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A história do sapato e do vestido usado por Björk na capa do álbum Fossora

Em post no Instagram e em entrevista ao site da Carbfix, James Merry falou sobre o "Völubein Shoes", sapato que Björk usou na capa do álbum "Fossora":

"Madeira de bétula islandesa esculpida, prata maciço, basalto carbfix islandês⁣, tinta nanquim e cera de abelha⁣. Eu sempre quis criar alguns sapatos e finalmente me inspirei a fazê-los depois de uma visita ao National Museum of Ireland, onde vi esses brilhantes calçados "pattens" de madeira do século XV".
"Comecei a esculpir sem nenhuma forma particular em mente, mas depois de um tempo as peças começaram a surgir como uma espécie de híbrido entre uma vértebra de baleia, dentes molares e anatomia do osso do tornozelo. A parte superior que prende o pé no sapato é inspirada na "Tungljurt" islandesa, uma das minhas plantas favoritas da família das samambaias, que eu esculpi em prata 935 maciça".
"O nome "völubein" vem da palavra islandesa que descreve um pequeno osso de uma perna de ovelha, que foi usado historicamente como um brinquedo e como uma ferramenta profética de adivinhação. Desde o início, os materiais usados foram muito importantes para mim, quase tão importantes quanto o próprio design. Eu queria que todos tivessem origem na terra (de preferência na Islândia). Eu escolhi madeira de bétula como uma referência ao nome "Björk" (que em islandês significa "bétula"), e estava consciente de não usar nenhum produto químico ou substância tóxica em sua criação, polindo-os com cera de abelha local e tinta feita de carvão".
"A parte de "pedra" do sapato foi inspirada no trabalho incrível da Carbfix, que casualmente está salvando o planeta não muito longe de onde moro. Seu processo envolve a captura de dióxido de carbono da atmosfera, prendendo-o no subsolo em rocha basáltica porosa, da qual tive a sorte de obter algumas amostras para incluir no projeto. Então pedi ao escultor islandês Matthías Rúnar para colaborar comigo, e ele habilmente formou esses pequenos "ovos" com textura de cogumelo do basalto, que se encaixam na parte de trás do sapato".
"Este projeto não teria sido possível sem a generosidade e genialidade de Heimir Sverrisson, que foi fundamental para me ajudar a tirar a ideia da página de escultura digital para uma realidade física. O mesmo digo sobre David Schelchtriemen por sua habilidade e dedicação com a escultura em madeira, que foi feita tanto por uma máquina de Controle Numérico Computadorizado quanto à mão".

"Foi uma honra trabalhar com a Carbfix neste projeto, e eu gostaria de agradecê-los por serem tão generosos e abertos às minhas ideias quando os abordei no ano passado. Era um sonho meu incorporar algumas parte de sua ciência futurista no meu design, alinhando estética e filosoficamente com o que eu queria criar. Minhas visitas a sede deles em Hellisheiði sempre pareceram um vislumbre de um futuro otimista da ficção científica, e estou muito feliz por ter um pequeno pedaço dessa magia incluída no meu trabalho", finalizou.

"Estou orgulhoso dessa colaboração com James Merry e Carbfix. Na parte de trás dos sapatos, estão as peças ovos que cortei de uma amostra de Carbfix, que é onde o dióxido de carbono é bombeado para o solo e convertido em cristais que enchem as bolhas de ar no basalto" - Matthías Rúnar via Instagram.

"No Irma Studio temos uma regra: 'Nunca diga não a Björk e James Merry". Quando eles entraram em contato conosco falando sobre esse sapato, não tínhamos ideia do quanto isso ficaria bonito! A coisa mais fácil seria imprimi-lo em 3D isso e pintar, mas não é disso que se tratam esses sapatos e seu design. É tudo sobre materiais e artesanato!" - Irma Studio via Instagram.


"O material foi recuperado do subsolo como parte do estudo científico de referência que validou nossa tecnologia para mineralização subterrânea de CO2 capturado. Björk explicou em posts nas redes sociais que "Fossora" é uma palavra que ela inventou como o feminino de "fossore", que significa "escavador", então, em resumo, significa algo como "ela que cava". Desde 2012, a Carbfix capturou CO2 e o transformou em pedra no subsolo através de uma tecnologia que imita e acelera a maneira natural de armazenar CO2 na terra. Nós compartilhamos do profundo compromisso de Björk com a causa do combate às mudanças climáticas e tivemos a honra de fornecer uma parte de nossa tecnologia para acompanhar seu trabalho mais recente" - Carbfix via Instagram e site oficial.

A fotografia da capa de "Fossora", o videoclipe de "Atopos" e as fotos promocionais da era são de Vidar Logi. Sobre o amigo e colaborador, James Merry escreveu nos stories do Instagram: "É preciso um tipo muito especial de artista para assumir tantas referências, estilos, ideias e girar tudo isso junto sem forçar nada e ainda mantendo seu próprio mundo durante o processo. Eu te amo e estou tão orgulhoso de você. Muitas coisas boas por vir!".

O vestido:


O vestido que Björk usou na capa de "Fossora" é uma criação de Jisoo Baik. Em entrevista para Dazed, a estilista falou da inspiração por trás da peça e como surgiu o convite para a colaboração com a islandesa:

"Esse vestido faz parte da minha última coleção. O design é inspirado em ideias de segurança e proteção e tem uma silhueta muito distinta. É possível ver claramente que há uma mulher dentro dele, mas seu corpo está obscurecido, porque o design cria uma barreira protetora entre ela e o mundo. Se trata de criar um espaço seguro, feito para uma mulher misteriosa, forte e frágil, cuja coragem lhe permite agir com aventura mesmo diante do perigo.

Foi a estilista de Björk, Edda (Gudmundsdottir), que originalmente me contatou para colaborarmos. Fiquei incrivelmente honrada! Sempre me inspirei na imaginação, criatividade e coragem de Björk em experimentar a música, então o fato de ela ter escolhido minhas roupas significou muito para mim".

Embora a designer nunca tenha conhecido pessoalmente a musicista, ela sentiu como se sua própria prática criativa combinasse com a abordagem "extracorpórea" de Björk:

"Fui convidada para seu concerto orquestral no La Seine Musicale e pude sentir suas emoções em sua voz, passando de raiva, tristeza e alegria, de um sussurro a um rugido. Foi realmente tocante. Tudo – desde os instrumentais, roupas, palco e público – parecia harmonizado e interconectado, como se eu estivesse entrando em um mundo que ela havia criado".

Embora "o momento mais memorável tenha sido ver a capa do álbum pela primeira vez", foi essa experiência na plateia da turnê "Orkestral" em Paris que a atingiu mais profundamente:

"Percebi o quão destemida e experimental Björk realmente é, e acho que é a razão pela qual ela escolheu usar minhas roupas. Eu também estou constantemente trabalhando na criação de novos designs experimentais e fazendo o que quero sem medo".

Baik então conecta "Undo", uma das faixas de "Vespertine" (2001), com a identificação que sentiu com o trabalho da artista: "Essa música sempre me tocou e me confortou, me ajudando a escapar de minhas próprias inseguranças. Isso me fez sentir segura ao confrontar memórias e experiências difíceis. Toda vez que ouço essa faixa, sou tomada por sentimentos de calma, conforto e prazer. Eu adoraria que as pessoas se sentissem da mesma maneira quando vissem ou vestissem minhas roupas".

Fotos: Vidar Logi/James Merry/Divulgação/Reprodução.

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