente, parte dessa arte. A separação de Björk e Barney foi inicialmente amarga. Com o casal envolvido em batalhas judiciais pela custódia da filha, Björk também escreveu Sue Me. Na época, ela disse a um entrevistador belga: "Ísadora é o meu bem mais valioso... Mas o patriarcado... esse é o grande problema a que me refiro (nessa música)".  

"Acho que realmente escapei [da maior parte disso]. Eu estava muito bem protegida por tudo isso. Foi uma idade estranha, com certeza – eu tinha 11, 12 anos. Felizmente, eles são muito de nicho quando se trata de seu público!" diz Ísadora, alegremente. "Os colegas de 12 anos não estavam realmente ouvindo Björk ou olhando a arte de Matthew Barney! Então não era como se meus colegas estivessem conscientes disso, que era o que meus pais estavam preocupados. Obviamente, isso não aconteceu". 

Foi apenas alguns anos depois que ela se tornou "realmente ciente disso, E então foi, eu acho, interessante ter esse registro de um momento realmente doloroso", diz ela, corajosamente. "E, honestamente, acho que ajudou a humanizar a situação. É isso que os artistas fazem". Da mesma forma, como ela aponta, havia muito mais músicas e peças de arte sobre outras coisas na vida da família. "E são igualmente honestas e apaixonadas. Então é apenas uma delas. A essa altura, estou acostumada ao fato de que a vida de meus pais está arquivada no trabalho deles. E esse episódio foi outro ponto na vida deles". 

Questionada sobre quais os discos atuais mais vendidos na Smekkleysa, loja na qual ela trabalha por meio período, Ísadora respondeu: "Bem, temos toda a nossa seção islandesa. Vamos ver o que está acontecendo agora". Examinando as prateleiras, mencionou Sugar Coated DOOM, um disco de remixes do Sugarcubes com MF DOOM. "Quem teria imaginado isso?", ela diz rindo. O álbum é exclusivo e só está disponível em vinil, incluindo vendas online. É uma releitura/mash-up de Stick Around For Joy e da obra de MF DOOM pelo produtor Krash Slaughta. A loja é parte do selo fundado pelos membros do Sugarcubes. A entrevista via Zoom aconteceu diretamente de lá. 

"Doa traz várias coisas para o filme The Northman. Ela é uma das personagens que nos deixa entrar na experiência feminina da era Viking. É um filme de ação sobre um guerreiro homem, mas é importante ver todas as diferentes formas como as pessoas viviam no período, neste mundo. Sim, esses vikings navegaram por todo o mundo. Mas quem você acha que estava tecendo aquelas velas?", disse Robert Eggers para a publicação em um outro momento. 

Melkorka deve aparecer ao lado da personagem de Anya Taylor-Joy, Olga: "Doa foi a melhor pessoa para o papel de Melkorka, mas foi um processo de audição difícil", contou Eggers ao explicar que procurava um conjunto específico de habilidades vocais, com base em pesquisas dele e de seus colaboradores: "O consenso atual é que o canto nórdico antigo por mulheres do Século X teria sido esse tipo mais estridente", uma forma não muito diferente do canto folclórico báltico e eslavo contemporâneo como os chamados "kulning" na Suécia. "Então ela teve que trabalhar para cantar essa falsa música viking que escrevemos nesse estilo, o que ela nunca havia feito antes. E se comprometeu mil por cento. Tem a ética de trabalho e essa faísca". 

O que ele vê Doa fazendo em seguida? "O que ela quiser! Tanto ela quanto sua mãe têm a ética de trabalho que eu estava descrevendo. Você sabe, Björk é Björk. Ela se veste como você imaginaria que Björk se vestisse, mesmo se você estivesse dando um jantar casual. Mas isso não é uma persona pública – é completamente quem ela é. Doa também é ela mesma". 

"Desde o início, Doa era uma criança muito viva, inovadora e doce. Não devemos pensar em crianças que são filhas de indivíduos criativos, como pessoas que automaticamente também participarão apenas de atividades culturais. Mas, obviamente, quando se tem isso ao seu redor e você cresce nesse ambiente, definitivamente se torna uma opção para mostrar seu talento. E é isso que está acontecendo com ela. Melkorka é um espírito importante na história, que entra em um momento-chave. Foi tão lindo sentir essa continuidade de colaboração artística com alguém da família criativa de onde venho na Islândia", acrescentou Sjón

Atualmente, Ísadora está em em seu primeiro ano estudando artes em uma universidade na Califórnia, a Pitzer College, uma das sete instituições privadas altamente seletivas conhecidas como Claremont Colleges. Quando perguntada o que, especificamente, ela está estudando, disse: "É uma boa pergunta! Eu meio que estive em todo lugar. Mas, no final das contas, eu gostaria de ter um foco na atuação – possivelmente com um ponto de vista mais de produção, ter esse tipo de experiência. Mas tenho feito muitos cursos que me interessam, em assuntos que não têm nada a ver com isso também". 

Seu parentesco é apenas metade de sua história. A outra parte é tudo o que ainda pode se tornar. A matéria finaliza dizendo: "O que há em um nome? Tudo e nada. Mas Doa vai esculpir o seu próprio". 

Confira a entrevista completa clicando AQUI
Fotos: Collier Schorr/Divulgação. 

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