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Sonic Symbolism: Tradução completa do 1º episódio do podcast de Björk

Björk agora tem o seu próprio podcast! Nos episódios de "Sonic Symbolism", a artista descreve o processo criativo de cada um de seus álbuns em conversas profundas com amigos e colaboradores.

Clique AQUI para colocá-lo para tocar na sua plataforma digital favorita e confira abaixo a tradução completa do capítulo dedicado ao disco "Debut":

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Björk: Eu caminhava bastante ao ar livre, o que fazemos muito na Islândia. Caminhava até a escola em Fossvogur. E isso era por uns 40 minutos. Fiz esse trajeto dos 8 até os 12 anos. Naquela época, não importava o clima, a gente apenas caminhava até a escola. Era meio louco, sabe? Não era só eu que fazia isso, mas todos os meus amigos também. E isso meio que fez parte da construção do caráter. Havia nevascas ferozes acontecendo, e daí mesmo assim a gente ia a pé até a escola, entende? E no caminho, eu ia cantando. Isso era meio que o meu conforto. Quero dizer, obviamente, isso ainda era algo muito assustador para uma criança de oito anos. Lembro de momentos em que eu estava aterrorizada, sozinha, como se fosse eu contra todos aqueles elementos. E a gente apenas ia lá e fazia isso, sabe? Acho que comecei a cantar como se fosse a minha companhia. Se o tempo estivesse meio louco, bastava eu cantar mais alto, e então de alguma forma poderia me sentir tipo: "Ok, isso não vai me pegar! Irei fazer amizade com você, e este aqui é o meu espaço", e assim reivindicando espaço. Depois de fazer isso por 10 anos ou algo do tipo, a música da gente começava a tomar forma. Naquela época, eu não estava pensando dessa maneira. De jeito nenhum! Era apenas o mecanismo de sobrevivência que eu tinha.

Oddný Eir: Você está ouvindo "Sonic Symbolism".
Duna: Este é o 1º episódio.

Björk: A maioria de nós passa por fases em nossas vidas que levam cerca de três anos. E não é por acaso que, muitas vezes, esse é o tempo que se leva para fazer um álbum, um livro ou um filme. Nas conversas deste podcast, eu e meus amigos tentamos capturar quais humores, temperamentos e tempos estavam vibrando durante a criação de cada um dos meus 10 álbuns.

Quando me perguntam sobre as diferenças das músicas dos meus discos, acho mais rápido usar atalhos visuais. É por isso que as capas dos meus álbuns são quase como cartas de tarô caseiras. A imagem na frente pode parecer apenas um momento visual, mas para mim estão simplesmente descrevendo o som dele. Eu tento expressar isso com uma paleta de cores. As texturas dos tecidos, o que estou segurando, o ângulo da postura em que estou mostra a relação daquilo com o mundo. Além disso, o movimento da minha boca na imagem tenta compartilhar o clima geral do álbum. Talvez, possamos chamar isso de algum tipo de "Simbolismo Sonoro". Espero que vocês gostem.

- Calorosamente, Björk.

Duna: As palavras que descrevem "Debut" são:
Tímido.
Iniciante.
O mensageiro.
Humildade.
Prata.
Mohair (ou angorá: um tipo de fio semelhante à lã).
Bege.
Virgem (palavra também citada no press release do episódio).

Oddný Eir: Meu nome é Oddný Eir. Sou escritora e filósofa, e amiga de longa data de Björk. Começamos nossa amizade em 2008, quando trabalhávamos intensamente na proteção da natureza na Islândia, e tentamos aproveitar a energia natural de novas maneiras. E falando em energia, eu nunca tinha conhecido tal fonte de energia.

Em 2021, nos sentamos à beira do grande lago þingvallavatn, na Islândia, o local do primeiro Parlamento do mundo, onde tentaram pela primeira vez abrir espaço para a democracia, no ano de 900. E as mulheres vikings da época também reivindicaram seu espaço! Acho que lá também existe o lugar onde as placas tectônicas se encontram. Mas não estávamos falando de geologia ou de leis, estávamos discutindo o primeiro álbum solo de Björk, "Debut", que foi lançado em 1993.

Eu estava perguntando a ela sobre a pronúncia da palavra, "Debut", e ela certamente acha a palavra engraçada e absurda, estranha, depois de ter ouvido tantas vezes por tantos anos.

Björk: [pronunciando em islandês]

Oddny Eir: Pois é. "Debut".

Oddny Eir: Finalmente, mudamos a conversa para o inglês, talvez mais acostumadas a falar por horas em islandês, mas estávamos fazendo o nosso melhor.

Björk: Ok, inglês?

Oddny Eir: Inglês, por favor! Então, o "Debut"... Se você pudesse se lembrar do momento em que o trabalho ainda não estava presente, quando você de alguma forma sentiu que estava chegando... porque você descreveu para mim que durante esse processo, você de alguma forma sente o cheiro desse trabalho específico, o toque dele, a vibração. Hoje, é possível você agora voltar até lá e enxergar como ele surgiu?

Björk: Eu acho que de todos os meus álbuns, obviamente sendo esse o meu primeiro solo, foi o que provavelmente demandou mais tempo [para ficar pronto]. Então, meio que esse disco talvez era toda a minha vida até aquele momento. O total do tempo dele era um quarto de século. Então, quando ouço agora, parece até um pouco esquizofrênico. Mas isso é meio que porque tem um pouco de mim ouvindo jazz na casa dos meus avós, um pouco de mim ouvindo coisas na casa da minha mãe, e depois eu escrevendo melodias, caminhando sozinha. Então, foi uma espécie de cobertura daqueles 25 anos até então. Além disso, é claro, meu primeiro álbum saiu até bem tarde, se comparado a outros músicos.

Eu já tinha 27 anos, porque até então eu realmente amava estar em uma banda. Gostava muito dessa ideia de fundar uma editora, um selo em que pudéssemos publicar nossas próprias músicas, poesias e livros. E eu não queria sair por aí no mundo sozinha! Eu não tinha tanto esse tipo de ego, esses sentimentos. Mas eu acho que o que começou a acontecer antes do "Debut", é que eu tinha melodias cada vez mais fortes, as melodias que eu estava escrevendo, e eu não conseguia colocá-las nas canções da banda em que eu estava. Essas canções meio que começaram a ter vida própria, comecei a querer defendê-las e a dar-lhes o tipo de ambiente que mereciam. Então, estranhamente, talvez [até então] eu estivesse me enganando [de alguma forma]. Essa decisão surgiu por algum tipo de altruísmo, por querer ser a mãe das minhas melodias e fornecer a elas o ambiente que precisavam. E nesse sentido, começar a liderar tudo por conta própria, e começar a imaginar quais sons poderiam estar ao redor delas, e que tipo de mundo caberiam.

Acredito que meu primeiro instinto, que é muito diferente do de agora, foi porque eu estava em uma banda há 10 anos. Eram duas bandas diferentes, e sempre eram os mesmos instrumentos para cada música, o que é incrível, mas também pode ser muito limitante. Então, "Debut", para mim, também é um pouco como uma criança praticando exercícios, sabe? As cordas com sons de Bollywood, as seção de metais... Tudo aquilo era pensando tipo: "Não, eu posso ter tudo o que eu quero!". Como se fosse uma espécie de cornucópia ou um banquete [com múltiplos pratos].

Asi Jónsson: Eu sou Asi Jónsson. Naqueles primeiros dias, Björk estava ocasionalmente conosco na Graham Records, uma gravadora independente e uma loja de discos em Reykjavik. Me lembro das discussões de igual para igual que ela tinha com os clientes, vendendo discos, lavando o chão, limpando e fazendo tudo o que fosse necessário por lá. Desde então, trabalhamos juntos de tempos em tempos em vários projetos. E quando nos encontramos, sempre temos um diálogo interessante sobre os movimentos atuais da música e da cultura.

Björk: [falando em islandês].

Asi Jónsson: Olá, Björk. Bom te ver! Você pode me dizer como foi mudar da Islândia para Londres, você pode falar um pouco sobre isso, porque era algo que estava acontecendo ao mesmo tempo do álbum, não é?

Björk: Sim, foi uma decisão. Eu pensei que sempre viveria aqui na Islândia. Sabe, o que quero dizer é que muitos dos meus amigos queriam se mudar para o exterior. Então, a Islândia era muito pequena e claustrofóbica. Eu não achava nada disso. Eu gostava muito daqui. Mas então, tive que admitir para mim mesma que para fazer o tipo de música que eu queria fazer, eu precisava me mudar para o exterior. E uh, ter que fazer isso foi uma grande surpresa para mim! E então, eu me mudei em janeiro de 1993. Eu pensava tipo: "Se você tivesse me perguntado cinco anos antes, eu nunca faria um álbum de soul, porque eu pensava que isso era algo apenas para pessoas extrovertidas, extravagantes e não para mim", entende? E então, quando me mudei para Londres com meu filho de seis anos, foi meio assustador, mas também extremamente libertador, foi como estar em um ponto de escala, uma subida constante. E eu pensei que ficaria por lá por uns três anos, e então, eu voltaria para Islândia ou algo assim. Mas eu gostei mais do que pensei que iria. Sabe, eu, obviamente, tive muita sorte porque imediatamente estava cercada por pessoas muito criativas, e eu não estava desempregada, eu tinha muito trabalho. Então, eu era uma imigrante muito ocupada. E também, claro, sou eternamente grata à cultura inglesa, porque de alguma forma foi o berço da minha persona no trabalho. Foi aí que eu não era mais apenas uma criança, me tornei uma adulta, como uma musicista. E talvez essa parte de mim ainda seja um pouco inglesa. Mas foi uma época muito, muito libertadora.

Foi um tempo incrível em Londres. Na verdade, não me surpreende agora quando eles falam sobre os anos 90 em Londres como um momento especial e único. Eu pensei que era só eu tendo aquela explosão na minha vida! Mas na verdade foi extra, extra especial estar com Alexander McQueen, Leila Arab, Aphex Twin, Chris Cunningham, Hussein Chalayan e o pessoal da Dazed and Confused. O que quero dizer é que, havia muitas coisas que ainda existem, sabe? O tipo de pilar na cultura inglesa estava sendo criado nessa época. E eu fui "tecida" em meio a tudo isso.

Asi Jónsson: Ela fez alguns arranjos de instrumentos de metais, e estava experimentando com música eletrônica. Björk, ouvindo "Debut", se tem a impressão que os tempos eram empolgantes, e que a vida era divertida. Quero citar também algo que você já disse, quando mencionou que estava trabalhando em conceitos que não vieram à tona até os álbuns posteriores. O que quer dizer com isso?

Björk: Sim. Sim, acho que eu estava aprendendo a ter o meu próprio mundo musical, e aprendendo a ter orgulho disso. Foi difícil para mim como indivíduo, ser tão egoísta na época. Sabe, talvez por estar vindo de um background punk onde éramos muito do contra, egomaníacos. As estrelas do rock dos anos 80? Nós achávamos que eles eram vulgares, e ficávamos tirando sarro deles. Era tudo dentro do "faça você mesmo", e todo mundo se ajudando a lançar o próximo livro de poesia, ou a fazer cartazes uns para os outros, e todos voluntariamente distribuiam no [selo] Bad Taste. Então, eu venho muito desse tipo de espírito, desse tipo de ego dos anos 80 em que tudo era assim. Todos eram iguais. E acho que foi a melhor escola do mundo. Mesmo que eu tivesse ido para 10 universidades de música, elas não teriam sido melhores do que os 10 anos que eu estive com os Sugarcubes, porque eles eram professores incríveis dentro daquela banda, sabe, e cozinhavam.

Asi Jonsson: Sim.

Björk: É mágico como as bandas compõem com todos juntos. E quando funciona bem, é total um ponto alto, é algo que te dá fé na humanidade. O fato de que seis pessoas podem estar em uma sala e fazer uma música de três minutos juntos... é um milagre!

Asi Jonsson: Certo!

Björk: Mas então fazer isso por 10 anos... A gente fica tipo: "Ok, não é que eu queira ser uma megalomaníaca e fazer tudo sozinha, mas talvez [nesse processo de criação], eu também pudesse passar de seis pessoas para apenas duas, e então só comigo mesma. Daí o resultado seria 50% por 50%. Assim, cada pessoa teria mais espaço.

Asi Jónsson: Quando você estava se mudando para Londres e fazendo o "Debut", houve uma declaração de "despedida do rock", e do mundo do rock? Ou talvez o mundo do rock esteja vivo na música eletrônica experimental e na música com arranjos de metais?

Björk: Sim, acho que me mudar para Londres e fazer o "Debut" foi tão impulsivo para mim. Eu não estava ciente disso na época. Mas olhando para trás agora, e na verdade, não tirei essa conclusão até uns 10 ou 20 anos atrás... Foi quando eu lentamente comecei a perceber que aquilo era parte da Árvore da Família da música indie, que era como um ramo da Árvore da Música, com bateria, guitarra e baixo, sabe? E então houve outro ramo que seguiu outro caminho. E nisso era mais como Brian Eno e Kate Bush. Ela fez uma programação de canções incrível usando Fairlight, eletrônica, e depois sons associados e outras coisas, sabe? Esse é apenas um galho importante na árvore. É difícil imaginar agora, mas nos anos 80, isso de fato não era muito abordado na mídia. E muitas pessoas falavam sobre Kate Bush como se ela fosse uma pessoa louca, como se ela estivesse apenas possuída. Muitos ficariam envergonhados de dizer que ouviam a música dela em casa ou algo assim. Então, realmente existia esse tipo de ambiente. Olhando para trás agora, vejo que no ramo do rock foi algo mais patriarcal. E então eu diria que o lado mais eletrônico não foi apenas matriarcal, mas também queer, porque muitas dessas bandas como Soft Cell e tantos pioneiros da música eletrônica com vocalistas incríveis, eram gays.

Asi Jónsson: Sim.

Björk: E isso era como a música queer também, que é algo que estou começando a entender mais tarde, sabe?

Asi Jonsson: Sim.

Björk: Então, acho que talvez eu tenha encontrado um lar nesse lugar, sabe? Penso que é mais o meu galho na árvore. Acredito que no começo, eu estava me rebelando contra o outro ramo da árvore, mas sem saber exatamente contra o que eu estava me rebelando, o que muitas vezes é o caso. E então mais tarde, a gente meio que acaba por compreender isso, e aí dizemos: "Ah, ok, agora eu entendo!".

Eu imagino que talvez, inconscientemente, no "Debut", eu estava tentando mapear todas as diferentes categorias em mim. E talvez seja por isso que eu o chamei de "Debut", a estreia. E eu fiquei tipo: "Ok, este é o meu começo. É o meu marco zero". Um pouco de mim é Jazz, um pouco de mim está dançando alegremente ao som de músicas de Bollywood ou ritmos assim. Um pouco de mim é introspectiva, uma parte de mim sou eu andando pelas cidades e querendo chegar com o mundo de uma garota da Islândia, que tinha 27 anos. Alguém que queria mostrar o tipo de coisa pela qual ela estava passando, porque, sabe, naquela época não havia tantas letras assim sobre a vida das mulheres, ou das meninas que apenas estavam fazendo coisas normais [do cotidiano].

Tenho uma relação complicada com o Jazz, porque 90% do jazz, eu não gosto, mas há 10% que eu amo mais do que tudo. Na verdade, ao longo dos anos tive vários debates com amigos que amam Jazz. Temos tentado defini-lo, que é o que eu gosto. Acredito que gosto de jazz quando é mais africano ou mais folk. Principalmente quando se trata de musicologia, gosto que as notas sejam um pouco conflitantes, e não como se estivessem em um coquetel suave em Manhattan nos anos 50. Talvez porque essa não sou eu.

Asi Jónsson: Não é!

Björk: Também gosto de jazz quando é mais aberto à natureza, às raízes da natureza, porque eu sou obcecada por ela. Então, por exemplo, "The Inflated Tear" de Roland Kirk é uma das minhas músicas de jazz favoritas. E eu não entendia o porquê, mas compreendo melhor agora, pois é porque eles estão mais abertos às suas raízes na natureza! São esses tipos de acordes discordantes, mais caóticos ou meio punks.

Asi Jónsson: É interessante, o que você está dizendo sobre todos esses diferentes conceitos musicais de alta tensão com os quais você estava lidando na época. De certa forma, acho que o álbum "Debut" realmente capturou isso em termos de composição. Quero dizer, você tem músicas como "Come To Me", "One Day", e tem essas canções com arranjos de metais como "The Anchor Song", e aí "Aeroplane" e então também as faixas mais dançantes como "Violently Happy", "Big Time Sensuality" e "Human Behaviour". Inclusive, tem um sample em "Human Behaviour" que é creditado a Go Down Dying do músico brasileiro Antônio Carlos Jobim.

Asi Jónsson: Parece que a música brasileira também inspirou muito você durante esse período de tempo, no início dos anos 90.

Björk: Sim. Eu acho que de alguma forma, houve uma leve rebelião no fato de eu não me alinhar com uma espécie de "Western"***

***"Western" é um termo usado para descrever coisas, pessoas, ideias ou modos de vida que vêm ou estão associados aos Estados Unidos, Canadá e países da Europa Ocidental, do Norte e do Sul.

Björk: Sabe, não me alinhava ao tipo de patriarcado do rock dos Estados Unidos e da Inglaterra, a dita cultura de primeiro mundo. Desculpe, essas palavras são muito, muito grandes e feias.

Asi Jónsson: [risos].

Björk: Mas é que simplifica as coisas! Mas é isso, e eu juro a você que, naquela época eu não estava pensando em nenhum desses termos. Eu realmente não entendia. Eu funcionava muito, muito apenas pelo impulso e instinto. E eu acho que qualquer coisa que fosse, o que eu chamo de "Second World Music" (música do segundo mundo), o que provavelmente é errado dizer... Enfim, música de países que são semelhantes à Islândia, no sentido de que eles não se industrializaram até muito mais tarde, não até o Século XX. Então, eles ainda tinham contato com a natureza.

Asi Jonsson: Certo.

Björk: Mas eles ainda eram tão modernos! Então, eles não eram "países de primeiro mundo", vivendo na pobreza, mas estavam em algum lugar no meio disso. E o que eu acho que aconteceu é que essa é uma grande parte do mundo que não tinha realmente sido... Estava sub-representada, no início dos anos 90. E se você quiser colocar isso em uma categoria, é basicamente a América do Sul, Tailândia, Indonésia e Islândia, sabe? E todos esses países que não estão [na categoria de destaque], não compartilham o tipo de guitarra de três acordes da tradição masculina e cristã. Mas eles precisam de espaço ou algum tipo de representação. E eu realmente senti que esse era o meu mundo. E talvez, inconscientemente, valesse a pena eu dizer: "Ok, eu sou uma cidadã deste país, desta parte do mundo", e assim colocando um pouco de todas essas culturas diferentes. Além do mais, eu gostaria de dizer que parte disso era algum tipo de ideia feminista, porque o que realmente estava acontecendo muito com as mulheres na música na época, é que a gente poderia ser apenas uma coisa. Poderíamos ser uma cantora e compositora "séria", ou poderíamos ser a "líder sexy", mas não tínhamos permissão para ser como uma humorista ou mais sérias, ou desajeitadas, sabe? Existem muitas características diferentes.

Então, eu estava realmente focada em... Eu me lembro de ler meus diários nessa época. Escrevi muito repetidamente, que eu tinha o direito de em um dia ser boba, e no dia seguinte, inteligente e depois, bem-humorada. E feliz, triste, com raiva, vestida como uma palhaça, vestida como uma mãe, e vestida de um jeito sexy se eu quisesse, e aí como uma "pessoa techno" no dia seguinte. Então, era muito sobre essa declaração também! Ter acesso a essa diversidade como mulher, não ser identificada em uma coisa só, em um único papel. Para poder ser... Nós temos todos os Smurfs, mas existe apenas uma Smurfette. Era poder dizer: "Ok, eu quero ser todos os Smurfs." Sabe, essa é a minha rebelião.

Oddny Eir: A ideia da forma de um diário. A sensação de que as letras são uma espécie de diário. Na época, claro, construídas e poéticas. Talvez mais poéticas. Mas você escreveu um diário naquela época, é isso?

Björk: Sim. Comecei a escrever diários quando eu era adolescente. E sempre passei por muita coisa mesmo quando era adolescente. Acredito que era como uma forma de cura, ou mesmo que eu não chamasse assim naquela época, mas era mais como uma espécie de "ressonância" para apenas tentar entender como eu me sentia. Eu escrevia nos meus diários regularmente, algumas vezes por mês, desde que eu tinha, não sei, 16 anos ou algo assim. Ainda tenho todos. Tenho malas e malas cheias de diários. Mas acho que nunca pensei que iria usá-los.

Oddny Eir: Sim, porque eu pensei nisso como algo feito sem esforço. Tipo, olhando os textos, tem essa tentativa de capturar o espírito de uma conversa em algo como: "O que acontece quando você se relaciona com algo novo, quando você se relaciona com uma pessoa nova, quando você se relaciona com uma nova cultura ou algo que é esse espaço intermediário?". Então, é um pouco como diz o islandês antigo, aquilo que é chamado de "escrita mágica", que a gente coloca duas coisas diferentes juntas e isso, de algum jeito, abriria algo novo. A gente pode até não entender de alguma forma lógica, porque esses elementos juntos funcionam como um processo alquímico. A gente não entende muito bem como isso e isso combinados... como a sinergia disso se tornará algo totalmente diferente, e será a chave para toda uma dimensão. E o que estou descrevendo é na verdade a qualidade dos escritos místicos.

Björk: Bom, obrigada! Isso foi uma descrição muito bonita. Obrigada. Eu nunca pensei nisso assim, e não conhecia essa ideia de "escrita mágica", mas acho que descreve muito bem pelo menos o que estou tentando fazer. Mas a coisa toda é que, obviamente, eu sou mais uma musicista do que uma escritora. Então, às vezes sou muito desajeitada com as palavras, e às vezes demoro muito para chegar onde quero chegar. Mas acho que se eu tentasse descrever, agora, minha cabeça neste momento, teria que dizer que sim, concordo com você. Acho que, definitivamente, me beneficiei. Sabe, eu nunca planejei isso dessa maneira.

Oddny Eir: Não?

Björk: O fato de eu estar escrevendo diários por 10 anos até aquele momento... o que é muito tempo, sabe? E eu consegui de alguma forma, obter um pouco de essência de lá, e quebrar a casca, corromper. Quando apenas escrevemos sempre, e é algo sem sentido, mas então começamos a gostar de duas palavras dali que realmente importam. Olhamos para aquilo e pensamos: "Sim, isso representa como me sinto agora".

E além disso, eu fui abençoada o suficiente para que minha mãe decidisse fazer um álbum meu, algo como um disco infantil, quando eu tinha 10 anos, que foi lançado quando eu completei 11. Mas eram músicas de outras pessoas. Tinha apenas uma faixa que eu mesma escrevi. E o que foi mais mágico nisso foi que eu pude entrar no estúdio e ver a magia daquilo. E todos foram extremamente gentis comigo, ensinando, e me mostraram como tudo funcionava, gravaram minha voz e tocaram o resultado de todos os jeitos [para eu conhecer]. E eu fiquei tipo: "Uau, este é um lugar mágico!". Mas talvez o que não foi bom sobre essa coisa toda é que, porque eu era tão introvertida, isso quebrou a minha inocência. A minha ideia sobre mim mesma e sobre como eu existo no mundo. Talvez foi um pouco cedo demais, sabe? Eu ia pegar um ônibus e, bom, a gente percebe quando as pessoas estão nos observando. Quando se tem 11 anos de idade... eu não aconselho outros pais [a fazerem isso], mas quero dizer que tive sorte de estar na Islândia, então não me fizeram nenhum mal.

Me ofereceram uma proposta para fazer outro álbum, porque esse 1º se saiu muito bem, mas eu não queria isso, então eu recuei. Agora, acho que talvez fosse porque eu conhecia aquela árvore que eu já tinha começado a trabalhar, eu sabia que não fazia parte disso. Era como se fosse algum tipo de mentira, sabe? Eu senti que porque todos os adultos fizeram o trabalho [na produção do disco], que eu estava mentindo, porque eu era o rosto de algo que não era eu. Então comecei a estar em todas essas bandas, e isso foi incrível. Eu só queria estar com pessoas iguais a mim, que eram da minha idade. Fiz isso por uns 10 anos. Quando eu tinha 27 anos, meu álbum "Debut" finalmente foi lançado e cerca de 16 anos depois desse primeiro. Parte disso foi talvez porque, inconscientemente, pensei: "Agora estou pronta para esse ramo da árvore, essa árvore está madura o suficiente. Pode aguentar os adultos, mas sendo [a pressão] mais ou menos, é capaz de enfrentar o mundo por si só". E acho que tudo isso porque comecei a escrever minhas melodias, como uma estrutura livre na natureza, por conta própria, na introversão.

Oddny Eir: E pôde encontrar seu caminho. E aquilo tudo também já era como o seu caminho, sempre te levando para algum lugar, mesmo através daquele clima, sabe?

Björk: Sim, totalmente, e porque eu fiz isso por 10 anos antes de começar a participar de bandas e tudo mais, acho que a forma das minhas melodias são como árvores tortas, sabe? Elas são meio selvagens e também com muito espaço.

Oddny Eir: Bom, eu enxergo as árvores tortas, mas eu as vejo também como caminhos tortuosos, de alguma forma. O canto e a criação da melodia fazem parte da sua sobrevivência, quando criança, porque é algo como: "Eu me lembro que nós andamos por aqui uma certa vez, e é um longo caminho da volta até chegar em casa, e então até a escola, e tudo isso durante um clima ruim, durante o inverno". Então, é uma questão também de, tipo, sobreviver e tornar essa situação algo alegre, ao invés de ser uma experiência horrível. E então é compreensível a recusa, quando esse canto se torna apenas uma camada nas obras de arte de outras pessoas, e não mais o que é essencialmente para você. Para você, é mais do que isso. É mais uma questão de vida e morte até. Portanto, não pode ser comprometido como sendo apenas um canto ou apenas uma melodia. É outra coisa.

Björk: Sim. Obrigada! Isso é muito bonito. Eu acho que é também por isso que muitas das minhas melodias são de 80 BPM, porque essa é a velocidade que eu ando, e isso realmente explica muito. 

Oddny Eir: O que é isso? 8P?

Björk: 80 BPM.

Oddny Eir: O que é isso?

Björk: 80 batimentos por minuto.

Oddny Eir: Ah, sim! Ok.

Björk: Mesmo que eu escreva melodias, não estou andando na rua [naquele momento], mas quase sempre acabam sendo nessa velocidade.

Asi Jónsson: Eu já te disse antes, que de certa forma, eu sentia que esse disco era bem diferente do que estava acontecendo na cena eletrônica, ou na cena britânica naquela época. E lembro que mais tarde, você definiu que "Debut" é uma espécie de house music onde o ponto de partida é a composição. Isso foi feito assim, conscientemente, ou não?

Björk: Sim, acho que essa é uma maneira de ver isso. Sim, com certeza. Porque eu comecei a ir para os clubes/boates em 1988 ou 1989, comecei a ir para Manchester, para as raves de lá, e fiquei tipo: "Uau, essa é a minha música". Sabe, aquelas festas de Acid House, e a gente tinha que sentar, ouvir por oito horas uma música que não era incrível. E então, de repente, uma pessoa vinha às 4:00 da manhã e ficávamos meio que: "Uau". Essa pessoa vinha com o som de um sintetizador, e o lugar inteiro acabava por explodir [de tamanha empolgação], entende? Apenas pela inovação e originalidade daquilo.

De repente, aquela música estava se espalhando pelos clubes de uma forma mais social, com 20 pessoas dançando apenas com o som de um sintetizador, sabe? Tipo: [imitando os instrumentais]. Aquilo foi apenas um milagre para mim. E eu realmente me senti como: "Oh sim, eu encontrei o meu povo. Essa é a minha tribo". Mas o que não acontecia muito em '91, '92, '93, era que você teria pessoas escrevendo músicas com esse material.

Asi Jonsson: Certo.

Björk: Então, ter um narrador ou ter alguém para cantar, seria basicamente uma frase sendo repetida a música inteira. E se houvesse algo [no meio disso], o que também é muito libertador, todos estariam dançando. Mas a gente só queria mais o tipo de transe, a liberação da catarse, quando já se estava dançando por seis horas. O que quero dizer, é que foi apenas uma das coisas mais mágicas daquele período, de todos os tempos. Você poderia se vestir para sair para esses lugares, mas ainda assim também poderia ficar com a roupa completamente molhada e ainda aparentaria estar bem. É por isso que prendíamos o cabelo em pequenos coques, porque o cabelo poderia ficar completamente molhado, mas ainda poderíamos dançar, ainda estaríamos bem, sabe? E completamente suados. Então, eu acho que talvez olhando para trás, [nas músicas] eu dei uma voz [a essas situações], tipo: "Ok, aqui estou eu andando na rua, e estou tomando um chá, e eu estou"... Sabe, como colocar um personagem nisso, algo mais de narrador. E acho que a música provavelmente era bem abstrata, e nada verbal. Bastante introvertida para dar a isso algum tipo de extroversão de uma história.

Oddny Eir: Alegria, como em uma dança...

Björk: Uhum!

Oddny Eir: Por que foi importante? Você sentiu vontade de lembrar a si mesma e aos outros da alegria, ou gostou desse estado de êxtase, de alguma forma? Você sentiu que quando estava dançando em Londres... que lado emocional lhe faltava lá? Por que você teve que lutar por isso?

Björk: Sim, provavelmente foi uma combinação de coisas. Ok. Uma maneira de responder a isso é dizer que era a islandesa no exterior. Muitas vezes, vista como "a "poeta peculiar" e excêntrica que costumava estar ao lado do rei viking e o entretinha com histórias excêntricas. Que é meio sábia, e pode dizer a verdade, e ser divertida, e então ir para casa e não ser colocada em nenhuma batalha ou qualquer tipo de conflito". Então, acho que parte disso é por ser islandesa, e eu não posso nem pensar nisso [no contrário], porque é provavelmente a razão pela qual sobrevivemos a invernos por 1.000 anos. Se não pudéssemos enfrentar a escuridão e tomar decisões rápidas, basicamente morríamos. É por isso que no álbum há uma música chamada "Violently Happy", que é meio que a minha tentativa desajeitada de tirar sarro de tudo isso.

É quase como algo agressivo demais, sabe? Que você tem que ser feliz, para sobreviver! Mas também penso em outro nível, e isso sou apenas eu pensando alto agora, e principalmente, olhando de longe... Penso que havia uma certa exaustão daquele tipo de [cultura] gótico dark, que era obcecada por VoltaireAntonin Artaud e Bukowski. Todo esse tipo de "rock wagneriano", do Século XX, a revolução industrial morrendo após o universo da Segunda Guerra Mundial. E nós queríamos um novo universo, que era talvez o do Século XXI, que era mais biológico e tecnológico, onde se pode ter tecnologia e biologia trabalhando juntas, podendo deixar a estética industrial. Podendo deixar isso para trás, esse tipo de sangue e cemitério, suicídios e, sabe, vampiros. Quer dizer, ainda existe a escuridão, muita escuridão, mas é a escuridão de um buraco negro no espaço. É um novo ambiente, um novo tempo.

Oddny Eir: Na verdade, é mais como a natureza islandesa, um pouco dos extremos dos solstícios. Você sente a terra para lembrar a luz nos momentos mais sombrios.

Björk: Sim, totalmente!

Oddny Eir: Então, não entrar na escuridão pela escuridão, mas entrar na escuridão pela luz, de alguma forma.

Björk: Totalmente. E também, quanto mais velha fico, penso mais e mais na estética das duas guerras mundiais no Século XX, e em como muitos países tiveram que lidar com isso. Não apenas emocionalmente e psicologicamente e o terror e o trauma disso, mas também apenas a estética disso. E muitas coisas dos anos 80, musicalmente, eram como o fantasma de um fantasma, o pós-pós-pós-Segunda Guerra Mundial. Então, acho que havia algo sobre os anos 90 em Londres, que era sobre: "Ok, está acabado. Vamos começar um novo capítulo no livro", foi o prequel do Século XXI. Hoje, eu olho e fico rindo, gentilmente, com as capas de CDs dos anos 90, de música eletrônica. Muito daquilo era a fusão biológica e tecnológica, sabe? E não é uma escala humana. Porque a escala humana é como uma peça de Shakespeare, uma tragédia grega, todas essas coisas da civilização ocidental do Século XX. Para onde estávamos indo era na física quântica, a vibração dos átomos, o ônibus espacial, e pela primeira vez fora do nosso sistema solar, sabe? Onde destronamos o humano. O humano não é mais o personagem principal da história, ou algo assim.

E muitas vezes, a música era sobre isso. Por isso os solos de guitarra eram "ilegais", porque o humano não era mais o protagonista, o que é uma contradição em ser cantora. É tipo: "como a gente coloca a voz humana na música, onde não se tem um protagonista humano?". Sabe, colocando o cantor entre os animais, ou um dos instrumentos musicais, ou alguém introvertido.

Oddny Eir: Então você pensou sobre esse desafio? Ou foi mais intuição? Ou de alguma forma, foi esse desafio de colocar um elemento que poderia pertencer ao solo de guitarra? Desta maneira, colocar isso em uma nova música, poderia ser tão simbólico quanto ao sistema antigo, como acontece com o violão e a voz?

Björk: Não acho que eu estava ciente disso na época. E eu também era realmente introvertida, e não foi até muito tempo depois quando eu pude meio que ligar os pontos, e meio que ver por que eu fiz essa declaração, sabe? Acho que, provavelmente, poderíamos conversar por seis horas sobre a voz feminina. Claro, eu estava apoiando isso de alguma forma. E sabe, a minha avó era uma pintora amadora abstrata. Quando eu toquei "The Anchor Song" para ela, eu disse: "Oh, essa música é sobre essa sua pintura". E ela era uma mulher de poucas palavras, e disse: "Eu sei", e então nós nunca mais discutimos isso.

Quero ser gentil com a memória da minha mãe, mas ela também era de certa forma, a ovelha negra de sua família. E eu queria defendê-la, encontrar uma voz e ela não tinha. Parecia que ela tinha uma voz em sua vida, mas que ela me deu, sabe? Desde que eu tinha cinco anos, ela estava sempre me encorajando e talvez, às vezes, um pouco demais. E então, de muitas maneiras, eu tinha essas duas senhoras por trás de mim [me incentivando], o que é outra história.

Mas, só para citar um pouco uma certa situação para você, que é outra maneira completamente diferente de responder à sua pergunta... uma vez eu encontrei o Brian Eno e, estranhamente, foi o único ano em que ele escreveu um livro. Ele escrevia um diário todos os dias, e depois esse livro foi lançado. Ele me conheceu naquele ano. Nós fomos para a mesma sauna a vapor em Londres, e eu provavelmente saí na noite anterior, para 27 raves e nunca estive tão de ressaca em toda a minha vida. Me sentei em um dos lugares da sala da sauna a vapor, e estava tentando me recuperar. Havia, tipo, muito vapor! E em determinado momento, o vapor meio que baixou um pouco, e eu podia ver o rosto de Brian Eno. E a única coisa que ele me disse foi: "Percebi que em países que não têm muita hierarquia, as melodias saltam de uma forma muito anarquista, para cima e para baixo, e há muito espaço entre cada nota. Mas em países como Inglaterra e Japão, há um pequeno espaço entre as notas. Você concorda comigo?". E foi isso, a anarquia na Islândia foi algo assim. Essa foi a frase dele para quebrar o gelo comigo. E eu olhei para ele, provavelmente realmente de ressaca, e apenas disse: "Sim". Então a fumaça voltou e ele desapareceu. E, uh, ele colocou isso no livro dele. Foi muito engraçado! Mas é uma teoria interessante que talvez realmente faça sentido com o que você estava dizendo.

Oddny Eir: Sim!!!

Björk: E também acho que cantores que escrevem melodias parecidas comigo... Se você pudesse fazer esse tipo de melodia um galho da árvore, se colocasse os outros cantores no mesmo galho, poderia dizer que está rompendo com esse tipo de narrativa opressiva que é a civilização ocidental para as mulheres. E é tipo: "Você acha que eu vou até aí? Eu vou para o oposto!". E então eu vou avançar para aquele lado, e depois avançar para o outro lado. É meio que: "Você acha que me pega e me controla, mas não, você não me controla".

Asi Jónsson: "Sonic Symbolism" é uma co-produção de Mailchimp Presents, Talkhouse e Björk. Foi feito por Björk, Asi Jónsson, Oddny Eir, Ian Wheeler, Julie Douglas e Christian Koons.

Duna: Foi produzido por Chrstian Koons e editado por Christian Koons e Anna Gyða. Agradecimentos especiais a Derek Birkett, Catherine Verna Bentley, Zach McNees, Ævar Kjartansson e Duna Hrólfsdóttir.

Asi Jónsson: A música é cortesia da One Little Independent Records.

Tradução: Björk BR.

Fotos: Jean-Baptiste Mondino, Vidar Logi.




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