Pular para o conteúdo principal

As histórias dos bastidores do novo show de Björk: Utopia Tour

FOTO: Santiago Felipe
De maquiagem e máscara, Björk e sua equipe revelam a história por trás da Utopia Tour.

Neste verão, a lendária artista islandesa caiu na estrada com um novo show. Em nova entrevista à Vogue na companhia de dois de seus colaboradores visuais mais confiáveis ​​- James Merry e Hungry, Björk comenta sobre o visual marcante da turnê e ainda discute a importância de suas colaborações.

Björk: O álbum "Utopia" é sobre exercitar o "músculo" em nós que imagina um futuro positivo, Em todos os momentos da história, sempre foi difícil imaginar o próximo estágio. Este álbum é uma tentativa de atingir isso.

James Merry: Eu a conheci em 2009. Nós temos uma amiga em comum em Londres que me apresentou quando ela estava procurando por uma assistente durante os primeiros estágios de pesquisa para o projeto musical educacional "Biophilia". Eu estou com ela desde então.

Björk: Uma das mais doces bênçãos da minha vida foi conhecer James. Ele tem esse ar de "tudo é possível" sobre ele, o que multiplica a minha coragem para fazer as coisas. Ele se tornou um dos meus amigos mais próximos e a criação de todos os meus visuais agora também vem de conversas com ele.

James Merry: Nós estamos sempre juntos nessas aventuras, seja uma turnê, uma filmagem, um novo álbum ou apenas a descoberta de um novo autor. Eu amo estar nessa energia exploradora e obsessiva com ela, sempre tendo uma nova emoção para compartilhar. Ela tem a capacidade de criar espaços realmente generosos e abertos em torno de seu trabalho. Ela também tem uma mente tão prática e completa. É sempre estranho para mim que a caricatura pública dela seja tão espaçada, porque em qualquer grupo ela geralmente é forte e pragmática. Ela é a pessoa que todos nós procuramos para conselhos.

Björk: Eu não acho que nós nascemos neste mundo para sermos como ilhas, estando separados uns dos outros. Eu também não acho as hierarquias muito atraentes, então eu sinto que quando você colabora, você deve tentar celebrar as forças um do outro. Na melhor das hipóteses, nessas colaborações, é possível enxergar um outro lado seu que você ainda não sabia que tinha, eu escrevo e organizo a maioria das minhas músicas sozinha, então já existe muita solidão no que eu faço. Quando se trata de trabalhar com os outros, especialmente na questão visual, geralmente fico ansiosa para essa junção.

James Merry: Nossa colaboração tem sido um processo bastante gradual. Comecei a trabalhar com ela como assistente e, gradualmente, ao longo dos anos, me tornei mais como um diretor visual co-criativo. Nenhum desses anos foi realmente igual ao outro, provavelmente é por isso que é tão divertido. Eu tenho a impressão de que muitas pessoas pensam que eu apenas faço máscaras para ela, mas na verdade isso é algo que só se desenvolveu relativamente recentemente.
Björk: Por volta de 2015, eu estava começando a fazer uma máscara para usar em um dos meus shows; eu estava procurando por referências, mas não tinha a paciência e o talento para fazer tudo aquilo sozinha e comentei isso com James, que ficou em silêncio e depois foi para seu quarto. Na manhã seguinte, ele me mostrou o que ele havia feito para mim: a incrível máscara de mariposa bordada que usei no Governors Ball Festival. Fiquei absolutamente encantada.

James Merry: O processo difere dependendo do projeto, mas em geral, ele se origina do mesmo lugar: referências compartilhadas, assistir a filmes juntos, falar sobre ideias em longas viagens de avião. Para as máscaras, cada um tem sua própria história. Eu geralmente tento absorver muita informação da Björk - não apenas na questão estética, mas também emocional, e que tipo de personagem ou humor é necessário para criá-la. Passo semanas construindo protótipos para mostrar a ela e se funcionar a gente faz ajustes finais para tentar acertar tudo.

Hungry: James me procurou via Instagram perguntando se eu estaria aberta para pintar um dos meus desenhos no rosto de Björk. Eles me convidaram para ir até Los Angeles, já que estavam em turnê por lá na época, e criamos algumas fotos de teste juntos, que acabaram sendo usadas na divulgação do novo disco.

Björk: Eu acho que Hungry é extremamente talentosa e possui sua própria identidade. É a minha teoria caseira que quando você tem certeza de si mesmo nesse sentido, então é forte o suficiente para colaborar com outras pessoas e ainda se virar.

Hungry: Ela constantemente me mostrava coisas para me inspirar e era muito aberta a novas ideias. Tudo começou por ela gostar de uma maquiagem floral que eu fiz já há algum tempo, um dos trabalhos mais bonitos do meu portfólio, e ela estava procurando um personagem romântico para "Utopia".

FOTO: Santiago Felipe

Björk: Eu sou bem específica sobre os visuais que estou procurando. A personagem deste álbum está em alerta e canta muitas letras hiper-românticas, então tinha que ter essa abertura. "Orquídea esquelética" foi uma das frases que usei para descrever o que estava querendo. É uma visão otimista, pós-apocalíptica, um lugar biologicamente fértil - para que todos possamos nos tornar mutantes, mas vivendo com a natureza e a tecnologia de uma maneira bem festiva.

James Merry: As máscaras que fiz para Björk e as flautistas surgiram de uma ideia que discuti com ela, que queria dar às flautas e a ela mesma uma silhueta e caráter diferentes, algo meio que envolvendo ficção científica. A estética da Utopia foi deliberadamente "crua e alienígena" e poderia facilmente ter se tornado algo muito floral ou bonito. Esses detalhes dão a impressão de que novos ossos estão surgindo da cabeça de todos no palco, e que os transformam em orquídeas. Eles estão em algum lugar entre o floral e o anatômico.

Hungry: Nós buscamos algo vibrante, orgânico e feminino: muito vermelho, muito blush e uma maquiagem forte nos olhos. Ocasionalmente eu usei as sobrancelhas Swarovski florais e algumas das minhas peças de pétala na parte do nariz.

Björk: Tem havido muitos momentos sublimes [durante esta turnê] porque a Europa no verão é sempre uma coisa tão florescente. Eu acho que com o aquecimento global causando tempestades e tempestades, e Trump visitando algumas cidades, os protestos e tudo o mais, fazia (o show) parecer (ainda mais) atual.

Hungry: Na primeira data oficial da turnê, em Londres, Björk tinha acabado de subir ao palco, e então caiu uma linda tempestade perto do local do festival. Vendo todos os aspectos do show junto da força da natureza bem ao lado foi como uma queda de pressão, uma maneira espetacular para se começar uma turnê.

James Merry: Estivemos em Helsinki nos mesmos dias em que o Trump foi encontrar com o Putin por lá. Parecia um verdadeiro choque de energias utópicas e distópicas. Saí para caminhar pela manhã e dei de cara com todo aquele esquema de segurança por cerca de duas horas. Tendo essa proximidade em uma turnê que é tudo sobre tentar imaginar uma solução matriarcal e ambiental para o futuro, tornou essa experiência um atrito memorável.

Björk: Desde o Eden Project até o show nas ruínas em Roma, fomos em busca de locais monumentais e únicos para nos apresentar. Eu sinto que o show na Suécia foi provavelmente o melhor, o que me senti mais livre e emocionalmente generosa, foi o mais natural, mas todos os outros também foram divinos de uma forma ou de outra.


FOTOS: Santiago Felipe

Postagens mais visitadas deste blog

Björk diz admirar a coragem de Lady Gaga como artista

"Definitivamente, gostei de algumas das roupas que a Lady Gaga está usando.   Eu a admiro por sua coragem, tudo estava ficando muito chato. Era como se todo mundo estivesse sendo conservador, e ninguém quisesse correr qualquer risco. Amo coisas teatrais, acredito que todos nós temos um lado teatral e um lado não tão teatral.  Quanto a música dela? Não é muito a minha praia. Tipo, não estou julgando. Algo muito bom sobre a música (em geral), é que a gente pode ter todos os tipos de canções para ouvir. Tem espaço para tudo. Já notei que mesmo que as coisas tenham mudado muito, sempre parece haver lugar para um monte de cantores homens, não vejo ninguém tratá-los como se o que fizessem fosse um duelo.  Ainda é como no tempo de " Christina Aguilera vs. Britney Spears ". Não quero ser colocada em uma posição na qual tenho que atacá-la. Achei muito injusto quando M.I.A e Joanna Newsom foram questionadas sobre Gaga e, por não gostarem de sua música, viraram imediatament...

Debut, o primeiro álbum da carreira solo de Björk, completa 30 anos

Há 30 anos , era lançado "Debut", o primeiro álbum da carreira solo de Björk : "Esse disco tem memórias e melodias da minha infância e adolescência. No minuto em que decidi seguir sozinha, tive problemas com a autoindulgência disso. Era a história da garota que deixou a Islândia, que queria lançar sua própria música para o resto do mundo. Comecei a escrever como uma estrutura livre na natureza, por conta própria, na introversão". Foi assim que a islandesa refletiu sobre "Debut" em 2022, durante entrevista ao podcast Sonic Symbolism: "Eu só poderia fazer isso com algum tipo de senso de humor, transformando-o em algo como uma história de mitologia. O álbum tem melodias e coisas que eu escrevi durante anos, então trouxe muitas memórias desse período. Eu funcionava muito pelo impulso e instinto". Foto: Jean-Baptiste Mondino. Para Björk, as palavras que descrevem "Debut" são: Tímido, iniciante, o mensageiro, humildade, prata, mohair (ou ango...

Cornucopia: Björk une conto de fadas e música em novo espetáculo

Foto: Ryan Pfluger “É como uma girafa albina bebê ": De acordo com Björk, é dessa forma que soam as flautas do show Cornucopia . No novo espetáculo da artista islandesa, sete flautistas a acompanham, todas mulheres. Ela mencionou esses animais como uma maneira de tentar traduzir a visão que ela tem de suas colaboradoras no projeto. "São bichinhos meio peludos e meio limpos ao mesmo tempo, mas não tanto quanto pensamos, já que na verdade (continuam sendo) girafas. Se é que isso faz algum sentido". Essa entrevista foi concedida durante uma pausa nos ensaios em um jantar com a cantora. A jornalista Melena Ryzik e Björk ficaram sentadas de frente para o palco durante o bate-papo.  A estreia das apresentações com ingressos esgotados no centro cultural The Shed , em Nova Iorque, foram anunciadas como a performance mais elaborada da cantora até hoje! O coral de 50 pessoas, a cabine de reverb feita sob medida, as projeções de vídeo hipnotizantes, o "som de 3...

Saiba tudo sobre as visitas de Björk ao Brasil

Relembre todas as passagens de Björk por terras brasileiras! Preparamos uma matéria detalhada e cheia de curiosidades: Foto: Reprodução (1987) Antes de vir nos visitar em turnê, a cantora foi capa de algumas revistas brasileiras sobre música, incluindo a extinta  Bizz,  edição de Dezembro de 1989 . A divulgação do trabalho dela por aqui, começou antes mesmo do grande sucesso e reconhecimento em carreira solo, ainda com o  Sugarcubes . 1996 - Post Tour: Arquivo: João Paulo Corrêa SETLIST:  Army of Me One Day The Modern Things Venus as a Boy You've Been Flirting Again Isobel Possibly Maybe I Go Humble Big Time Sensuality Hyperballad Human Behaviour The Anchor Song I Miss You Crying Violently Happy It's Oh So Quiet.  Em outubro de 1996, Björk finalmente desembarcou no Brasil , com shows marcados em São Paulo (12/10/96) e no Rio de Janeiro (13/10/96) , como parte do Free Jazz Festival . Fotos: ...

Björk e a paixão pelo canto de Elis Regina: "Ela cobre todo um espectro de emoções"

"É difícil explicar. Existem várias outras cantoras, como Ella Fitzgerald , Billie Holiday , Edith Piaf , mas há alguma coisa em Elis Regina com a qual eu me identifico. Então escrevi uma canção, Isobel , sobre ela. Na verdade, é mais uma fantasia, porque sei pouco a respeito dela".  Quando perguntada se já viu algum vídeo com imagens de Elis, Björk respondeu:  "Somente um. É um concerto gravado no Brasil, em um circo, com uma grande orquestra. Apesar de não conhecê-la, trabalhei com ( Eumir ) Deodato e ele me contou várias histórias sobre ela. Acho que tem algo a ver com a energia com a qual ela canta. Ela também tem uma claridade no tom da voz, que é cheia de espírito.  O que eu gosto em Elis é que ela cobre todo um espectro de emoções. Em um momento, ela está muito feliz, parece estar no céu. Em outro, pode estar muito triste e se transforma em uma suicida".  A entrevista foi publicada na Folha de São Paulo , em setembro de 1996. Na ocasião, Björk divulgava o ...